Flashlight || MAGCON || Terminada

01. O 1º olhar

Últimos 2 meses de escola. Finalmente. Mal posso esperar pelas férias. Sinto-me cansada em todos os aspetos.

Uma e meia da tarde. Caminho para a sala com a minha melhor amiga Lydia. Nós somos inseparáveis, conhecemo-nos desde os 6 anos e sinceramente não sei o que faria sem ela, é o meu porto seguro.

-Ashley, olha aquele rapazinho à beira da nossa sala, é novo?- perguntou-me Lydia como se eu já soubesse se ele era novo ou não.

-Não sei Lydia, é estranho entrar alguém novo a esta altura do ano. - respondi mesmo mal tendo visto o rapaz.

-Vai-lhe perguntar se é novo? - insistiu Lydia - Tu tens jeito para meter conversa.

-Mas porquê que tenho que ser sempre eu a intrometida? Durante 9 anos tu nunca te sujeitaste a nada. Um dia vou deixar de ser o Batman e vou passar a ser o Robin. - impliquei com ela mesmo sabendo que ela não iria perceber o trocadilho do Batman.

-Batman? Robin? Ahh? Ashley, a sério, tu tens ar de simpática , eu não. Agora vai ! - disse-me empurrando-me.

E lá fui, nem sabia o que havia de perguntar. Perguntar se era novo pareceu-me o mais acertado. O rapaz era novo claramente, toda a gente da escola se conhece porque é pequena e eu não o conhecia, ou seja, aluno novo.

-Olá, és novo aqui na escola? - perguntei mesmo já sabendo a resposta. Reparei que tem uns olhos lindos, perdi-me a olhar para ele.

-Sou mais ou menos, eu andei aqui até ao 6º ano depois mudei de cidade mas agora voltei a casa. -disse rindo.

A voz dele é suave, diferente do resto dos rapazes que conheço. E o sorriso? Tem um sorriso perfeitinho.

-Então bem-vindo, eu sou a Ashley - tentei apresentar-me sem que ele não percebesse que me agradou bastante.

-Eu sou o Nash, obrigada - agradeceu-me tocando no ombro.

Eu estou bem, só acabei de me apaixonar mas nada fora do normal.

Logo no inicio da aula de matemática recebo uma mensagem da Lydia a dizer : "Então Ash? Nova paixão?". Olhei para trás com cara de indignada mas não consegui conter o riso ao ver as figuras que a minha melhor amiga faz quando algum rapaz aparece na minha vida.

Peguei no telemóvel dentro da mochila e respondi : "Lydia, por favor não comeces com essas coisas. Falamos melhor lá fora."

Ela deu um olhar de confirmação de que tinha percebido a ideia. Eu e ela sempre tivemos a nossa cena de falar por sinais e olhares. Ao longo destes anos todos já nos safamos de muita coisa assim, desde fugas no metro ou quando nos metemos em sítios que não devemos.

A meio da aula de matemática tivemos que fazer trabalho a pares. Eu já ia para a beira da Lydia mas a professora interrompeu-me o percurso e perguntou-me se podia ficar com o Nash visto que ele era o aluno novo e eu era a delegada e tinha que recebê-lo bem. Claro que disse que sim, embora preferisse não ter que quebrar o gelo em plena aula de matemática.

A Lydia juntou-se à Kate e à Madison no trabalho porque deu número ímpar. Éramos só 4 raparigas numa turma pequena mas maioritariamente constituída por rapazes. Éramos bastante unidas e confiávamos umas nas outras.

Durante a aula ouvi-as a rir e a perguntar-me se por acaso era dentista. Não entendi.

-Podem-me explicar o porquê de me estarem a perguntar se era dentista? - perguntei querendo parecer chateada. Tentativa falhada

-Então Ashley - começou a Kate - da maneira que o teu novo amigo te sorria parecia que eras dentista e ele tinha que te mostrar os dentes.

-Vocês não funcionam bem dessa cabeça. Anda embora Lydia. - disse puxando a Lydia pelo braço.

Já cá fora a Lydia começou outra vez a conversa sobre ele.

-Acho que devias aproveitar este rapaz. - disse com cara séria e quando ela diz as coisas com cara séria é porque quer mesmo que aconteça.

-Lydia, não digas isso. Conhecemo-nos à umas 2 horas, isto não funciona assim. - tentei explicar-lhe o meu ponto de vista

-Bem, tens razão nisso do pouco tempo que se conhecem mas vais esperar quanto tempo? Eu sei que vais dizer que não precisas de rapaz nenhum para ser feliz e tens razão nisso também mas eu vi bem como ficaste quando estavas perto dele em apenas 2 horas que vos vi. Não precisas de casar com ele mas podias aproximar-te dele, nem que fosse como um amigo, um bom amigo. - Lydia acabou de dar o seu apoio moral na história, normalmente é ao contrário.

-Está bem, eu vou-me aproximar dele mas apenas como amiga. Nada mais e promete que não insistes. - disse lhe com a mais séria das faces

-Prometo... - começou - ... que vou tentar.

-Lydia ! - resmunguei

-Está bem Ashley, vou fazer de tudo para não te atrapalhar. Agora mexe esse rabo para a sala que já tocou.

Quando cheguei à sala o Nash estava a falar com a professora e a apresentar-se.

-Olha - disse ele - parece que a partir de agora vou passar a ser à tua frente. Vais ter que levar comigo todos os dias. - brincou fazendo uma sorriso curto mas bonito.

-De certeza que não me vais chatear que o teu colega do lado. Tu é que vais precisar de paciência com o Jack. . tentei brincar também

-Então o que é isso Ash? Não me estejas já a difamar. - implicou Jack. O Jack sempre foi um dos meus melhores amigos, confio muito nele e apesar de todas as brincadeiras que temos conseguimos ser sérios quando é preciso. Quer dizer mais ou menos, somos muitas vezes expulsos das aulas por causa dessas brincadeiras.

-Não estou a dizer mentira nenhuma. - brinquei dando-lhe uma pequena palmada nas costas

Chego a casa e ele é a primeira coisa em que penso. Sei que ainda é muito cedo mas sinto-me bem em pensar nele. Sinto-me como se fosse tudo mais fácil. Ao pensar nele consigo esquecer tudo o que se passa de mau em minha volta, principalmente em casa.

As coisas cá em casa nunca foram um conto de fadas. Normalmente, a meio do mês começam as discussões. É quando falta mais o que movimenta as pessoas, dinheiro.

Imagino que ter 3 filhas não seja fácil para os meus pais, sendo as minhas irmãs ainda pequenas, mas o esforço que não fazem para não discutir deixa-me com uma sensação de impotência enorme. Eu sou a mais velha, quero ser o orgulho de todos mas não consigo fazer nada para que apareça mais dinheiro cá em casa subitamente porque não posso ir trabalhar.

Não importa, quando o fim do dia chega é um alivio para mim. Significa que sobrevivi mais um dia nesta casa. Graças a Deus.

Talvez agora os dias corram melhor visto que tenho mais uma pessoa que me deixa feliz. Foi só o 1º dia e sinto-me assim, nem quero pensar nos próximos dias.