12 - A Mulher Montada na Besta

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                Então o primeiro já estava finalizado, não o primeiro dos primeiros, mas o primeiro de um novo ciclo. Obviamente ele não poderá ser da forma que eu sempre sonhei, uma nova dica para vocês leitores, por maior que seja sua raiva, nunca mate pessoas que possam ter ligação com você. Os crimes mais fáceis de serem resolvidos são os passionais, mas nem tudo está perdido, existem formas alternativas de chegarmos à nossa verdadeira intenção; arrumar substitutos.

É claro, não funcionará para qualquer um, requer um certo senso de criatividade e imaginação, mas se você conseguir viver a fantasia, se torna quase um ato mágico. Um exemplo que usamos no dia a dia são imagens, as imagens de santos, deuses, guias e orixás, sabemos que são apenas imagens, não são os seres reais, mas ainda assim oramos a elas, acendemos velas, fazemos oferendas. Criamos um vínculo mental entre o objeto e o ser que queremos nos conectar e se você for um excelente visualizador e tiver uma fé inabalável, acreditará que aquela imagem é de fato o ser.

Não me julguem mal, eu não sou do tipo da fé cega. Tendo a ser bem analítica, mas ora, posso usar as leis da magia ao meu favor. O Todo é mente, o todo está em tudo e tudo está no todo, o universo é mental, logo se eu visualizo e acredito, tornar-se-á real. Eu não podia tê-los, como eu queria, logo, comecei a achar substitutos, ainda faltam cinco e o melhor ficará para o final.

Depois de uma longa noite de sangue, gritos, tortura e mutilação de órgãos eu merecia um descanso. No meu recanto de paz tudo era calmo. O sol brilhava em um céu de infinito azul e refletia na imensa lagoa quase se tornando um. Ao longe era possível ver peixes subindo a superfície para se alimentar ou buscar ar, verdade seja dita, nossa lagoa se tornava cada dia mais repleta de vida. É uma coisa assustadora de se pensar, não é? A quantidade de vida que a morte gera. O ciclo sem fim, matéria orgânica se transformando em alimento básico da cadeia alimentar, sustentando milhões de outras espécies. Ao meu ver, aquilo era arte, a arte da vida real.

Coloquei o maço de cigarro e a xícara de café sob a mesa e me dirigi para a parte de terra próxima às minhas hortaliças, afastei um pouco a poeira por sob a alavanca, puxei com força para o lado e ouvi o estatelar do trinco se abrindo, fiz um pouco de força para trás e abri a enorme porta de metal que levava direto a uma escada para o caminho de baixo.

_Você não comeu seu café da manhã. – Eu disse sentando me à uma poltrona vermelha que ficava logo ao lado do fim da escada.

_Eu não quero comer, eu quero sair daqui.

Cada um de seus braços continha uma algema que estava ligada a uma corrente, está corrente por sua vez, engenhosamente ligada a um sistema elétrico no teto que me permitia erguer a pessoa sempre que eu precisasse olhar em seus olhos, mas como não sou um monstro, a deixava frouxa a maior parte do tempo, logo sobrava espaço para se deitar na cama, e até ir ao banheiro, afinal de contas, acesso à higiene é um direito de todos e quem sou eu para privar alguém.

_Você e eu sabemos que a esta altura do campeonato isso não será possível. - Respondi.

_Aurora, por favor, eu não sei o porque você está fazendo isso, mas podemos resolver. – Sua voz é um gemido choroso nauseante.

_As pessoas realmente são todas iguais não é – eu disse revirando os olhos e suspirando fundo, a ignorância sempre me incomodou, não precisa ser nenhum gênio para saber que se alguém conhecido lhe sequestrou, você nunca será solto. – Você é uma pessoa inteligente, pense um pouco, quais as chances de eu te soltar? – Minha postura permanecia relaxada, todo o seu esforço era vão, seu destino estava traçado no momento em que entrou ali.

A Dama de Vermelho - O olhar de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora