X. Sombras do Coliseu

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Quintus

Em um acampamento militar menor, montado em uma colina distante mas com vista para a estrada que leva a Roma. A noite cai, e as primeiras estrelas já pontilham o céu escuro, soldados reunidos em torno de uma fogueira comentam as notícias que chegam da capital. Quintus, agora usando o disfarce de Cassianus  um soldado com aparência áspera e de baixo escalão, está entre eles, com barba espessa, cabelos desgrenhados e roupas simples. Ele adota uma postura relaxada, mas seus olhos observam com atenção cada expressão, cada palavra dita ao redor da fogueira.

A fumaça da fogueira sobe lentamente, iluminando os rostos dos homens. Há risos, vinho sendo passado de mão em mão, e o clima geral é de animação, pois a notícia da reabertura do Coliseu trouxe uma euforia que há muito não se via entre os soldados.

Um dos soldados com um tom animado, gesticulando com o copo de vinho na mão. 
O Coliseu está de volta, rapazes! Sangue na areia, carne esmagada! Ah, não há espetáculo melhor no mundo! E dizem que o próprio imperador estará lá hoje, assistindo bem de perto.

Outro soldado ri enquanto toma um gole de vinho — Commodus sempre gostou de espetáculo, Mas casar e reabrir os jogos no mesmo dia? Esse homem gosta de uma boa dose de drama!

Quintus, disfarçado como Cassianus, finge um sorriso e balança a cabeça em um gesto leve de concordância, mantendo-se discreto. Por dentro, entretanto, uma onda de amargura o corrói. Ele sabia que Gaia não teve escolha no casamento, que foi um ato de poder e controle por parte de Commodus, e agora o Coliseu  vira símbolo da brutalidade e do poder imperial . O  pensamento de que ela estava amarrada ao imperador o deixava inquieto.

O terceiro soldado com um tom de sarcasmo, olhando ao redor com desconfiança 
Gaia Annius... a última herdeira da linhagem Annius, casada com o imperador? Quem diria! Parece que Commodus achou uma maneira de calar a boca dos patrícios. Agora ele está amarrado ao sangue deles. —Ele ri. —Inteligente, não posso negar.

Quintus/Cassianus fingindo desinteresse, mas observando atentamente — Sim, inteligente... Se não fosse pela brutalidade, diria que ele foi muito estratégico. Casar-se com uma patrícia... e logo uma mulher que perdeu toda a família por causa de sua ambição. Parece que o imperador gosta de garantir a lealdade do jeito mais... direto.

Os outros soldados ao redor da fogueira riem, assumindo que Cassianus, como eles, vê Commodus apenas como um líder militar autoritário e um pouco excêntrico, ele sabe que precisa manter essa fachada de indiferença, mas por dentro sente uma mistura de ressentimento e impotência. Ele se lembra de Gaia, da última vez que a viu, e de como ela era uma jovem inteligente e determinada, alguém que nunca deveria ter sido forçada a uma vida de prisão.

— Bom a Gaia Annius, ou devo dizer... Imperatriz Gaia! Que ela sobreviva ao nosso ilustre imperador! — outro soldado respondeu erguendo o copo para um brinde.

Os soldados riem e brindam, mas Quintus apenas finge acompanhar, mantendo o rosto impassível, ele sabe que qualquer expressão de preocupação ou sentimento excessivo pode levantar suspeitas. Ainda assim, ele não consegue evitar que seus pensamentos retornem à jovem imperatriz, agora presa na teia de Commodus, e a maneira como o Coliseu que deveria ser um símbolo de grandeza  será usado para consolidar essa farsa de poder.

Um dos soldados em um tom mais sério — Mas dizem que nem todo mundo está contente com esse casamento. Há patrícios que ainda olham para Commodus com desprezo, como se ele fosse uma mancha no império. Talvez isso leve a alguma coisa... —Ele dá de ombros. — Ou talvez acabem todos na arena, servindo como parte do espetáculo.

Oaths of Revenge - Gladiador (2000)Onde histórias criam vida. Descubra agora