Momentos

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Malia Simphiwe Baker

Saí do quarto com cautela, meus movimentos eram precisos e silenciosos. Ao chegar ao corredor que levava à sala, vi algumas figuras encapuzadas, seus rostos cobertos por máscaras que ocultavam qualquer expressão. O ambiente estava pesado, o tipo de tensão que antecede o caos.

Fiquei parada por um momento, avaliando o grupo. Um deles chamou minha atenção. Ele estava calmo demais, relaxado, como se nada pudesse tocá-lo. "Erro de principiante," pensei, enquanto um sorriso frio se formava em meus lábios.

Com um movimento ágil, saquei a arma que carregava no quadril, sentindo a familiaridade do metal frio contra minha pele. Mirei diretamente na cabeça dele, o laser vermelho traçando um caminho mortal até sua têmpora. O resto do grupo ainda estava alheio à minha presença, uma vantagem que eu não deixaria passar.

Sem hesitar, disparei. O som seco ecoou pelo corredor, o corpo do homem caiu sem um som sequer. Me movi rapidamente, correndo para outro ponto estratégico, mais distante de onde Kylie estava. Precisava criar uma distração para proteger ela e os outros. Mirei na janela da sala e, com um tiro preciso, estilhaçei o vidro.

O som de vidro quebrado reverberou no ar, e a maioria dos encapuzados imediatamente voltou para a sala, atraídos pela confusão. Perfeito.

Enquanto eles se dispersavam em direção à sala, aproveitei o momento para recuar, sentindo a dor no meu abdômen latejar com mais força. O ferimento estava piorando, mas eu tinha que continuar. Kylie ainda estava em meu quarto, e meu foco principal era garantir sua segurança.

Ouvi passos atrás de mim e me preparei para reagir, mas quando virei, era Jadah. Ela me olhou, o rosto sério.

— Temos que tirar você daqui. — ela disse em voz baixa, olhando para o sangue que já manchava minha roupa.

— E deixar eles com Kylie? — perguntei, sentindo a ira crescer dentro de mim.

Jadah hesitou, mas antes que pudesse responder, Kylie apareceu no fim do corredor, seus olhos encontraram os meus. Ela correu até mim, ignorando tudo ao redor.

— Maliki, você não pode continuar assim. — ela disse, ofegante, mas determinada.

Antes que eu pudesse protestar, ela pegou minha mão e começou a me puxar para uma saída lateral. Eu sabia que estava vulnerável, mas o calor da mão dela na minha era a única coisa que me mantinha de pé.

— Vamos para o bunker. — Jadah instruiu, liderando o caminho.

Mais tiros foram ouvidos ao longe, mas nossa prioridade agora era nos reagrupar. Kylie não soltou minha mão o caminho inteiro. Cada vez que eu olhava para ela, via a preocupação em seus olhos, mas também a força. Ela não iria me deixar cair.

Quando finalmente chegamos ao bunker, uma pequena sala escondida nos fundos da casa, Jadah fechou a porta pesada atrás de nós. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.

— Você... precisa descansar. — Kylie disse, quase em um sussurro, enquanto me ajudava a me sentar.

Eu a encarei, tentando encontrar palavras, mas a exaustão finalmente estava me dominando. Antes de desmaiar, o último pensamento que passou pela minha mente foi sobre como eu faria qualquer coisa para proteger Kylie... até mesmo queimar o mundo, se fosse necessário.

Kylie Lorena Cantrall

"Em que eu fui me meter? Por que isso tem que ser tão difícil? Malia, por que você escolheu esse caminho?" Esses pensamentos rodopiavam na minha cabeça sem parar.

Eu estava perdida, tentando estancar o sangue que saía do ferimento de Malia, enquanto o desespero ameaçava tomar conta. Os pontos haviam se rompido, e a situação estava ficando feia. Então, Jadah entrou no bunker com uma maleta de primeiros socorros em mãos.

— Ainda bem que a gente já ia sair daqui semana que vem. A casa tá um caos. — ela comentou, como se estivesse falando do clima. — Muitos corpos, tive que dar cabo num novato ferido, mas nada que não dê pra resolver.

Eu a olhei horrorizada. Ela falava como se estivesse numa manicure, comentando algo sem importância. Anna percebeu minha expressão e riu.

— Vai ter que se acostumar com essa vida sangrenta, chefe. — provocou, com uma pontinha de diversão nos olhos. Jadah concordou, enquanto começava a refazer os pontos de Malia.

— A Kylie ainda não é chefe, mas é bom já ir se acostumando, não é, amor? — Jadah comentou, lançando um olhar para Anna, que assentiu com um som nasal de aprovação.

Eu não aguentei mais e me manifestei:

— Como assim “chefe”?

Jadah suspirou, sem tirar os olhos do ferimento de Malia, enquanto respondia:

— Olha, você vai casar com a Malia, certo? Isso automaticamente te torna uma figura importante. Ou você assume algumas responsabilidades ou… — ela deu de ombros, não completando a frase.

— Ou fico como uma "esposa troféu" que vai ser traída? — exclamei, incrédula.

Antes que qualquer uma das duas pudesse responder, a voz fraca de Malia ecoou no ambiente.

— Nunca te trairia. — disse ela, o tom carregado de convicção, mesmo em sua condição debilitada. — Nunca olhei pra mais ninguém desde que fui para o Canadá.

O alívio que senti ao ouvir aquelas palavras foi indescritível. Me aproximei dela, segurando sua mão com cuidado. Ela estava visivelmente cansada, mas não desviava os olhos dos meus.

— Malia... — sussurrei, apertando sua mão. — Você realmente quer que eu fique ao seu lado... desse jeito?

Ela tentou sorrir, o rosto ainda pálido pela perda de sangue, mas seus olhos estavam firmes.

— Sim, Kylie. Eu preciso de você. Mas você só fica se for por escolha própria. Nunca vou te prender a nada que você não queira. — ela respirou fundo, antes de continuar — Eu sei que o caminho é difícil, mas... é o que eu conheço. E ter você comigo me dá forças.

Senti uma onda de emoções contraditórias. O amor que eu sentia por ela era forte, mas o que ela vivia era intenso demais, um mundo que eu jamais havia imaginado para mim. Fiquei ali, observando-a enquanto Jadah terminava o curativo e trocava algumas palavras baixas com Anna.

Quando Jadah se levantou, lançou-me um olhar de aviso.

— Ela vai precisar de descanso, Kylie. Se precisar, eu e Anna cuidamos do que for necessário lá fora.

Assenti e fiquei ao lado de Malia, observando seu rosto relaxar aos poucos. Quando a porta se fechou e ficamos sozinhas, acariciei seu rosto levemente, sentindo a respiração dela mais calma.

O que eu estava fazendo ali? Era arriscado e assustador, mas o que sentíamos era verdadeiro.

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⏰ Última atualização: Oct 31 ⏰

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