- Através da pequena porta

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( Desde o primeiro instante em que estive na presença de Lady Dimitrescu, indaguei-me sobre todas as histórias e murmúrios que ousaram pronunciar sobre sua figura

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( Desde o primeiro instante em que estive na presença de Lady Dimitrescu, indaguei-me sobre todas as histórias e murmúrios que ousaram pronunciar sobre sua figura. Não sei ao certo o que ela deseja de mim, mas há algo de que estou convicta: "eu a quero". Como poderia um demônio me trazer consolo? Alcina cuida de mim, ou pelo menos parece ter algum afeto... Desde o momento em que vim parar em castelo, minha vida transformou-se de maneira que jamais imaginei. Vi e fiz coisas que em tempos passados sequer ousaria imaginar; absurdos que dilacerariam qualquer alma mais branda. Contudo, com o passar dos dias, acabei me acostumando a tais horrores.

Ter Alcina ao meu lado é como caminhar ao lado de um anjo – não daqueles puros, idealizados, mas de um ser enigmático, intrinsecamente ligado ao bem e ao mal. Quando trouxe minha pequena Eliza para perto de mim, senti a complexidade desse laço aflorar. Alcina pareceu verdadeiramente importar-se, o que apenas semeou mais confusão em minha alma. Será possível que Lady Dimitrescu nutra sentimentos por mim? Em sua companhia, encontrei uma sensação que jamais experimentei – a de não ser uma estrangeira neste mundo tenebroso.)

Abri os olhos lentamente, permitindo que a luz suave do dia me invadisse aos poucos. Com ternura, acariciei o delicado rosto de Eliza, ainda entregue ao sono ao meu lado, e depositei um beijo suave em sua testa.

- Eu queria tanto que você ficasse... - murmurei, como se minhas palavras pudessem atravessar os sonhos dela.

Meus olhos vagaram pela penumbra do quarto até repousarem nas curvas inebriantes de Lady Dimitrescu. Inclinei-me levemente sobre a cama para observá-la com mais atenção. Como sempre, seus lábios mantinham o rubor profundo e soturno de um vinho envelhecido, uma cor tão característica que parecia ser uma extensão natural dela. Sua pele, alva como mármore, contrastava com os cabelos negros que moldavam seu rosto de uma beleza quase etérea.

- Tão linda... -  sussurrei, quase sem me dar conta de que deixava escapar tal admiração.

Enquanto a contemplava, vi-a despertar, e seus olhos encontraram os meus com aquele impacto arrebatador que somente Alcina parecia possuir. Havia algo inquietante no modo como seu olhar repousava sobre mim; era como se pudesse ver, sem barreiras, tudo o que minha mente ousava pensar. Era um olhar que penetrava minhas defesas, sondava os recantos mais obscuros da minha alma, como se ela pudesse julgar meus segredos e perscrutar as sombras das intenções que nascem quando estou ao seu lado.

Alcina ergueu-se lentamente, seus movimentos tão deliberados quanto predatórios. Com um sorriso tênue, ela fitou Eliza adormecida e, em seguida, fixou o olhar em mim, seus lábios curvando-se em algo entre um convite e uma promessa.

- Vejo que minha petile já despertou - murmurou com a voz baixa e rouca, como um suspiro que reverberava em uma catedral de pedras.

Seus dedos longos roçaram minha face, firmes, porém delicados, e um estremecimento percorreu meu corpo sob o toque dela.

The Devil in Silk || Lady DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora