10| Não seja pego

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Martha estava se recuperando bem, cada dia ganhando um pouco mais de cor no rosto e força nos movimentos. Já conseguia se mover pelo quarto sem tanta dificuldade, e a firmeza em seus olhos deixava claro que estava pronta para enfrentar o que viesse a seguir.

Quando contei a ela sobre o plano - sobre Bloom, Liam e o arquivo que poderia pôr fim a tudo aquilo -, ela me ouviu em silêncio, os olhos atentos e determinados.

- Quero ajudar, Ree. Preciso fazer parte disso. Eles arruinaram a vida da minha mãe por minha causa, e a de tantas outras pessoas. Não vou ficar de fora.

O tom dela não deixava dúvidas sobre a seriedade do que dizia. Por um instante, fiquei tentado a aceitar. Martha era forte, e ninguém entendia melhor do que ela o tipo de poder e manipulação que estávamos enfrentando. Mas eu sabia que envolvê-la significava colocá-la em risco direto - e isso era algo que eu não poderia permitir.

- Martha, você já fez tanto. Está aqui, enfrentando tudo isso, lutando por justiça. Mas agora... esse é o momento mais perigoso de todos. Precisamos que você continue fora dessa confusão. Se algo der errado, preciso que você esteja segura, longe do alcance deles.

Ela tentou protestar, mas eu segurei suas mãos, meu olhar firme.

- Olha, Liam e Bloom já destruíram muito nas nossas vidas. Eu não suportaria perder você também. Eles sabem do que você é capaz, e isso só vai deixar eles mais determinados a te silenciar se perceberem que você está envolvida.

Ela me olhou, mordendo o lábio como se estivesse pesando suas palavras. O fogo em seus olhos ainda ardia, mas a raiva deu lugar a um brilho de compreensão.

- Eu entendo, Reeno, mas... não vou ficar parada. Se precisar de mim para qualquer coisa, estarei aqui.

Reeno...

Naquele instante, uma lembrança longínqua, antes turva, começou a se desfazer. Era ela. Naquela noite confusa, cheia de sentimentos soltos e mal-interpretados... era Martha quem disse que me amava. Não Vivian.

Por um segundo, minha mente viajou para aquela festa, para o olhar dela, que eu agora sabia ser de alguém que queria me dizer algo mais profundo, algo verdadeiro. Mas o momento não era para perguntas diretas, não era hora para confrontar o passado.

Escolhi guardar o segredo, deixando aquela revelação enterrada, mas próxima o suficiente para voltar a ela mais tarde. Com um sorriso discreto, respondi:

- Tudo bem, Martha. Vou lembrar disso - respondi, esperando que meu tom sutil transmitisse o quanto suas palavras haviam me tocado.

Finalmente, deitei-me ao lado dela, o quarto silencioso, exceto pela respiração leve de Martha. Ela ainda estava morando comigo, enquanto sua mãe aguardava na cadeia, à espera de que Roger pudesse resolver a situação e tirá-la de lá. Eu hesitei, mas antes que o sono nos alcançasse, decidi arriscar uma pergunta que há tempos queria fazer.

- Antes de dormirmos... Posso te perguntar uma coisa?

- Claro - ela respondeu, virando-se para me encarar, seus olhos brilhando com uma curiosidade suave.

Respirei fundo, como se precisasse de coragem para algo tão simples.

- Você... já gostou de alguma menina? - perguntei, o coração batendo forte. Parte de mim desejava que a resposta fosse sim... mas que fosse um "sim" para mim.

Ela mordeu o lábio, e seus olhos se suavizaram, como se mergulhasse em uma lembrança.

- Por mais que eu seja assim, autêntica e cheia de personalidade... não. Quer dizer, eu não sei. Houve uma pessoa, sim. - Ela desviou o olhar por um instante e depois voltou para mim, uma vulnerabilidade nova em sua expressão. - Ela me fazia rir como ninguém, sabe? Mas, pra ser sincera, acho que as piadas dela nem eram engraçadas. Eu ria, porque... de algum jeito, ela fazia tudo parecer mágico e interessante, como se o mundo girasse ao nosso redor.

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