Vê-la deitada assim na cama, desacordada, tão vulnerável, não posso negar, é no mínimo um deleite. Até o momento tudo estava ocorrendo como planejado, Amanda havia participado da cerimônia, dando a mim e a Yara um álibe para a taça que Matheus estava desovando naquele exato momento, a taça com o pênis de Luis Guilherme. E não podemos deixar de apreciar o bônus que foi ver Amanda aos pés do meu altar.
É claro que aquilo ia muito além disso, vocês sabem leitores, sou uma pessoa que gosta da adoração e vê-la beijando minha mão me apetece muito, mas em momentos como aquele tudo precisa deixar de ser sobre mim. Eu me torno apenas um veículo, afinal de contas esta é a função de uma Sacerdotisa, conectar-se com os deuses para propagar sua mensagem. Por mais tentador que fosse, não há espaço para ego. Não é sobre mim, é sobre a Deusa e todos os demais deuses que nos propomos a receber e cultuar naquele lugar.
É obvio que a lógica de Amanda a impediria de enxergar desta forma inicialmente. Tenho a plena certeza que o tempo todo que ela esteve lá, ela teve que colocar seu racional e seus sentires para brigarem. Não tenho muito duvidas que por fim, ela se convenceria a achar explicações racionais para tudo que viu e sentiu, faz parte da essência dela, o que honestamente torna tudo mais divertido. Quebrar sua lógica é no mínimo excitante e eu tenho certeza que por mais que sua razão gritasse, ela sentiu algo, algo que no fundo, ela sabe que vai além do mundo físico.
Mas eu tenho coisas em comum com você Amanda, também sou uma mulher racional e sendo racional sei que preciso de um pouco mais do que só suas sensações para te convencer de algo, por isso eu tenho uma carta na manga.
No momento em que Amanda se ajoelhou e seus lábios tocaram minha mão, algo realmente aconteceu, algo real, algo que eu não planejara. Eu não tinha ciência do que aconteceria antes de acontecer, mas a deusa fala e eu ouço e eu ouvi suas palavras e ela me mostrou, me mostrou o seu toque em Amanda e eu sei que aquilo foi real.
Yara estava sentada ao lado da cama com uma toalha úmida na testa de Amanda, o restante das pessoas já haviam indo embora. Vi Amanda se remexer lentamente e abrir os olhos, provavelmente estava confusa e talvez um pouco assustada, por isso achei mais lógico deixar Yara perto dela, creio que sua presença seja mais bem recebida que a minha. Fiquei sentada em uma poltrona no canto do quarto terminando um cigarro.
_Onde...onde eu estou? - Perguntou Amanda tentando se levantar ainda meio zonza.
_Calma, não se levante assim tão rápido, você pode sentir alguma tontura. - Disse Yara auxiliando-a a se sentar.
_O que houve? - Amanda disse tentando recobrar a consciência.
_Você desmaiou. - Yara respondeu oferecendo água a ela.
_Eu o que? Não eu não... eu nunca desmaiei. - Amanda parecia extremamente confusa e já ameaçava querer levantar da cama novamente.
Certamente desmaiar na frente de uma serial killer não é a escolha pro seu domingo ideal.
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A Dama de Vermelho - O olhar de uma assassina
Misterio / SuspensoAs pessoas costumam dizer que a primeira vez você nunca esquece e não foi diferente comigo. Eu me lembro de tudo. Do vento frio e seco, do cheiro de mato recém cortado misturado com ferro, eu me lembro dos sons, dos gemidos de agonia que não tiveram...