18 - Coração

20 2 1
                                    

Dirigi com Luis Guilherme desacordado por quase três horas até chegar no meu destino. Vez ou outra que ele teimava em acordar, eu o acertava com mais um choque e ele dormia como uma princesa. De início segui o rito de sempre, o fiz levantar do carro, ainda meio grogue, pus a arma em sua cabeça até que entrasse dentro da casa. Lá dei-lhe uma coronhada o desmaiando novamente para que eu pudesse amarrá-lo e amordaça-lo corretamente. Tudo em cima de uma lona grossa obviamente, não gosto de sangue no meu carpete e como vocês já sabem, facilita o descarte.

Normalmente depois de pronto o acordaria com um balde de água mas desta vez apenas sentei e fiquei o observando, deitado no chão, acorrentado, sujo, indefeso, você não parece tão perigoso agora não é? Mas tinha algo mais, esse Luis Guilherme, ele se parecia tanto com o outro, com o original, o que eu realmente queria. O cabelo, o olhar presunçoso, o porte físico, o humor patético, até o timbre abobalhado da voz. Era quase como se eu pudesse vê-lo ali, deitado na minha frente e me questionei, e se fosse o verdadeiro, o que eu faria?

Não sei quantos minutos exatos se passaram, até que ele acordou. Ainda meio zonzo e bastante fraco. Como todos os outros assim que viu suas condições começou a se debater tentando em vão arrancar as mordaças e fitas adesivas. Continuei fitando-o com tédio até que se acalmasse.

_Pronto? Já acabou? – Perguntei sem esboçar muita reação, ele me olhou apavorado. – Você quer que eu tire a fita da sua boca? – Ele assentiu com a cabeça. – Certo, eu vou tirar, mas antes precisamos combinar que você não vai começar a gritar ok? Primeiro porque estamos completamente isolados aqui e ninguém vai te ouvir e segundo porque estou com uma ressaca maldita e se você gritar minha cabeça vai explodir e nós não queremos isso não é?

Me aproximei e arranquei a fita da sua boca. Ele puxou o ar com toda a força que pode, era nítido que estava exausto e apavorado.

_Por que... por...

_Porque eu estou fazendo isso? – O interrompi revirando os olhos. – Céus, vocês são realmente todos iguais? Eu já escutei isso tantas vezes Luis, que você não acreditaria. As vezes chego a me perguntar se isso não vai me intediar um dia... Acho que eu deveria começar a arrancar a língua de vocês também, não seria uma má ideia. – E realmente naquele momento não me parecia.

_Você é maluca! – Ele gritou – Você queria, você que me chamou pro carro sua puta.

Revirei os olhos, tá aí um adjetivo que eu ouvia quase sempre quando os rapazes percebiam que iam morrer e que sempre me deixava realmente puta, mas de ódio, no caso. Coloquei meu soco inglês entre os dedos e dei-lhe um murro na boca com o máximo de força que pude. Consegui ver sua mandíbula chacoalhar e um espirro de sangue voar. Ele tombou para trás, mas se levantou rapidamente gemendo com lágrimas nos olhos.

_Meus deuses, você é realmente tão estupido quanto ele. – Sorri, chegava a ser hilário, realmente Matheus acertou neste aí. – Não foi pelo carro seu idiota, não que aquilo não fosse motivo suficiente. – Me aproximei dele- Foi pela Carla e o Rafael.

Vi seu rosto branco ficar amarelo com a menção do nome da ex e do filho. Parecia que finalmente sua ficha havia caído.

_Não, você não entendeu, a Carla, aquela mulher ela é... ela é louca! – Ele grunhiu.

_Louca...assim como eu não é?

Sorri para ele, não queria mais ouvir sua voz, não tinha porque ouvir.

Desta vez não peguei meu bastão. Queria senti-lo, queria-o próximo e queria que fosse lento. Montei sobre ele com o soco inglês ainda nos dedos e comecei a golpeá-lo repetidamente, não faço ideia de quantas vezes soquei seu rosto. Devo ter ficado uns dez minutos ali, só sentindo os ossos de sua face se quebrarem. Meus punhos e braços latejavam, seu rosto estava desfigurado, os olhos haviam afundado no crânio junto com o nariz, os dentes estavam caindo e se desprendendo e pedaços do lábio se desgrudaram da carne. Ele ainda respirava, mas de forma fraca e lenta, ainda tentava se mexer, mas não passava de um pedaço de carne moribumda. O restante do corpo estava intacto, exceto pelos pingos de sangue.

