Capítulo 6: Um Novo Começo

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Capítulo 6: Um Novo Começo

Depois da conversa com minha mãe, uma nova chama foi acesa dentro de mim. Era como se, pela primeira vez, eu tivesse uma direção clara. Claro, eu ainda estava no hospital me recuperando dos tiros, mas isso não era o suficiente para apagar minha determinação. Eu sabia que a caminhada seria longa, mas cada passo que eu desse me aproximaria mais do meu sonho.

Os dias se passaram devagar, e logo eu estava de volta ao morro, tentando retomar a rotina na boca, mas já com a cabeça em outro lugar. O crime ainda era minha realidade, mas não seria para sempre.

DG: "NT, você tá diferente, mano. Desde que saiu do hospital, parece que tá com outra cabeça."

Eu olhei para o DG, o dono do morro e meu chefe. Ele era como um irmão para mim, sempre me protegeu, e eu sabia que ele notaria a mudança. Ele tinha razão, eu estava diferente.

Eu: "Tô pensando no futuro, DG. Quero sair dessa vida. Decidi que vou voltar a estudar, terminar a escola e me formar em arquitetura."

DG deu uma risada curta, mas não de deboche. Ele sabia o quanto aquilo significava para mim, e de certa forma, acho que ele até respeitava minha decisão.

DG: "Arquitetura, hein? Tu sempre teve bom gosto. Mas, mano, tu sabe que não é fácil sair dessa vida, né? Uma vez aqui, é difícil cortar os laços."

Eu: "Eu sei, DG. Mas eu tenho um plano. Vou ficar até conseguir me formar, e aí eu caio fora. Preciso dar um futuro melhor pra minha mãe, mano."

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, observando o horizonte do morro, como se estivesse refletindo sobre o que eu tinha dito.

DG: "Se esse é teu sonho, então vai com tudo, NT. Mas lembra que aqui, o caminho é traiçoeiro. Não vai ser fácil, mas eu tô contigo."

Aquelas palavras significaram muito para mim. Eu sabia que DG tinha seu próprio jeito de viver e enxergar o mundo, mas ele entendia o que eu queria. Ele sempre foi assim, durão, mas com um senso de lealdade forte.

Com o apoio dele e da minha mãe, me senti mais motivado do que nunca. Não era o fim do caminho, mas o começo de algo maior.

Os dias seguintes foram intensos. Entre o trabalho na boca e as noites de estudo, eu mal tinha tempo para respirar, mas eu não podia parar. A ideia de entrar na faculdade e me formar era o combustível que eu precisava para continuar. Cada real sujo que entrava no meu bolso era transformado em algo limpo, algo que construiria meu futuro.

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Numa tarde quente, quando saí para resolver algumas coisas no morro, cruzei com meu pai voltando do trabalho. Ele estava exausto, mas o sorriso no rosto quando me viu dizia tudo.

Eu: "E aí, pai. Como foi o dia?"

Pai: "Cansativo, filho. Mas tô feliz em te ver aqui fora e longe de confusão. Sua mãe me disse que você tem planos grandes agora."

Eu assenti, sentindo o peso das palavras dele. Sabia o quanto meus pais tinham sofrido e como meu envolvimento no crime tinha feito isso piorar. Mas agora eu estava tentando mudar, mesmo que fosse aos poucos.

Eu: "É isso, pai. Vou voltar a estudar, fazer faculdade de arquitetura. Vou sair dessa vida, mas preciso do dinheiro pra pagar os estudos primeiro."

Ele olhou para mim, uma mistura de orgulho e preocupação no olhar. Eu sabia que ele entendia minhas intenções, mas também sabia o quanto ele temia por mim.

Pai: "Eu confio em você, filho. Mas toma cuidado. O mundo em que você tá é perigoso. Não quero te perder."

As palavras dele me tocaram fundo, e naquele momento, mais do que nunca, eu soube que tinha que fazer isso funcionar. Não por mim, mas por eles, pelas pessoas que mais amava no mundo.

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Os dias se transformaram em semanas, e as semanas em meses. O tempo passou rápido enquanto eu me dividia entre os estudos e a vida no morro. Cada dia era uma batalha, mas cada livro que eu abria, cada página que lia, me trazia mais perto do meu sonho.

Minha mãe continuava me apoiando, sempre com palavras de incentivo, e meu pai, apesar do medo, estava orgulhoso de mim. Até o DG respeitava minha determinação, e o resto dos vapores começou a ver minha mudança como algo positivo. Mas eu sabia que o caminho ainda era longo, e que o crime não soltaria suas garras tão facilmente.

Eu: "Um dia, eu vou ser arquiteto. Um dia, eu vou sair dessa vida."

E assim, com cada passo que eu dava, eu sentia que, aos poucos, estava me afastando do abismo que o crime representava. O futuro ainda era incerto, mas agora, pela primeira vez, eu tinha uma chance de verdade. E eu iria agarrar essa chance com todas as forças que eu tinha.

Coração BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora