Capítulo 4: O Desespero de Mayara

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Capítulo 4: O Desespero de Mayara

Depois de tudo o que aconteceu, a situação no hospital parecia calma, mas dentro de mim e da minha mãe, havia uma tempestade. O som das máquinas monitorando meus sinais vitais contrastava com a respiração pesada de Mayara, que ainda estava ao meu lado, me segurando como se temesse que eu desaparecesse de vez.

Mayara: "NT, eu não aguento mais isso. Toda vez que você sai de casa, meu coração fica apertado, com medo de ser a última vez que vou te ver."

Ela limpava as lágrimas com o dorso da mão, mas elas voltavam a escorrer em seguida. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, cansados de tanto chorar e de tanta preocupação. Ela tinha razão em estar assim. Eu sabia o que minha escolha estava fazendo com ela, mas a realidade do morro não dava muitas opções.

Eu: "Mãe, eu não sei o que fazer... Se eu sair dessa vida agora, como a gente vai sobreviver? O que vai ser da gente?"

Ela me olhou nos olhos, sua expressão dura, mas ao mesmo tempo cheia de dor. Ela queria me tirar dessa vida, mas também sabia das dificuldades. No entanto, sua determinação de mãe falava mais alto.

Mayara: "Eu dou um jeito, NT. Eu faço qualquer coisa, mas eu não vou te enterrar, filho. Eu não vou perder você. O crime pode te dar dinheiro agora, mas ele também vai te tirar tudo, inclusive a sua vida."

Ela se levantou, respirando fundo, tentando controlar a raiva e a frustração. Ela andava de um lado para o outro no quarto, como se o movimento ajudasse a processar a dor.

Mayara: "Eu já vi mãe enterrando filho, NT. Já fui ao velório de tantos jovens do morro que seguiram por esse caminho, e eu sempre rezei pra não ser você. Mas cada dia que passa, eu sinto que tô mais perto de te perder."

Minha mãe, sempre tão forte, agora parecia quebrada. Ela sempre foi o pilar da nossa casa, aquela que mantinha tudo de pé mesmo quando o mundo desabava. E agora, eu via que estava tirando o pouco que restava de força dela.

Ela se virou para mim, mais uma vez me encarando com aqueles olhos que sempre me faziam sentir como uma criança.

Mayara: "Eu sei que você quer o melhor pra mim e pro seu pai. Eu entendo que você entrou nessa pra não deixar a gente passar fome. Mas não vale a pena, NT. Eu prefiro a gente passando necessidade do que ver você morto ou preso. O que eu vou fazer se algo acontecer com você?"

Eu não tinha resposta. O peso das palavras dela caía sobre mim como um fardo ainda mais pesado do que qualquer responsabilidade que eu já carreguei. Tudo o que eu queria era protegê-los, mas ao mesmo tempo, sabia que estava os destruindo.

Eu: "Mãe... eu vou pensar... eu vou tentar encontrar uma saída."

Ela se aproximou de novo, sentando ao meu lado na cama, pegando minha mão entre as suas.

Mayara: "NT, você sempre foi forte, sempre cuidou de tudo. Mas agora, eu quero cuidar de você. Deixa eu te ajudar a sair dessa. Vamos juntos, filho. Você não precisa carregar tudo sozinho."

Eu senti meus olhos encherem de lágrimas, mas segurei, não queria chorar na frente dela. Desde pequeno, sempre tentei ser o mais forte possível para a minha família, mas ali, naquele quarto de hospital, com três balas ainda frescas no meu corpo, eu me sentia mais frágil do que nunca.

A porta do quarto se abriu e meu pai entrou. Ele sempre foi mais calado, mais observador. Não gostava de discutir nem de impor nada, mas eu sabia que ele estava tão preocupado quanto minha mãe.

Pai: "Mayara, deixa o menino descansar. Ele acabou de sair de um tiroteio, não é hora de mais tensão."

Mayara suspirou e assentiu, mas antes de sair do quarto, ela se virou mais uma vez para mim.

Mayara: "NT, só me promete que você vai pensar no que eu te disse. Eu não tô pedindo pra você resolver tudo agora, mas só pensa. Eu te amo, meu filho."

Ela me deu um beijo na testa e saiu, deixando o quarto em silêncio. Eu fiquei deitado, encarando o teto, ouvindo as palavras dela ecoarem na minha cabeça. A vida no crime tinha me dado o que eu precisava para sobreviver, mas a que custo? Será que valia mesmo a pena?

Eu sabia que tinha decisões importantes para tomar, mas naquele momento, a única coisa que eu podia fazer era descansar e tentar encontrar um caminho que não destruísse tudo ao meu redor.

Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora