Capítulo 12

9 3 0
                                    

Capítulo 12

Gabriel ficou alguns momentos pensativo.

"Sentido norte... Isso não ajuda muito," pensou ele, frustrado. Ele tentou ocultar sua decepção, mas o idoso parecia notar o quanto ele estava perturbado.

— Olha, rapaz... A Jussara é uma boa moça. Trabalhadora, discreta. Não parece ser o tipo de mulher que se envolve com problemas ou confusões — disse o vizinho, agora com um olhar mais brando. — Se quer mesmo reencontrá-la, talvez seja melhor pensar bem no que quer dizer a ela. Talvez um pedido de desculpas não seja suficiente.

Gabriel assentiu, engolindo em seco. Sabia que havia mais do que arrependimento nas palavras que ele precisaria encontrar. Era como se estivesse tentando buscar o que havia perdido e, ao mesmo tempo, reconstruir algo que nem sabia que estava quebrado.

— Obrigado, senhor. Eu... eu preciso encontrá-la, entender o que a fez ir embora desse jeito.

— O coração de uma mulher, meu jovem, não se convence apenas com palavras bonitas — respondeu o idoso, esboçando um leve sorriso. — Boa sorte.

Gabriel agradeceu uma última vez e caminhou de volta ao carro. Ele respirou fundo, entrou no carro e ficou parado por um momento, refletindo. Pela primeira vez, sentiu que estava em um território que não podia controlar com o charme ou o poder.

***

Enquanto Jussara descia do táxi, puxando sua mala com um pouco de esforço, notou um cowboy encostado numa caminhonete Hilux. Ele estava completamente a caráter, com chapéu de abas largas, jeans surrado, botas de couro e uma fivela grande no cinto. Parecia saído de um filme de faroeste, e a observava com um olhar tranquilo, mas atento.

Assim que se aproximou, ele tirou o chapéu e a cumprimentou:

— Bom dia, moça. Senhorita Jussara, certo?

— Sim, sou eu — respondeu, sorrindo de leve e um pouco apreensiva, tentando ler a expressão dele.

Ele acenou com a cabeça, parecendo satisfeito.

— Prazer, sou Otávio. Trabalho pra família que te contratou. Vou levá-la até a fazenda.

— Ah, obrigada, Otávio. — Ela suspirou aliviada, sentindo que estava, enfim, mais próxima de seu destino.

Otávio a ajudou com a mala, colocando-a na caçamba. Em seguida, abriu a porta do passageiro com um gesto cortês.

— Pode entrar, moça. É uma viagem de mais ou menos meia hora. Dá tempo de descansar um pouco — comentou, notando o cansaço no rosto dela.

Jussara entrou, sentando-se com cuidado no banco alto da caminhonete. Assim que Otávio tomou o volante e deu partida, o silêncio inicial do trajeto foi preenchido pelo som leve da música country que tocava ao fundo. Após alguns minutos, ela perguntou, tentando se ambientar:

— E como é a fazenda? Deve ser bem grande, não?

Otávio assentiu, mantendo o olhar na estrada.

— É enorme, sim. A família tem essa terra há gerações. Cultivam bastante coisa e criam gado. Uma das fazendas mais tradicionais da região. — Ele deu uma olhada de relance para ela, notando seu interesse. — A senhorita vai cuidar da dona Isaura, a matriarca. É uma mulher forte, mas já passou dos oitenta, então precisa de companhia e ajuda com algumas coisas.

— Fico feliz em saber. Estou ansiosa para conhecê-la e fazer o melhor trabalho possível. — respondeu Jussara, tentando esconder qualquer sinal de nervosismo.

Otávio sorriu.

— Pelo que me disseram, parece que a senhorita é muito dedicada. E dona Isaura gosta de pessoas de bom coração. Acho que vão se dar bem. — Ele olhou para o horizonte, onde a estrada se abria para a vista das colinas ao longe. — Daqui a pouco, você vai ver a casa.

