"Vou tirar um rápido cochilo e depois vou caçar aventuras por aqui". Foi isso que disse Axl antes de adentrar em seu dormitório. Pois então, ele mentira.
A confusão que o consumia por dentro jamais o deixaria tirar um cochilo em uma situação como aquela, e ele sabia bem disso. Disse apenas porque necessitava terrivelmente de ficar um pouco sozinho, para recolocar a cabeça no lugar. Em verdade, sua cabeça nunca esteve completamente boa, mas ele precisava, no mínimo, reorganizar suas idéias. Primeiramente: ele tinha proibido terminantemente que seus amigos usassem seus poderes, mas e agora que a vida de todos estava em risco devido a crise de sequestros e assassinatos, essa regra ainda seria válida? Ele mais que ninguém, sabia que aqueles dons são altamente destrutivos, mas poderiam eles salvar vidas? A última coisa que ele queria agora era a morte de algum amigo, de algum companheiro, então qual seria a decisão certa a tomar? Para chegar a conclusões como essa ele precisaria de bastante calma, coisa que há anos ele não tinha.
Suas crises de raiva pioravam a cada dia, e ele temia que um dia elas pudessem sair do controle e ferir alguém, principalmente alguém importante, como seus amigos. Mas se acalmar era desgastante, e ele não conseguia ficar calado, sem gritar, sem tremer, sem se ruborizar inteiro deste sentimento que o corroía pouco a pouco. A verdade era única: ele amava seus colegas do fundo do coração, mas era quase impossível de se perceber isso. A raiva, nos momentos em que se aflora, mata qualquer lembrança ou impressão de um mínimo afeto. Ele tinha ódio dessa guerra, por ser tão inútil e destrutiva. Tinha ódio daquilo que lhe desagradava, pois lhe dava vontade de gritar, bater, mesmo sendo uma coisa tão frugal e insignificante. Mas acima de tudo, tinha um profundo ódio de si mesmo, por não saber controlar o que sentia, por não saber nem o que sentia, por ser mais um cão perdido nos caminhos da vida, que mergulha em drogas e álcool para suprir seu vazio existencial que crescia a cada minuto em que sua vida parecia não fazer sentido.
Por fora, ele exala confiança e amor próprio, aquela deliciosa loucura de um espírito aventureiro. Mas por dentro, ele sentia um grande pedaço de nada.
Estirado na cama, esses pensamentos chicoteavam a sua consciência, que ganhava cada vez mais peso quando relembrava de todas as vezes que machucara alguém sem querer com suas palavras. Ele suava frio, e quando olhou sua aparência no espelho, assustou-se com seus olhos tão vermelhos quanto tomates.
Jurou para si mesmo que tentaria se acalmar, mas quando tentou-o, foi interrompido por uma música estridente do dormitório abaixo, então ele saiu de seu quarto, determinado a terminar com aquela música, pois ela só estava aumentando o sentimento ruim dentro de si.
- Kirk! Lars! - gritou ele, já no andar de baixo, batendo a porta daquela sala, que tremia devido ao barulho - Podem tocar mais baixo por favor!
Como suspeitado, o apelo não foi ouvido, o que já era de se esperar, pois o barulho estava tão alto que foi possível se imaginar "Será que naquela sala está havendo um ensaio ou uma tentativa de homicídio?" Sem querer saber a resposta, Axl teve uma ideia: ele subiria até o telhado, afinal Freddie dissera que "podiam ficar onde quisessem". Lá haveria menos barulho, menos pessoas, e caso não achasse uma solução, a altura do local era bem sugestiva para um...
Enfim, ele subiu as escadas ao mais alto ponto que conseguiu, onde abrira um alçapão e foi parar no local em que desejava. Sentou-se em um local qualquer, observando a vista que se estendia além do horizonte, e a calma que pensou que apareceria ali, obviamente não veio, e ele ficou indiferente em relação a isso. Por algum motivo, sentia-se constantemente observado, até que algo o assustou: uma mão em seu ombro.
- Axl Rose? O que você está fazendo aqui em cima? - perguntou o outro ruivo atrás dele
- Eu é que te pergunto, Dave Mustaine! - disse ele, incrédulo - O que você está fazendo em cima do telhado do castelo do Queen?
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A última nota do império
FanfictionEm um cenário onde cada músico dedicado ao rock possuí um poder paranormal, estes se veem em um contexto caótico de sequestros e constantes ameaças que desafiam a sua existência. Uma história mergulhada em ação e conflitos e melodias que retrata ess...