Pouco tempo depois da minha corrida, ainda cansada, parei e descansei em uma pedra à beira do caminho. Olhei para os lados e comecei a perceber o ambiente em que estava: árvores grandes e longas, musgos por toda parte. Os poucos vagalumes eram os únicos que iluminavam aquele lugar frio. Olhei para o chão de terra escura e chorei ao lembrar de papai e Liza. Recordei a promessa devota que fiz à minha mãe e chorei até que minhas lágrimas parassem de sair.
Levantei a cabeça e olhei para a espada de ouro e bronze que havia carregado comigo do grande castelo. Lembrei que já havia caçado um urso, mas me esqueci disso por conta das mordomias de Lídia. Agora, já escuro, percebi quanto tempo passei chorando descontroladamente. Segui uma trilha onde a terra parecia mais clara e batida, indicando que alguém já havia passado por ali. Olhei para a grande floresta escura, coberta por neblina, pensando em como uma casa tão grande quanto um castelo poderia estar em um lugar como aquele.
Continuei seguindo e ouvi um barulho como um passo veloz. Tentei associar o som a algum animal que eu havia caçado, mas não vinha Dana em minha mente, vi um vulto passando entre algumas árvores distantes. Logo, uma sombra grande, com braços longos, apareceu à minha frente. Seus dedos eram compridos e sua pele, cinza. O cheiro de podridão me deixou enojada; até minha respiração hesitava em sair. Corri o mais rápido que pude, até que meu pé lembrou da minha contusão. Cai e rolei sobre algumas folhas secas, batendo a cabeça em algo que parecia ser um tronco. Vi a criatura correr e saltar tão rápido que meus olhos não conseguiam acompanhá-la. A visão de uma caveira em seu rosto me aterrorizava, junto com o cheiro insuportável. Meu corpo, pesado por ter batido a cabeça, não me deixava levantar. Olhei, já pensando em quão brutal seria minha morte.
Foi então que vi Elain saltar sobre mim e agarrar o monstro, cortando seu pescoço com uma curta adaga. O sangue negro se espalhou sobre as folhas e galhos do chão. Elain me olhava friamente, como se o que acabara de fazer fosse parte do seu cotidiano. Ele veio em minha direção, enquanto eu me prendia às folhas secas do chão e fechava os olhos. Elain arfou, como se um sorriso neutro que não quisesse aparecer.
- Por que a surpresa? Até onde sei, você caçava para sustentar sua família.
Ele deu um sorriso de canto, como um deboche. Eu não sabia se ficava surpresa com o homem imponente que arfava e ria de forma sarcástica, ou se o contradizia em sua afronta. Ele saiu, ainda com a adaga cheia de sangue pingando pela trilha. Eu o observei, ainda em pânico com o que havia acontecido diante de mim. Olhei para ele até que, de costas, me olhou por cima do ombro.
- Vai ficar aí? Não me dê o trabalho de salvá-la novamente.
Agarrei o vestido e me levantei, um pouco irritada com sua arrogância. Ainda mancando, ergui forças e saí andando, seguindo sua trilha, até que ouvi o som de algo se rasgando. Não pude acreditar no grande rasgo que havia em meu vestido, deixando à mostra parte dos meus seios e pernas. Tentei me agachar e me cobrir com os retalhos do vestido, pensando como um vestido luxuoso como aquele poderia ser tão frágil. Elain, que ainda não havia notado a insistência do vestido, parou irritado e olhou para trás até me ver agachada, como um coelho prestes a morrer. Irritado, veio em minha direção, puxando meus braços para me acompanhar com sua força brutal, forçando-me a levantar e a largar os trapos do vestido que eu usava para me cobrir. Logo, ele me olhou surpreso e se virou rapidamente, como uma criança que nunca havia visto nada obsceno. Eu me cobri, envergonhada, tentando explicar a situação do vestido.
- Cale a boca e se cubra. Não me interessa o que aconteceu.
Agarrei os retalhos do vestido e, já cansada de seus desaforos, o alfinetei.
- Por que fala tão grosso e arrogante? Vai me fazer algo caso eu não me cubra?
Elain abaixou a cabeça e respondeu à minha afronta de maneira arrogante. Vi-o se aproximar como um convite, e em um piscar de olhos já estava à minha frente. Ele me jogou no chão e vi seus olhos, cheios de desejo de cor azul, passaram para um vermelho sangue vivo. Estavam tão perto dos meus, e sua respiração batia em meu rosto e retornava. Fechei a cara e disse a frase que me pegou de surpresa, como uma flecha em abate.
- Talvez eu vá.
Perdi a respiração por um segundo e virei meu rosto, evitando aquela sensação quente que nunca havia sentido. Elain se levantou rapidamente, como se não soubesse o que acabara de fazer. Seus olhos vermelhos sangue voltaram ao azul e logo se tornaram frios novamente. Ele se virou, irritado.
- Esqueça isso. Cubra-se e vamos.
Vendo que ainda estava lenta e desajeitada devido a ter que segurar o vestido, ele veio e me pegou em seu ombro, como um animal recém-abatido. Eu batia em suas costas, pedindo que me soltasse.
- Não me dê mais trabalho. Se eu a largar aqui, não sentirei falta ou me darei ao trabalho de procurá-la novamente, caso morra.
Calei-me e apenas aceitei a situação. Meus pensamentos diziam para correr, mas ao mesmo tempo me lembravam que estava praticamente despida em seus ombros
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Até Que A Morte Nos Separe
RomanceEm um mundo onde Féricos são separados de humanos, uma jovem é vendida para uma das côrte férica, mal sabia que iria descobrir uma realidade que não sabia ser presente em sua vida, o grão senhor Férico mal podia imaginar que sua vida poderia mudar t...