Jussara avista a entrada da fazenda. A propriedade era imensa, com campos a perder de vista, pastagens verdes e uma casa grande no estilo colonial, com varanda ampla e cercada por jardins bem cuidados. Ela imaginava o quanto aquela paisagem é diferente da cidade, a imensidão do lugar a impressionava.

Otávio parou a caminhonete em frente à casa principal e desceu para pegar a mala dela, abrindo a porta para que ela também saísse. Enquanto subiam a escada de madeira que levava à varanda, um casal apareceu na porta. Ambos aparentavam ter por volta de cinquenta anos, com traços de quem passava boa parte do tempo ao ar livre. O homem, de estatura média e porte firme, sorriu calorosamente.

— Seja bem-vinda, Jussara! Eu sou o senhor Raul, e esta é minha esposa, dona Helena. Nós cuidamos da fazenda, e dona Isaura é minha mãe. — Ele a cumprimentou com um aperto de mão, enquanto Helena a abraçava gentilmente.

— Seja muito bem-vinda, querida! Esperávamos por você com ansiedade — disse Helena, com um olhar carinhoso. — Tenho certeza de que a senhora Isaura vai adorar você.

Jussara sorriu, sentindo-se um pouco mais à vontade.

— Muito obrigada, é um prazer estar aqui. Quero muito ajudar e fazer o meu melhor.

Raul fez sinal para que ela o acompanhasse.

— Vamos entrar. Dona Isaura já deve estar na sala, esperando para conhecê-la.

Ao entrarem, a casa revelou-se ainda mais aconchegante do que parecia por fora, com uma decoração rústica e acolhedora, cheia de móveis de madeira, fotografias antigas e detalhes que mostravam a história da família. Na sala de estar, uma senhora de aparência frágil, com cabelos grisalhos presos em um coque, estava sentada em uma poltrona. Seus olhos, embora cansados, ainda carregavam um brilho de curiosidade e sabedoria.

Raul aproximou-se e anunciou:

— Mãe, esta é a Jussara, que veio de São Paulo para ajudar a senhora.

Dona Isaura ergueu os olhos para Jussara e abriu um sorriso gentil.

— Muito prazer, minha filha. Espero que goste da nossa casa.

Jussara sentiu uma onda de simpatia pela senhora e sorriu de volta.

— O prazer é meu, dona Isaura. Espero poder ajudar no que for preciso.

Dona Isaura estendeu a mão para Jussara, que a segurou com cuidado. Havia uma gentileza na senhora que Jussara sentiu de imediato.

— Obrigada, querida. Raul e Helena falaram muito bem de você. Sinto que seremos boas companheiras.

Após a breve apresentação, Helena notou as olheiras no rosto de Jussara e o leve cansaço que ela tentava disfarçar.

— Jussara, você deve estar exausta depois dessa longa viagem. Vamos te levar até seu quarto, assim você pode descansar um pouco antes de começarmos.

Jussara sorriu, agradecida pela consideração.

— Sim, acho que descansar um pouco vai ajudar. Obrigada, dona Helena.

Helena a conduziu até um quarto espaçoso e arejado, com uma vista deslumbrante para os campos. As cortinas de tecido leve balançavam com a brisa, e a cama parecia especialmente convidativa. Jussara colocou a mala no canto e se virou para Helena.

— O quarto é lindo, obrigada.

— Fico feliz que tenha gostado, querida. Pode descansar o quanto precisar. Mais tarde, trarei um lanche para você e, quando estiver pronta, podemos conversar sobre suas tarefas. — Helena tocou gentilmente no ombro dela, passando uma sensação de acolhimento.

— Obrigada, dona Helena, de verdade.

Assim que Helena saiu, fechando a porta com suavidade, Jussara se permitiu um suspiro de alívio. Finalmente, sentia que poderia começar uma nova fase em paz. Ela se deitou e, antes que pudesse sequer processar o que estava por vir, o cansaço tomou conta e ela adormeceu profundamente.

Apaixonado pela ex do meu FilhoOnde histórias criam vida. Descubra agora