Eleven

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Dentro de casa.
Antes...

ISLA HAMILTON

A pandemia chegou como uma tempestade repentina, transformando a vida que eu conhecia em algo completamente diferente. Londres, normalmente vibrante e cheia de vida, agora estava envolta em um silêncio desconcertante, quebrado apenas pelos sons distantes de sirenes e pela chuva suave que caía sobre a cidade. Para mim, o confinamento em casa significava estar com Lewis, algo que eu sempre desejara, mas a realidade foi bem mais complicada do que eu imaginava.

Nos primeiros dias, a ideia de ter Lewis ao meu lado era quase mágica. Estar com ele em casa, longe das corridas e dos compromissos constantes, parecia um sonho. Esperava que esse tempo juntos fosse a oportunidade que precisávamos para nos reconectar, para redescobrir o amor que sentíamos um pelo outro. Aquelas semanas iniciais foram recheadas de esperanças e planos: cozinhamos juntos, assistimos a filmes e até tentamos algumas aulas de ioga online. Lembro-me de uma manhã ensolarada, onde decidi preparar um café da manhã especial. As panquecas que eu fazia eram suas favoritas, e quando coloquei a mesa, acrescentei flores do campo que havia colhido no jardim. O sorriso que se formou em seu rosto ao ver a mesa posta era tudo o que eu queria. — Uau, Isla! Você realmente se superou desta vez! ele exclamou, olhando para as panquecas empilhadas e o suco fresco ao lado. Mas à medida que os dias se transformavam em semanas, a realidade começou a se infiltrar nas fissuras da nossa relação.

Os ressentimentos acumulados ao longo do tempo, aqueles momentos em que eu me sentia abandonada por suas ausências, começaram a ressurgir. — Por que você não entende como eu me sinto? Era uma pergunta que ecoava na minha mente, mas que eu hesitava em verbalizar. E, à medida que o confinamento avançava, o ambiente que deveria ser aconchegante se transformou em uma prisão emocional. As tardes se arrastavam, e cada interação se tornava uma dança delicada entre o carinho e a frustração.

Lembro-me de um dia em particular, enquanto preparava o jantar. A luz da tarde filtrava-se pela janela da cozinha, criando sombras dançantes nas paredes. Estava picando cebolas, e as lágrimas que escorriam de meus olhos pareciam se misturar às que eu tentava conter. — Isla, você está bem? Lewis perguntou, saindo da sala. Ele estava ali, tão próximo e, ainda assim, tão distante. Eu queria que ele notasse a dor em meu olhar, mas tudo que consegui fazer foi acenar com a cabeça, engolindo o nó que se formava na minha garganta.

— Estou ótima. Só um pouco de cebola. Eu sabia que essa resposta era uma mentira, mas a ideia de abrir meu coração para ele naquele momento parecia assustadora. O que eu realmente queria era que ele me olhasse nos olhos e visse o que estava acontecendo, que percebesse que não éramos mais os mesmos. A pandemia havia intensificado a pressão sobre nós, e eu sentia que estávamos à beira de um precipício.

As noites eram particularmente difíceis. Colocávamos Ava para dormir, e quando finalmente nos encontrávamos no sofá, havia um silêncio palpável entre nós. O que antes era um espaço para risadas e conversas profundas agora se tornara um campo de batalha silencioso, onde ambos carregávamos nossas mágoas. Tentávamos assistir a um filme, mas eu não conseguia me concentrar. Cada cena parecia refletir nosso relacionamento, cheio de momentos felizes seguidos de desilusões. — Por que você não fala comigo? Eu finalmente perguntei, incapaz de aguentar mais a pressão.

Lewis olhou para mim, seu semblante confuso. — O que você quer que eu diga? Ele respondeu, com uma certa defensividade. O tom de sua voz não era hostil, mas havia um resquício de frustração. — Eu estou aqui, não estou? Mas isso não era suficiente. Estar fisicamente presente não era o mesmo que estar emocionalmente disponível. Eu queria que ele entendesse que a presença não substituía a conexão.

— Estar aqui não é suficiente, Lewis. As palavras saíram com mais força do que eu esperava. — Você está aqui, mas não está realmente aqui. Senti o peso do que eu disse, mas era verdade. — Eu preciso de você. Não só como pai, mas como meu parceiro.

