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Entre o amor e a solidão.
Antes...

ISLA HAMILTON

O céu de Londres estava cinzento naquele dia, refletindo minha própria turbulência interna. Eu estava de pé na minha galeria de arte, cercada por telas vibrantes e esculturas que, em outras épocas, haviam me dado alegria. Mas agora, cada uma delas parecia uma lembrança distante de um tempo em que a vida era mais leve. A arte que costumava me inspirar estava agora coberta por uma sombra de desânimo. Meus pensamentos vagavam enquanto olhava pela janela, onde a chuva começava a cair, como se o céu estivesse compartilhando minha tristeza.

Lewis estava novamente fora, em mais uma corrida, e eu me sentia como uma mãe e esposa sozinha, presa em um ciclo de promessas não cumpridas e ausências. Eu sabia que ele amava a corrida, mas não conseguia evitar a sensação de abandono que crescia a cada dia que ele estava longe. O aniversário de três anos de casados havia sido um divisor de águas, um momento em que percebi o quanto estávamos distantes um do outro, apesar de toda a nossa história. As risadas, os abraços e a paixão que outrora preenchiam nossa casa agora davam lugar a discussões e silêncios desconfortáveis.

Naquela manhã, enquanto organizava algumas obras para a exposição que se aproximava, não pude deixar de lembrar da conversa que tivemos na noite anterior. Lewis havia tentado se justificar, mas eu precisava de mais do que palavras. Precisava de ações. O que eram promessas se não seguidas por atitudes? Eu havia tentado ser compreensiva, aceitando suas viagens e compromissos, mas a verdade era que a cada ausência sua, eu me sentia mais perdida. Ava, nossa pequena, com seus dois anos, começava a perceber a falta do pai. Cada vez que ela apontava para uma foto de Lewis e perguntava onde ele estava, meu coração se partia um pouco mais.

— Mamãe, onde está o papai? A pergunta inocente dela ecoava na minha mente, me deixando em um estado de reflexão. Como explicar para uma criança que o pai estava fora do país, correndo em altas velocidades, enquanto ela desejava apenas sua presença? Senti lágrimas se acumularem em meus olhos ao lembrar do brilho de seus olhos. Eu não posso continuar assim.

Fechei os olhos por um momento e respirei fundo, tentando afastar a dor. Eu sabia que precisava fazer algo, mas o que? A vida parecia um balançar constante entre amar Lewis e me sentir sozinha. Essa dualidade era opressora. Fui até a janela e olhei para as gotas de chuva escorrendo. Por que não conseguimos encontrar um equilíbrio? Me perguntei. Eu sabia que ele estava lutando, mas eu também estava.

A lembrança de nossa conversa veio à mente, e não consegui evitar o arrependimento. — Eu quero que você esteja aqui, Lewis. As palavras que eu havia dito eram verdadeiras. E cada vez que ele falhava em cumprir uma promessa, a dor se tornava mais intensa.

No entanto, havia também momentos de alegria. Quando ele estava presente, tudo parecia mais bonito. Eu me lembrava da vez em que ele trouxe Ava para a galeria enquanto eu trabalhava em uma nova exposição. Ele havia vestido uma camisa casual, com um sorriso no rosto que iluminou o ambiente. Ava correu em direção a ele, gritando — Papai! e, ao vê-los juntos, meu coração se encheu de amor. A conexão que tinham era pura e genuína, e eu queria que isso acontecesse mais vezes.

Mas a realidade das corridas e a vida de piloto continuavam a interferir. Ele estava sempre correndo, sempre ocupado, e eu não sabia como lidar com isso. — O que você espera de mim, Isla? Ele havia me perguntado uma vez, como se eu tivesse todas as respostas. Na verdade, não tinha. A única coisa que eu queria era que ele estivesse aqui, conosco.

Decidi que precisava me distrair, e peguei meu celular para verificar as mensagens. A galeria estava em alta, e os trabalhos de novos artistas me mantinham ocupada. Comecei a responder alguns e-mails e a planejar a próxima exposição, mas minha mente ainda vagava por pensamentos sobre Lewis. Ele deveria estar lá, ao meu lado, apoiando-me, compartilhando momentos. O telefone vibrou com uma notificação. Era uma mensagem de um amigo de Lewis, um lembrete de que a corrida em Mônaco estava prestes a começar. Eu sabia que ele estaria em frente às câmeras, cercado por jornalistas e fãs. O tipo de vida que ele amava e que, ao mesmo tempo, me deixava tão solitária.

Ava começou a chorar, e fui rapidamente ao seu quarto. Ela estava acordando de sua soneca, e seu rosto adorável iluminou meu coração. — Mamãe! Ela exclamou, estendendo os braços. Fui até ela, envolvi-a em um abraço apertado e respirei seu cheiro doce de bebê. A presença dela era um bálsamo para minha alma. — Está tudo bem, meu amor? Perguntei, tentando esconder minha própria dor.

— Cadê o papai? Ela perguntou, e eu senti uma faca me atravessar. Como eu poderia responder a isso? — Ele está trabalhando, querida. Tentei falar suavemente, mas a verdade era que eu não queria que Ava sentisse o que eu estava sentindo. — Vamos fazer um desenho juntos?

Sentei-me no chão com ela, pegando lápis de cor e papel, enquanto tentava me concentrar nas cores brilhantes que estavam diante de nós. Enquanto Ava desenhava, seu pequeno sorriso me dava esperança. Mas ao olhar para o desenho, percebi que ela tinha desenhado uma família. Todos nós juntos, mas sem Lewis. A imagem me fez sentir uma onda de tristeza e solidão.

Quando a noite chegou, coloquei Ava na cama e passei um tempo lendo para ela. No fundo da minha mente, eu sabia que a solidão só estava aumentando. Precisava encontrar uma maneira de lidar com tudo isso. Precisava falar com Lewis novamente, mas desta vez, de maneira diferente. Em vez de simplesmente expressar minha dor, eu precisava ser clara sobre o que eu realmente queria.

O telefone estava na mesa, e a tentação de mandar uma mensagem a Lewis era grande. Eu sabia que ele estava ocupado, mas uma parte de mim queria que ele soubesse como me sentia. Peguei o celular, hesitei por um momento e, finalmente, digitei: "Oi, amor. Preciso conversar quando você puder. Sinto que estamos perdendo algo importante entre nós."

Enviei a mensagem e me senti um pouco mais leve. Agora era esperar que ele respondesse, o que me deixou ansiosa. Olhei para o relógio, lembrando-me de que a corrida estava acontecendo. Espero que ele esteja seguro, pensei, enquanto uma mistura de preocupação e amor se instalava em meu coração. Eu só quero que ele encontre um equilíbrio.

Naquela noite, a solidão se instalou, mas eu não desisti. Eu sabia que nosso amor era forte o suficiente para superar os desafios. Só precisava de um tempo para encontrar um caminho juntos, um caminho que nos levasse de volta ao que éramos. O peso da ausência de Lewis era pesado, mas a esperança ainda brilhava, mesmo que fosse uma luz distante. Enquanto me deitava na cama, olhei para o teto e sussurrei: "Estamos juntos nisso, mesmo que às vezes pareça que estamos longe."

𝐈 𝐒𝐓𝐈𝐋𝐋 𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐘𝐎𝐔|| LEWIS HAMILTON Onde histórias criam vida. Descubra agora