Katherine
Faltam exatos 10 minutos para eu poder ir embora. Ultimamente a escola tem me deixado muito exausta e sem tempo, além disso, ainda com 16 anos meus pais me cobram constantemente para que eu esteja pronta nos meus 18 com o fim de que eu possa administrar a empresa da família.
— Vamos garota, já deu a hora! — Lana, minha melhor amiga me apressa enquanto arrumo os livros no meu armário.
— Pra que tanta pressa? Nossa. — Reviro os olhos, terminando de ajeitar minhas coisas.
Assim que já estava tudo no lugar, grudei no braço de Lana e fomos até a saída.
Em frente à escola, dou um sorriso ao ver o rosto de Alexandre através do vidro do carro, ele é meu namorado há quase um ano. Mal posso esperar para passar a tarde com ele, não é sempre que podemos estar juntos.
Me despedi da minha amiga e corri até o carro. Assim que o mesmo me viu, veio diretamente em minha direção e estalou um selinho demorado em meus lábios.
— Como é bom te ver minha gata. — Diz eufórico.
— Muito bom te ver também! Por que está aqui?
— Quis te fazer uma surpresa. Vamos, vou te levar pra sua casa. — Ele abre a porta pra mim.
Durante o caminho, fomos conversando e rindo sobre assuntos aleatórios.
Porém, ao chegar em casa, vejo algo que me desconcertou completamente.
Quando abro a porta e entro, meu coração dispara. Sentado na mesa, junto aos meus pais e uma mulher totalmente desconhecida, estava alguém que não via há anos, mas que jamais esqueci. Meu estômago revirou. "Não pode ser...", penso enquanto meu corpo congela por alguns segundos. O menino com quem eu havia crescido, o primeiro por quem senti algo, estava ali. Adrian, o garoto que fez parte da minha infância e que, de forma secreta, sempre me perguntei como seria se tivéssemos ficado juntos.
Todos notaram minha presença e de Alexandre. Adrian em específico olhou diretamente para mim, ele não esboçou reação alguma, apenas fixava seus olhos intensamente na minha direção. Logo após isso, seus olhos já não estavam mais em mim e sim em Alexandre, pude notar suas sobrancelhas franzindo.
Alexandre, ao perceber que algo estava diferente, entrelaçou os dedos aos meus, mas a tensão no ar era palpável.
— Amor? — A voz do meu namorado ecoou, suave, mas cheia de surpresa. Nossos olhos se encontraram, e me despertei.
Mas, com a mesma duvida propagando-se, o que ele fazia ali? E como explicar essa situação para Alexandre? Eu mal consigo respirar enquanto os dois mundos, o passado e o presente, colide de maneira abrupta.
— Filha, chegou cedo hoje. — Mamãe toma nossa atenção.
— Alexandre foi me buscar.
— Sentem-se com a gente. Estávamos falando sobre alguns assuntos das empresas.
— Das empresas?
— Sim meu amor, olha que notícia boa, Adrian e os pais deles vão voltar a ser nossos vizinhos! — O olho novamente. Sério? Adrian? Meu vizinho? De novo? Nossa...
— É...bem legal.
— Querida, por que não apresenta seu namorado pra ele? Ele também está namorando, essa é a Sofia. — Do lado de Adrian, sua namorada me da um sorriso forçado. Ela é bonita, não posso negar.
— Adrian, esse é meu namorado Alexandre, amor, esse é Adrian, um conhecido. — Meu namorado faz o bom grado de ir na direção do mesmo e apertar sua mão com um sorriso ingênuo em seu rosto.
— Desculpem vir assim de repente, não sabia que teriam visitas. — Alexandre diz apreensivo.
— Não tem problema meu bem, Adrian não é uma visita, é da família. — Mamãe o tranquiliza.
— Amor vamos subir? Preciso tomar banho. — Quero apenas sair daqui, está um clima tenso e desconfortável.
— Vou deixar vocês terem um tempo, te vejo amanhã minha linda, manda mensagem. — Ele responde apenas isso, vindo na minha direção e me dando um beijo.
Assim que Alexandre foi embora, fugi para o meu quarto sem dizer mais nada.
Tranquei a porta e joguei minha mochila na cama, encarando meu gatinho que dormia como se não houvesse o amanhã. As vezes confesso que só queria ser um gato.
Não consigo pensar em nada, apenas fui até o banheiro tomar um banho longo e relaxar.
Eu e Adrian éramos tão inseparáveis, fazíamos tudo juntos, tudo...Infelizmente ele teve que se mudar para a Inglaterra com seus pais quando eu ainda tinha 12 anos e ele 16. Apesar de ser bem mais nova, ele nunca me tratou com indiferença, sempre me tratou muito bem e me incluía em tudo. Eu gostava muito dele, ligava para ele todos os dias, mas, depois de um tempo ele parou de me atender, e isso me entristeceu por um tempo.
Assim que sai do banheiro e já havia me arrumado, sinto minha barriga roncar. Já está beirando as oito da noite, daqui no máximo meia hora o jantar será servido, mas não estou afim de jantar com eles.
Enquanto caminhava pelo corredor estreito em direção a escada para ir até a cozinha caçar algo para comer, meu coração ainda martelava no peito desde o encontro "desastroso" mais cedo. Depois de tantos anos, eu finalmente havia visto Adrian, mas tudo o que consegui fazer foi fugir. O peso da vergonha me pressionava, e agora, a única coisa que queria era se trancar no quarto e esquecer a sensação paralisante que tomou conta de mim.
Quando virei a esquina, no entanto, parei de forma inesperada. Ele estava ali. Adrian, encostado na parede, os braços cruzados e os olhos cravados em mim. Eu não esperava vê-lo de novo tão cedo. Definitivamente, não ali, no corredor, a poucos metros do meu quarto.
Senti a garganta secar.
— A gente precisa conversar. — A voz dele era baixa, mas carregada de algo que ela não conseguia decifrar.
— Não fala como se não estivéssemos sem nos ver a anos.
— Por que fugiu Katherine? — O mesmo diz é sério. Mas, só pude notar que Adrian não é mais aquele garoto de 16 anos. Agora ele é um homem, um homem extremamente lindo. Ele está mais alto, agora tem tatuagens, muitas tatuagens, até piercings tem, quem é esse cara? Nossa!
— Não fugi. Só não quis ficar lá, e como tinha acabado de chegar da escola tive que tomar banho.
— Você não é mais uma criancinha de 12 anos...virou uma mocinha. — Seus olhos me julgam de cima a baixo. E para piorar estou com um pijama de renda. — Não acha que está cedo para namorar? Quantos anos ele tem? Parece ser bem mais velho que você.
— Tem 19. E não estou nova para isso, cuida da sua vida.
Ele saiu da posição que estava e começou a dar passos até mim. Seus olhos não se desviavam dos meus. O mesmo ficou a centímetros do meu corpo, deixando seu perfume forte adentrar meu nariz. Ele se inclinou e com os seus lábios próximos aos meus ouvidos, disse:
— Agora...quem vai cuidar de você sou eu. Eu voltei pitchuca, estou aqui agora. — Seu tom sai baixo, quase como um sussuro, e suas poucas palavras fazem meu coração vibrar.
"Pitchuca" ele me chamava assim antes de ir, me trouxe muitas lembranças.
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Além Do Tempo
RomansaDesde a infância, Katherine e Adrian eram inseparáveis, devido serem vizinhos e seus pais terem empresas associadas. Brincadeiras no quintal, segredos compartilhados e sonhos de um futuro juntos marcaram seus primeiros anos. Mas, como o tempo e a vi...