Capítulo 2

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O dia seguinte chegou rápido, e a primeira coisa que senti ao abrir os olhos foi um peso no peito. A cena da noite anterior com Adrian ainda rondava minha mente, me fazendo reviver cada olhar e palavra trocada. Eu sabia que encontrá-lo novamente seria inevitável, mas não imaginava que a tensão entre nós fosse crescer tão rápido, tão inesperadamente.

Me levantei devagar, a luz do sol invadindo meu quarto pelas frestas da cortina. Quando olhei no relógio, vi que ainda faltava um tempo antes de eu precisar ir para a escola. Me dei ao luxo de ficar um pouco mais na cama, refletindo sobre tudo. Alexandre havia mandado mensagem antes de dormir, e eu prometi encontrá-lo hoje à tarde. Depois de ontem, precisava vê-lo, talvez para tentar dissipar a confusão que Adrian tinha trazido de volta.

Levantei, peguei minha toalha e fui direto para o banheiro. A água quente ajudou a relaxar meus músculos, mas minha mente ainda estava inquieta. Enquanto me arrumava, pensava no que poderia acontecer se eu visse Adrian de novo hoje. Ele sempre foi intenso, mas a maneira como ele agiu ontem à noite me pegou completamente de surpresa. Não era só o garoto que conheci, ele parecia... diferente.

Depois de me vestir e pegar minhas coisas, desci para o café da manhã. Quando cheguei à cozinha, vi minha mãe conversando com alguém na sala. A voz masculina me fez parar por um segundo no corredor, já imaginando quem poderia ser.

Adrian.

Ele estava ali de novo, conversando casualmente com minha mãe como se nunca tivesse ido embora. Eu sabia que eventualmente ele estaria por perto, mas não esperava encontrá-lo tão cedo. Minha respiração ficou um pouco pesada, e hesitei antes de entrar na sala.

— Bom dia, filha. — Minha mãe disse com um sorriso, distraída enquanto mexia no telefone. — Dormiu bem?

— Dormi sim — Respondi, evitando olhar para Adrian diretamente enquanto me sentava à mesa. Mas eu sentia o olhar dele sobre mim, queimando.

— Estamos discutindo alguns detalhes da volta da família do Adrian para o Brasil — Minha mãe continuou, parecendo animada. — Acho que vai ser ótimo tê-los por perto de novo. E, claro, ele estará bastante envolvido nos negócios da família. Vai ser como nos velhos tempos.

"Nos velhos tempos." Aquela frase soou estranha. Como se nada tivesse acontecido nos últimos anos.

Adrian, que até então estava quieto, resolveu falar, sua voz cortando o silêncio.

— Bom dia, Kat.. — Ele disse, com aquele mesmo tom.

— Bom dia — murmurei, ainda sem olhá-lo nos olhos.

Eu podia sentir o ar pesado entre nós, mesmo que mamãe não percebesse. Quando finalmente me atrevi a levantar o olhar, nossos olhos se encontraram brevemente.

— Bom, eu preciso ir. Não quero me atrasar para a escola — Falei, me levantando rápido e pegando minha mochila.

— Ah, claro querida - Minha mãe respondeu, sem notar o clima estranho. — Nos vemos mais tarde.

Sem olhar de novo para Adrian, me apressei em sair pela porta. Assim que cheguei lá fora, respirei fundo, tentando me livrar da tensão que ainda me perseguia desde o momento em que o vi.

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Na escola, encontrei Lana logo no corredor. Ela, como sempre, estava cheia de energia, mas percebeu que algo estava diferente em mim.

— Você tá com uma cara estranha, o que aconteceu? — Perguntou, franzindo o cenho.

— Nada, só... coisas em casa, sabe? Adrian voltou — falei, tentando parecer casual.

— O quê? Adrian? Aquele Adrian? — Ela arregalou os olhos, desacreditada. — O que ele está fazendo aqui? Certeza que deve estar o maior gato, ele sempre foi lindo.

— Voltou com a família, vai ser meu vizinho de novo — Suspirei, sem querer entrar em muitos detalhes. — Mas não é nada demais.

Lana me olhou com desconfiança, mas resolveu não insistir. Passamos o resto do caminho até a sala conversando sobre outras coisas, minha mente ainda estava dividida entre o passado e o presente.

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Mais tarde, na saída, eu sabia que encontraria Alexandre, ja que combinamos de sair juntos. Vê-lo seria um alívio depois de toda essa confusão. Quando o vi, meu coração se acalmou. Ele estava encostado no carro, com aquele sorriso familiar.

— Oi, amor — O mesmo disse, me puxando para um abraço. — Tá tudo bem? Parece meio distraída hoje.

— Tô bem, só cansada — Respondi, retribuindo o abraço.

— Então vamos fazer algo pra relaxar. Que tal a gente dar uma volta por aí? — Alexandre sugeriu, sempre tão atencioso.

— Pode ser — Sorri, me sentindo melhor.

Entramos no carro e fomos até uma sorveteria. Ele me pagou um açaí e aproveitamos para passear na praça.

Muitas risadas entre nós eram ouvidas. O papo corria nos mantendo focados apenas um ao outro. Foi como se não houvesse mais ninguém ali.

— E como está o trabalho? — Pergunto.

— Difícil. Meu patrão está me cobrando demais, nada pra ele está bom. — O olho desolada. Alexandre trabalha em uma empresa de tecnologia, ele trabalha na contabilidade. Seu pai é pedreiro e sua mãe é dona de uma loja de roupas. Nossas vidas são totalmente diferentes mas isso não afeta nosso relacionamento. E, normalmente os pais querem que a filha conheça um homem que tenha muito dinheiro, mas meus pai não ligam para isso, eles falam que devo namorar com quem me faz bem.

— Você é o melhor no que faz. Não de ouvidos á ele. — Tento confortá-lo.

— E você é linda. — Rimos. — Vamos para a minha casa? Meus pais estão lá hoje.

— Claro.

Eu e Alexandre voltamos para o carro e fomos direto para a sua casa.

A mãe dele assim que me viu abriu um sorriso de orelha a orelha. Ela veio em minha direção e me abraçou apertado.

— Nossa como você fica mais linda a cada dia. Meu filho tem um bom gosto mesmo né? — Fico envergonhada. Dona Sônia é sempre tão gentil comigo.

O pai dele não estava, teve que sair mas voltaria logo.

Fomos para o quarto dele até sua mãe fazer um bolo.

— Não estava nos meus planos te trazer aqui hoje, então não liga pra bagunça.

— Fica tranquilo amor, meu quarto é muito pior. — Brinco.

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