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Observei a paisagem de seus ombros e notei que já estávamos chegando ao castelo. Hugo, escorado e rindo, debochou da minha humilhante situação e fez seu primeiro comentário sarcástico e nojento.

- Quando acabar, deixe eu brincar um pouco, ok?

Ele deu uma risada olhando para Elain, que o encarava com um olhar carregado de ódio. Ignorando sua presença, ela me jogou no chão, aos pés da escada. Hugo veio em minha direção e, enquanto Elain passava a mão em seu ombro, como se eu o tivesse sujado, comentou:

- Nossa, se reparar bem, o corpo de uma humana não é de se jogar fora.

Arregalei os olhos para a tamanha discrepância de seu comentário indiscreto. Elain novamente o ignorou, virou-se e foi em direção à porta que havia ao lado direito do salão onde estávamos. Antes de partir, Hugo olhou novamente para mim e saiu. Fiquei parada, olhando para o chão, pensando no que eu havia feito para ter que passar por tamanha humilhação.

Logo vi Lídia descer as escadas freneticamente em minha direção.

- Senhorita, que bom que está bem. Notei sua partida assim que voltei ao seu quarto.

Vendo meu vestido em trapos, Lídia me ajudou a me recompor e a levantar. Em seguida, subimos as escadas, indo em direção ao quarto de onde antes queria fugir. Lídia preparou um banho quente e me ajudou a me despir, notando os ferimentos causados pela queda.

- Senhorita, por favor, fique enquanto vou buscar medicamentos para suas feridas.

Lídia logo saiu do quarto e eu adentrei a banheira com sais de rosas, me recordando do que acabara de acontecer. Não podia esquecer a sensação de tê-lo tão perto, o cheiro frutado que me fez esquecer totalmente a forma brutal como ele havia matado aquela criatura. Logo desviei meus pensamentos para papai e Liza, ainda preocupada se passariam fome. Mesmo assim, fiquei tranquila por ter parte do urso e sua pele, que valia algum dinheiro.

Lídia entrou no quarto e, assim que saí da banheira, enquanto ela secava meu cabelo, tive a oportunidade de matar a minha curiosidade sobre Elain.

- Lídia, quem é Elain? Me fala mais sobre ele.

Lídia me olhou de forma desconfiada, mas entendeu minhas dúvidas.

- Elain é um bom homem. Não tenho muitas informações sobre seu passado, mas sua família foi crucial para firmar a Barreira Santa. Ultimamente, os Senhores Grãos Féricos estão estudando o comércio de humanos deste lado da barreira. Infelizmente, a Corte de Inverno não concorda com o que Elain defende.

E pensar que um homem tão frio e arrogante defenderia algo além de si mesmo. Meu corpo ainda estava anestesiado com a sensação de ter ele perto. Fiz mais uma pergunta a Lídia, questionando por que humanos seriam comercializados deste lado da barreira.

- Bom, não vou saber dizer ao certo o porquê, mas imagino que seja para fins carnais ou até mesmo como alimentação para os Wendingos.

Wendingos? Será que seriam essas criaturas que Elain havia matado? Para ter certeza, continuei a perturbar Lídia para saber mais sobre essas criaturas. No entanto, Lídia apenas disse que não sabia muito, já que ficou todo esse tempo servindo à corte de Elain. A fala de Lídia fez parecer que ela os servia há anos; afinal, quantos anos ela teria? Não perguntei para não parecer indiscreta da minha parte, apenas abaixei a cabeça.

Lídia se levantou e mostrou outro vestido que havia preparado para mim, desta vez um pouco menos volumoso, com mangas longas. Agradeci a Lídia pelo vestido e logo a elogiei, dizendo que ela parecia uma princesa que eu havia lido em meus livros. Lídia disse que sua beleza era herdada de sua família, que descendia de deuses. Surpreendida, implorei para Lídia falar mais sobre isso, mas ela me cortou, me direcionando à sala onde o jantar seria servido. Olhei para ela com uma expressão triste e Lídia prometeu que contaria mais assim que o jantar acabasse. Fiquei animada e logo a acompanhei.

Passamos pelo corredor onde havia o quadro da mulher de cabelos vermelhos, descemos as escadas e fomos em direção à sala que Elain havia entrado, ao lado do salão principal. Quando adentrei a sala, Elain estava sentado, aguardando que o jantar fosse servido. Olhei para ele, mas ele não devolveu meu olhar. Observei a sala, que continha uma vasta mesa de jantar com muitas cadeiras. Atrás de onde Elain se sentava, havia uma porta. Nas paredes laterais, grandes janelas exibiam uma vista que esbanjava riqueza. Um lustre valia mais do que toda a riqueza que papai havia perdido. Em cima da mesa, velas em candelabros. Logo vi que Lídia estava se afastando; olhei para ela com um olhar que implorava que ficasse para que não ficasse sozinha na companhia de Elain depois do que aconteceu. Ela apenas acenou e saiu.

Fiquei de cabeça baixa, sem encará-lo, até que ouvi um assovio vindo da porta atrás de Elain. Hugo, encostado, deu uma risada leve, mas pude sentir seu sarcasmo.

- Teremos companhia em nosso jantar hoje? Que bom que Elain a deixou inteira para que possamos brincar.

O encarei com ódio, repudiando o que ele acabara de dizer. Ele se sentou duas cadeiras a frente na lateral da mesa, enquanto a minha ficava de frente para Elain. Logo os pratos chegaram, e vi a mesa se encher de alimentos. Senti o cheiro e lembrei que fazia tempo que não comia com tanta fartura. Os criados de Elain serviram os pratos. Tentei não encarar a variedade de espécies de Féricos que achei que nunca existissem. Olhei para frente pela primeira vez em direção a Elain, que comia de forma elegante, enquanto Hugo comia de forma despojada.

Encarei meu prato recheado de comida, lembrando de papai e Liza, até que notei uma pequena lágrima se desprender de meu olho. Limpei rapidamente, e então Elain me olhou.

- Por que encara a comida? Se fosse para termos te matado, deixaríamos que morresse na floresta.

- Não é isso. É que -como suponho que você já saiba, eu era provedora de minha família. No entanto, sem querer eu esteja em casa, não sei como eles estão se virando.

Hugo, depois de um tempo em silêncio, o que imaginei ser impossível para ele, já que pela minha primeira impressão ele não conseguiria , falou algo que me desestabilizou instantaneamente.

- Não contou a ela, Elain? Tisc, tisc, tisc. Como você é cruel.

Ele riu ao ver Elain olhar para ele irritado.

- Não fale como se fosse obrigação minha. Se ela o diverte tanto, fale você.

Nesse momento, olhei para Hugo em busca de resposta. Não sabia do que eles estavam falando, mas me incomodava não saber.

- Pequena coelha, você não foi sequestrada. Foi vendida!, como couro de um animal abatido.Não se preocupe com sua família; os seus sequestradores pagaram bem por você ser tão bonita.

Olhei para ele indignada. Como ele poderia falar tantas mentiras? Arfei e respirei fundo.

- Não minta para mim. Se meu desespero o diverte, ao menos espere que aconteça espontaneamente.

- Mentir? Sinto muito, mas não posso mentir, pequena coelha. Sou da Corte Noturna e, infelizmente, não podemos mentir. Embora eu omita algumas coisas, eu não minto.



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