Acho que foi a primeira vez desde que comecei a matar que deixei o corpo intacto, geralmente tudo vira carnificina em minutos, aquilo de alguma forma, me despertou algo. Olhei para seu peito e o vi se movimentando para cima e para baixo, tentando respirar, o coração pulsando, ainda querendo sobreviver. Apertei a trava do meu soco inglês e dele saiu uma pequena lâmina, não fazia grande estrago, mas já retirava um pouco de sangue.

Passei a lâmina pelo seu peito entre as duas costelas, bem no meio e afundei. A lâmina era curta demais para atingir um órgão, mas senti seu corpo sacudir com a dor. Precisava ir mais fundo. Peguei meu Athame, aquele que vocês já conhecem, coloquei em cima da ferida recém aberta e o afundei. Senti cada centímetro rasgando sua carne, penetrando-o. Puxei o punhal para fora e o posicionei um pouco mais para baixo e afundei novamente. O sangue jorrava e escorria pela sua barriga, eu não sabia se estava vivo ou morto durante o processo, mas quando dei a última punhalada abrindo toda sua caixa toráxica, ele já não se movia.

Então estávamos ali, eu e Luis Guilherme. Seu rosto, apenas um amontoado de carne e ossos, seu peito completamente aberto diante de mim, para mim. Eu não pensei, só fui atingida por um impulso súbito, enfiei minha mão dentro dele. Pude sentir sua carne, seus órgãos, suas entranhas; então eu o senti, o mais importante de todos o coração. Acreditem ou não ele ainda pulsava, muito pouco, era quase como um ultimo sussurro de socorro. Aquilo me deixou um êxtase. Eu estava ali, segurando a vida daquele ser em minhas mãos. Foi uma das mais prazerosas  sensações que já senti.

Naquele momento, com seu coração em minhas mãos, eu tive outro ímpeto. Um muito mais assustador e blasfemo que manterei em sigilo por enquanto. Fiquei alguns minutos ali, encarando aquele órgão em minhas mãos, enquanto lutava contra esta impulsividade e daquela vez, consegui deixa-la de lado. Mas decidi preservar o coração, coloquei-o em um saco vedante e coloquei no refrigerador. Ainda não sabia o que faria com ele, mas posso lhes garantir que nenhuma das ideias vai lhes parecer apetitosa.

Geralmente deixo a parte de remover o pênis para Matheus, mas como Luis Guilherme já havia feito questão de me mostrar seu coleguinha, preferi fazer o trabalho completo. Esperei por alguns minutos para que o sangue pudesse coagular e não fazer tanta bagunça; eu sei, é um pouco irônico pensar assim depois de uma carnificina, mas o que posso dizer, gosto que meu trabalho seja bem apresentado; peguei a tesoura de jardinagem e o cortei, guardei na geladeira para que ficasse preservado até que Matheus se desfizesse dele no dia seguinte.

Liguei para ele e em menos de 40 minutos ele já estava lá, a posto, feito um bom cão de guarda. Já vestia suas luvas e tinha uma toca em sua cabeça. Entrou pela porta com um sorriso de canto a canto e foi direto para o corpo. O procedimento era o era o mesmo de sempre, ele já estava treinado.

_Minha senhora, a senhora não quis me esperar para se desfazer do órgão, sei que não gosta muito desta parte... – Perguntou Matheus enquanto começava a enrolar o corpo na lona.

_Este eu fiz questão. – Respondi encostada na parede, ainda suja de sangue, não estava com muita pressa para me lavar.

_Claro, como preferir, minha senhora. É...minha senhora? – Ele me olhou – Se me permite perguntar, por que a senhora arrancou o coração dele?

O olhei de volta.

_Porque ele arrancou o de várias pessoas Matheus

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

_Porque ele arrancou o de várias pessoas Matheus.


A Dama de Vermelho - O olhar de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora