Capítulo 7: O Orgulho de Mayara

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Capítulo 7: O Orgulho de Mayara

Os dias que se seguiram à minha decisão de voltar aos estudos trouxeram uma mudança perceptível em casa. Minha mãe, Mayara, que sempre foi rígida e preocupada com o rumo da minha vida, começou a me olhar de maneira diferente. Os tapas e gritos que antes eram uma tentativa desesperada de me tirar do crime foram substituídos por um sorriso orgulhoso e gestos carinhosos. Era como se ela finalmente enxergasse uma luz no fim do túnel.

Numa manhã, enquanto eu terminava de me arrumar para sair, ouvi sua voz vinda da cozinha.

Mayara: "NT, vem cá, meu filho. Quero te mostrar uma coisa."

Fui até a cozinha, onde ela estava preparando o café. A mesa estava posta, e o cheiro do pão quentinho recém-saído do forno enchia a casa. Quando me aproximei, ela me abraçou, me dando a bênção, como sempre fazia.

Mayara: "Deus te abençoe, meu filho. Eu tô tão orgulhosa de você."

Eu fiquei surpreso com suas palavras. Não era algo que ela dizia com frequência, pelo menos não daquela forma. Seus olhos estavam cheios de emoção, e eu pude ver o alívio que ela sentia por finalmente me ver seguindo um caminho que não envolvia tiros e risco de morte a cada esquina.

Eu: "Valeu, mãe. Eu sei que te fiz sofrer muito, mas tô tentando mudar. E eu vou conseguir, vou te dar muito orgulho ainda."

Ela sorriu e me fez sentar à mesa. Colocou uma xícara de café na minha frente e sentou-se ao meu lado. Durante o café, ela começou a falar sobre a vida dela e sobre como sempre teve esperanças de que eu encontraria um caminho diferente.

Mayara: "Eu sei que você entrou nessa vida porque queria ajudar a gente, NT. Seu pai e eu sempre soubemos disso. Mas ver você correndo perigo todo dia… não tem nada mais doloroso pra uma mãe do que ver o filho se arriscando assim."

Eu sabia que aquelas palavras vinham de um lugar de amor e preocupação. Eu sentia o peso das escolhas que fiz, mas agora eu estava determinado a mudar essa realidade, para ela, para meu pai, e também para mim.

Eu: "Mãe, eu tô guardando dinheiro. Vou pagar meus estudos, e quando eu me formar, vou sair dessa vida. Vou ser arquiteto, e a gente vai viver tranquilo. Eu prometo."

Ela segurou minha mão, apertando com força, como se quisesse me transmitir toda a força dela.

Mayara: "Você já me enche de orgulho só de ter tomado essa decisão, meu filho. Eu sempre soube que você tinha um futuro grande, mas é você que precisa acreditar nisso."

Naquele momento, algo dentro de mim se solidificou. O apoio da minha mãe, a confiança que ela depositava em mim, tudo isso me deu mais forças para continuar. Eu não podia decepcioná-la. E, mais do que isso, eu não podia decepcionar a mim mesmo.

Os dias foram passando, e a rotina de estudar à noite e trabalhar na boca continuava. O dinheiro que eu ganhava era sujo, mas me permitia sonhar com um futuro limpo. E cada vez que eu via o olhar de orgulho no rosto de Mayara, eu sabia que estava no caminho certo.

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Uma tarde, enquanto eu me preparava para sair para a boca, minha mãe entrou no quarto com uma sacola. Ela parecia emocionada, mas não disse nada. Apenas entregou a sacola nas minhas mãos.

Mayara: "Abre. É um presente."

Eu abri a sacola e vi um caderno novo, daqueles bonitos, com capa dura. Havia também uma caneta de ponta fina, e eu sabia que aquilo não era só um caderno qualquer. Era o símbolo do apoio dela aos meus estudos, aos meus sonhos.

Eu: "Mãe…"

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela me abraçou de novo, mais apertado desta vez.

Mayara: "Esse caderno é pra você começar a desenhar as casas que vai construir no futuro, filho. Eu sei que você vai ser o melhor arquiteto que esse morro já viu."

Eu ri, emocionado com o gesto dela. Peguei o caderno e prometi que ele seria o início de algo grande.

Eu: "Vou desenhar o nosso futuro aqui, mãe. E vai ser lindo."

Ela sorriu e me deu um beijo na testa, como sempre fazia. Aquele gesto, que antes eu só aceitava de meus pais, agora tinha um significado ainda maior. Eu sentia que estava, finalmente, construindo algo que faria todos nós felizes e orgulhosos.

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Com o apoio de Mayara, cada passo que eu dava parecia mais firme. O caminho ainda era longo, e o crime ainda fazia parte da minha vida. Mas agora, pela primeira vez, eu sentia que tinha algo maior me esperando. E, acima de tudo, eu sabia que não estava sozinho nessa jornada. Minha mãe estava comigo, e isso era tudo o que eu precisava.

Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora