21. Telepatia

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-Ashley, sabemos que tu e os teus amigos têm passado um mau bocado e temos que te pedir desculpa por não termos estado suficientemente atentos para te ajudar. - pediu o meu pai falando por ele e pela minha mãe.

-Não foi um mau bocado, passamos pelas brasas do inferno múltiplas vezes. Mas não têm que pedir de desculpa, nada foi vossa culpa. - tentei responder com o mesmo carinho que eles.

Não os posso culpar de nada, eles não sabiam do que se passava. Ninguém sabia. Aliás, fomos quase obrigados a esconder. Quando pensávamos em contar o que se passava o Shawn fazia alguma coisa que nos fazia voltar atrás, como um ciclo vicioso.

A campainha toca. Estranho. São quase dez da noite, é tarde para visitas.

-É a casa de Ashley Benson? - perguntou um homem que pelos vistos é policia. 

Fiquei assustada. Não que tivesse feito algo para ir presa mas tendo em consideração os últimos meses eu fico assustada com tudo o que seja fora do normal na minha vida.

-Sim, é a minha filha. Mas é um bocado tarde para interrogatórios não acha senhor agente? - perguntou a minha mãe num tom irónico. Aprendi com a melhor.

-Não é um interrogatório minha senhora, é uma ordem de afastamento por parte de um rapaz chamado...

-Shawn Mendes, certo? - perguntei interrompendo-o.

O agente acenou com a cabeça dando a confirmação.

-O quê? A minha filha é que sofreu pela parte dele e ela é que recebe a ordem de afastamento? - perguntou o meu pai incrédulo e chateado.

-Eu entendo a sua posição senhor mas eu não tenho culpa, só estou a cumprir ordens. Um resto de uma boa noite. - disse o agente indo embora de seguida.

Mais uma vez o Shawn está a fazer o papel de vitima. Já era de esperar.

O meu pai está a falar à cerca de meia hora com o pai do Gilinsky por causa da restrição. Não fui a única a recebê-la.

Não há nada a fazer agora, temos que estar a pelo menos 200 metros do Shawn. As únicas exceções é na aulas mas temos que estar o mais longe possível. Se quebrarmos esta ordem perdemos tudo o que temos contra ele.

[...]

-Todos na escola perguntam pela Lydia. Já é mau o suficiente o que se passou mas as perguntas insistentes das pessoas torna-o ainda pior.

-Como é que é possível nós termos uma ordem de afastamento enquanto ele é que mandou a Lydia para o hospital? Alguém que me explique. - disse Nash revoltado.

Incrivelmente, o Nash tem sido o mais calmo, pensativo e com as ideias todas no lugar mas neste momento tudo o que é são vira doido.

-A falar no diabo e ele vem aí. - disse apontando para o fundo das escadas que Shawn começou a subir.

-Cuidado colegas, 200 metros não se esqueçam. - desafiou-nos Shawn a ripostar. Sem sucesso, não lhe podemos fazer nada e não o vamos fazer embora a vontade seja muita.

-Não respondam, ele vai ter o que merece. - acalmei Nash e Gilinsky.

[...]

A Lydia já está em casa, só tem que ficar em repouso durante uns dias. Não a quero chatear com o mesmo assunto que a mandou para o hospital e nos tem atormentado.

Segue-se uma maratona de choro a assistir o nosso filme preferido, "A melodia do adeus".

-Tu sabias não sabias? - perguntou Lydia muito aleatoriamente.

-À muito tempo, só estava à espera que o descobrisses tu mesma. - respondi, referindo-me ao Gilinksy.

-Não foi assim à tanto tempo, Ash. Sempre fomos só amigos.

-Só amigos não trocam olhares secretos no meio de uma multidão. Só amigos não ficam com ciumes quando o outro fala com alguém. Só amigos não se tratam da maneira que vocês se trataram desde que me lembro de sermos amigos. 

-Como é que tenho a certeza dele? De o querer? - perguntou.

-Não sei explicar-te com palavras. Eu posso passar 15 minutos a escolher a roupa de manhã ou ler o menu duas vezes e mesmo assim não saber o que pedir. Raramente tenho a certeza de algo. Mas dele eu tenho a certeza absoluta. Não sei explicar, tens que o sentir apenas.

-Eu acho que estou certa dele. - respondeu fazendo um sorriso tímido.

[...]

Ao telefone com o Nash esqueço todos os problemas.

-Hoje tive uma conversa séria com a Lydia sobre o Gilinsky. Ela está mesmo apaixonada. Nunca foi rapariga de namoros mas ela quer mesmo isto. - contei-lhe sobre a minha conversa com ela.

-É raro encontrar alguém com uma personalidade tão bonita como a sua aparência mas eles encontraram-se. - respondeu Nash.

-E tu encontraste? - perguntei.

-Claro que encontrei. Pensava que olhos castanhos eram a combinação perfeita para o meu azul mas desde a primeira vez que te vi que não consigo tirar os teus olhos azuis-esverdeados da minha cabeça. Aí percebi que tu é que eras a combinação perfeita. Encontrei-te. - respondeu Nash conseguindo pôr-me com uma lágrima a escorrer.

-Não quero que tudo isto nos desgaste. Não quero um final feliz porque finais são as partes mais tristes, mas quero um feliz meio da história, tão bom como o inicio. Só queria esquecer isto tudo que se tem passado. - disse não conseguindo conter mais as lágrimas.

-Não chores. Eu estou aqui e dificilmente não irei estar. Não quero saber se precisas de ficar acordada a noite toda a chorar, eu vou ficar contigo. Não há nada que possas fazer que me faça deixar de te amar. Quando é sobre ti nada me vai deixar exausto. Não quero ouvir ninguém dizer "ela parou de tentar que resultassem e ele arrepende-se todos os dias de a ter afastado". Eu amo-te. - disse Nash libertando-me de todo o peso do mundo.

-Só quero que saibas que vai sempre haver uma parte de ti em mim e estou agradecida por isso e por tudo. - respondi muito mais breve do que ele mas ele sabe que é a minha maneira de demonstrar as coisas que sinto.

-És a minha miúda. Dorme bem. Amo-te trenga. - disse Nash despedindo-se.

-Tu também. Amo-te. - disse desligando o telefone.

Não somos muito deste tipo de conversas mais lamechas mas às vezes é necessário para reencontrarmos o conforto e o Nash sabe exatamente quando temos que falar sobre certas coisas ou não. Telepatia.


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