Em um mundo onde Féricos são separados de humanos, uma jovem é vendida para uma das côrte férica, mal sabia que iria descobrir uma realidade que não sabia ser presente em sua vida, o grão senhor Férico mal podia imaginar que sua vida poderia mudar t...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Observei a vasta de e ouvi mais uma vez o que parecia ser saltos de um saudável coelho ou lebre. Decidi me esconder atrás de uma das grandes árvores que cercavam aquela floresta no inverno. Estava tão focada que podia ver a neve cair suavemente até tocar o chão. Enfim, pude ver minha presa atrás de um monte de neve próximo a uma árvore ressecada. Respirei fundo e preparei meu arco. Com a nossa nova vida miserável, tive que aprender deliberadamente a caçar; não podia deixar o bêbado do meu pai e a frágil Liza morrerem de fome. Após focar meu arco, arrisquei soltar minha primeira flecha em direção ao pobre cervo que ali estava. Atirei em uma tacada arriscada e logo vi o cervo ser atingido com meu disparo certeiro. Ao ver o cervo caído na neve, tive a certeza de que, por uma semana, não morreríamos de fome. Olhei para o sangue na neve e pude ver, em tempos, uma cor tão viva. Logo, me aprontei e o amarrei para carregá-lo nas costas. Enquanto partia para casa, senti olhos me observando e, logo atrás de duas árvores, pude ver meus observadores: dois caçadores me olhando, assombrados, junto a uma pequena criança que tremia de frio. Olhei de volta e logo eles disseram:
- Perdoe-nos por observar com tanta surpresa. É que a caça neste inverno está difícil, e ver uma jovem tão bonita caçando com tanta maestria e brutalidade é assombroso.
Por um momento, pude ouvir suas barrigas famintas que quase falavam o quanto estavam com fome. Logo, não pude deixar de oferecer a metade do grande cervo que eu estava carregando nas costas.
- Muito obrigado. A senhorita não irá sentir falta dessa boa parte do cervo, senhorita?
Embora soubesse que sentiria falta, eu poderia ir mais fundo na vasta floresta e buscar por mais uma presa. Não podia deixar que levassem uma criança tão pequena para uma floresta tão fria e perigosa. Então, logo respondi:
- Não se preocupem, irei adentrar floresta adentro para buscar novas presas. Podem seguir tranquilos.
Antes que partissem, o segundo caçador, mais alto e de cabelos longos, com uma grande estaca nas costas, me deixou um aviso, baseado em conversas paralelas da vila em que vivíamos próximo:
- Senhorita, não aconselho ir mais longe nessa floresta. Dizem por aí que os Féricos desse lado da Barreira Santa... Não aconselho que a senhorita se arrisque tanto.
Olhei para eles com desdém. Como podiam se deixar assombrar por histórias rasas como essas? A Barreira Santa está sobreposta há mais de 300 anos, e ainda podem achar que essa história não passa de um conto que li em minhas histórias. Mas apenas acenei com a cabeça para ele e dei um pequeno cumprimento com a mão, desejando a eles um bom retorno. No fundo, sabia que aquele pedaço do cervo que restava não duraria uma semana, e logo me adentrei mais um pouco na floresta, com a esperança de achar mais uma caça. A vasta neve, que parecia não acabar, ficava ainda mais densa. Ouvi um grunhido pesado e pensei em um urso. Logo olhei para as flechas que me restavam, considerando a hipótese de montar uma armadilha. Dispensei a ideia ao ver quantas delas eu tinha. Me abaixei atrás de uma pedra e observei um grande urso. Eu não poderia estar mais certa da raça da minha presa.
Apontei meu arco novamente. O calor do meu suspiro tornava o clima ainda mais tenso. O drama de algo dar errado e não voltar mais para casa não era uma hipótese distante em minha cabeça. Me concentrei mais uma vez antes de soltar a ponta da flecha que a prendia ao meu arco, atingindo aquele grande animal. Cautelosamente, me aproximei mais um pouco para atirar outra flecha em sua pelagem. O urso não parecia reagir. Olhei para aquele pobre animal, que me encarava com olhos cheios de medo, o que me deixava tentada a deixá-lo ir embora. Logo lembrei de meu pai debilitado pela bebida e Liza. Com dor no coração, fui obrigada a apontar o arco novamente, com frieza nos olhos do animal, e soltei a flecha. O urso era imenso e pesava toneladas; eu não o aguentaria, já que tinha apenas 1,40 de altura e meu corpo estava desnutrido pela má alimentação. Logo, retirei a pele do animal e cortei grandes pedaços de sua carne para levá-los aos poucos.
Eu estava aliviada, pois sabia que a pele daquele animal valia muito e que a carne duraria dias. Levando um pouco para casa, pude ver Liza do lado de fora da cabana, de cara fechada, por estar recolhendo alguns galhos. Logo me viu chegando e, ao ver a parte da pele do animal em minhas mãos, soltou um sorriso e disse:
- Finalmente poderei comprar um perfume novo.
Eu mal havia adentrado em minha casa e Liza parecia uma abelha rainha cercando uma colmeia. Não pude deixar de olhar para minhas roupas gastas, que não trocava há mais de um ano, e olhei novamente para Liza com desgosto. Joguei o que havia conseguido carregar em cima da mesa e me preparei para ir recolher o que restava na fria floresta. Vi meu pai se aproximar e me parabenizar pela grande caça de hoje. Apenas o ignorei e parti em direção à porta para buscar o que restava daquele grande urso.