Capítulo 9

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Capítulo 9

Jussara apertou o botão do elevador, tentando manter a compostura. Enquanto descia, pensava em como as coisas haviam saído de controle. Parecia que, desde o término com Marcos, tudo andava de mal a pior. Ela suspirou, reprimindo as lágrimas. Apaixonar-se por Gabriel havia sido um erro, e agora era ela quem pagava o preço. Decidida, concluiu que precisava de um novo emprego.

No escritório, Gabriel ainda estava processando o que acabara de acontecer. O rosto ardia, e ele passou a mão pelos cabelos, exasperado. Por um momento, refletiu sobre sua abordagem impulsiva. Será que havia passado dos limites? Mal teve tempo de reorganizar os pensamentos quando a secretária entrou para confirmar a agenda do final do dia. Ela ficou muda ao notar a marca vermelha em seu rosto, mas, com profissionalismo, decidiu não comentar nada e confirmou a agenda antes de se retirar.

Logo em seguida, Marcos entrou, já pedindo café para a secretária antes de fechar a porta. Ele se jogou na cadeira à frente do pai e, ao ver a marca vermelha no rosto dele, arqueou uma sobrancelha, rindo.

— Pai, o que foi isso? Levou um tapa? — Marcos soltou uma risada, claramente se divertindo com a situação.

Gabriel lançou um olhar sério para o filho, hesitando por um instante.

— Digamos que alguém quis me ensinar uma lição.

Marcos ainda rindo, cruzou os braços.

— Sério? Nunca imaginei que o grande Gabriel Monteiro fosse esbofeteado por alguém. Quem foi a corajosa?

Gabriel sorriu de lado, tentando encerrar o assunto.

— Alguém que tem mais coragem do que juízo.

Marcos ainda ria, mas a curiosidade logo tomou conta dele.

— E então, vai me contar o que houve ou vou ter que adivinhar?

Gabriel respirou fundo.

— Apenas um desentendimento. Nada que precise te preocupar.

Marcos deu de ombros, ainda sorrindo.

— Tudo bem, só não vai me dizer que foi alguma garota da empresa. Vai ser difícil olhar para elas sem rir.

Gabriel desviou o olhar, mas o comentário de Marcos o incomodou. A imagem de Jussara voltava a atormentá-lo, e ele percebeu que aquele sentimento não era algo que pudesse simplesmente ignorar.

***

Jussara estava no meio do expediente quando uma colega se aproximou, mostrando o celular com uma vaga tentadora.

— Olha só, se eu fosse formada, eu me candidataria para essa. Cuidar de uma senhora em Goiás, salário maravilhoso. É uma família de fazendeiros ricos — disse a colega.

Jussara arregalou os olhos, vendo ali uma oportunidade inesperada.

— Você não sabe o quanto me ajudou mostrando isso! — disse, enquanto anotava o telefone rapidamente. A colega, satisfeita por ajudar, voltou ao trabalho com um sorriso.

Jussara pegou o celular e se dirigiu ao banheiro para fazer a ligação. Após alguns minutos de conversa com a pessoa do outro lado da linha, percebeu que havia uma chance real. Só hesitou ao mencionar que tinha experiência com os Monteiro, mas sabia que seria importante para reforçar sua oportunidade. A pessoa do outro lado suspirou, prometendo entrar em contato com a família para confirmar as referências e pediu que ela aguardasse um momento.

Ansiosa, Jussara permaneceu no banheiro, torcendo para que tudo desse certo. Dez minutos depois, recebeu a notícia que tanto esperava: as referências foram positivas, e ela estava contratada. Sem pensar duas vezes, saiu do banheiro e se dirigiu ao RH para pedir as contas, determinada a começar uma nova etapa, longe de tudo que a prendia ali.

***

Depois que Marcos saiu, Gabriel ficou ali, em silêncio, com o rosto ainda ardendo e a mente mergulhada em pensamentos. Ele massageou a bochecha, tentando entender a situação. Afinal, se Jussara realmente fosse uma acompanhante, como ele havia pensado, por que teria reagido com tanta indignação? Por que aquele tapa, aquele olhar magoado?

Gabriel se recostou na cadeira, sentindo-se frustrado. Talvez tivesse interpretado tudo errado. Ele lembrava do tempo em que ela cuidou dele com tanta dedicação. E agora, ao pensar em como a tinha ofendido, sentiu uma ponta de arrependimento que não esperava.

Talvez ela fosse mais do que ele queria admitir. Talvez, no fundo, ele fosse o único que havia errado naquela sala.

Olhando para o relógio, Gabriel viu que ainda restavam três horas antes de poder ir para casa. A impaciência começou a crescer, junto com a vontade de esclarecer tudo aquilo. Havia apenas uma pessoa que poderia lhe dar as respostas de que precisava: sua mãe. Ela era quem o conhecia como ninguém e, mais importante, quem conhecia Jussara de perto.

Decidido, pegou o telefone e ligou para ela.

— Mãe, você tem um tempo hoje? Gostaria de conversar sobre algo importante — disse, tentando esconder a urgência na voz.

— Claro, querido. Está tudo bem? — ela respondeu, percebendo o tom diferente do filho.

— A gente conversa pessoalmente, prefiro assim. Nos vemos em casa.

Desligando o telefone, Gabriel sentiu-se ansioso. Ele precisava entender o que realmente estava acontecendo e entender toda essa confusão.

***

Uma hora depois, Jussara saiu da empresa vestida com suas roupas normais, deixando para trás o uniforme e tudo o que pudesse lembrar de onde trabalhou nos últimos dias. Na calçada, enquanto aguardava o Uber que acabara de chamar, percebeu uma sombra cobrindo o sol. Ela ergueu o olhar e o desgosto tomou conta de seu rosto.

— Olá, gracinha. Finalmente apareceu.

— Marcos...

Ele sorriu com um ar convencido e inclinou-se em sua direção.

— Sentiu saudades? Eu também. Especialmente do seu corpo.

Jussara suspirou internamente, cansada daquele tipo de atitude. "Mais um babaca! Parece que tenho um ímã para eles," pensou.

Sem hesitar, ela revidou com firmeza:

— Quer saber, Marcos? Vá à merda!

Nesse momento, o Uber parou ao seu lado. Ela entrou no carro sem olhar para trás, deixando Marcos sozinho e confuso na calçada.

Marcos coçou a cabeça e colocou as mãos na cintura, sentindo a frustração crescer. Antigamente, ele tinha certeza de que Jussara gostava dele; agora, tinha certeza do contrário. Não havia mais nenhum sinal de afeto, nenhum sentimento, nada.

“O que, ou quem, a fez mudar desse jeito?”

Com o cenho franzido e um ar desnorteado, Marcos voltou para dentro da empresa. Ao entrar no saguão, seu foco mudou ao avistar a esposa jovem de um dos assessores. Ela parecia ter pouco mais de vinte anos, enquanto o marido devia estar próximo dos cinquenta.

Ele deu um sorriso sarcástico, pensando:

"Interesseira. Aposto que, se eu tentar, ela cede."

Apaixonado pela ex do meu FilhoOnde histórias criam vida. Descubra agora