Ele suspirou, parecendo pesar as palavras que iriam sair. — Eu sei, mas... a corrida, a pressão... tudo isso é muito para mim. Estou tentando lidar com isso também. A vulnerabilidade em sua voz me surpreendeu. No entanto, eu não podia deixar que ele se esquivasse do que realmente estava acontecendo. — E o que você está fazendo para isso? Perguntei, buscando sinceridade em sua resposta.

— Eu não sei. Estou tentando encontrar um equilíbrio, mas não consigo. Ele estava lutando, e eu via isso em seus olhos. — Você sabe que eu amo você, certo?

— Eu sei. Respondi, mas a resposta não me trouxe o alívio que eu esperava. — O amor não é suficiente quando estamos tão distantes, Lewis.

Ele se levantou, caminhando até a janela, e eu percebi que o peso da realidade estava caindo sobre nós. — Eu pensei que, ficando em casa, poderíamos consertar isso. Ele virou-se para mim, e havia uma tristeza genuína em seu olhar. — Eu realmente pensei que isso nos aproximaria.

— Era isso que eu esperava também. Fui honesta, mas a esperança que tinha se desvanecia. — Mas cada dia que passa, sinto que estou perdendo algo. Não sei se estamos mais no mesmo caminho. O medo de admitir isso para mim mesma era esmagador, mas a verdade era que eu estava me perguntando se o casamento ainda era o que eu realmente desejava.

As semanas passaram, e a rotina se estabeleceu. Com Ava em casa, as risadas dela eram a única luz em meio à escuridão que se instalava entre nós. Eu tentava manter a normalidade, criar um ambiente feliz para nossa filha, mas a tensão entre Lewis e eu se intensificava. Cada vez que ele se afastava, mesmo que fosse apenas para trabalhar em seu computador, eu me sentia mais isolada.

— Mãe, vamos brincar de novo? Ava perguntava, e a inocência dela me fazia sentir culpada. — Claro, meu amor. Eu sempre respondia, tentando afastar meus próprios pensamentos sombrios. As brincadeiras dela eram uma forma de escapar, e eu agarrava esses momentos como se fossem o único fio de esperança que me restava.

Nas tardes, quando o sol se punha e a luz dourada iluminava a sala, eu levava Ava para o jardim. Observá-la correr livremente, com seu sorriso radiante e a alegria pura em seus olhos, era um lembrete constante do que eu amava na vida. — Olha, mamãe! ela exclamava, enquanto girava ao redor de uma flor. — Eu sou uma borboleta! Eu ria, admirando sua imaginação, mas a realidade me arrastava de volta, e o peso no meu peito se tornava mais difícil de ignorar.

Um dia, enquanto brincávamos no jardim, avistei Lewis pela janela, em sua mesa, cercado por papéis e a tela do laptop. O contraste entre o mundo exterior, vibrante e cheio de vida, e a sua solidão me cortou como uma faca. Ele estava tão perto, mas ainda assim tão distante. Eu queria chamá-lo, puxá-lo para nosso mundo, mas algo me impedia. O orgulho? O medo? Eu não sabia.

Em uma manhã particularmente pesada, enquanto Ava desenhava na mesa da cozinha, eu me sentei no sofá, refletindo sobre tudo. Como eu havia chegado a esse ponto? Tentei me lembrar de quando tudo era mais simples, quando nossos sonhos se cruzavam sem barreiras. O amor que sentimos um pelo outro parecia estar tão distante agora. O que aconteceu conosco?

Depois de colocar Ava para dormir, decidi que precisava de um tempo para mim. Fui até a varanda, onde a luz da lua iluminava a escuridão, e respirei profundamente. Eu precisava encontrar clareza. O que eu realmente queria? Eu queria o Lewis que eu amava, aquele que dançava comigo na sala, que ria até chorar e que me fazia sentir viva. Mas a pressão das corridas e a vida pública estavam criando uma barreira entre nós.

Sentada ali, sob o céu estrelado, comecei a pensar em tudo que vivemos. As viagens que fizemos juntos, as risadas, os momentos em que a vida parecia perfeita. Eu me lembrei da primeira vez em que fui a um GP, das luzes brilhantes e da adrenalina. Ele estava tão vivo e apaixonado. E eu estava tão feliz por estar ao seu lado, apoiando-o em sua carreira. Mas agora, a paixão que nos unia parecia estar sendo sufocada pela rotina, pelas obrigações e pela pressão externa.

Enquanto eu contemplava a noite silenciosa, uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Era a dor da saudade e do desespero.

𝐈 𝐒𝐓𝐈𝐋𝐋 𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐘𝐎𝐔|| LEWIS HAMILTON Onde histórias criam vida. Descubra agora