Lady Dimitrescu***- Quero que cuide dela, Morgana, que a mantenha sempre segura - ordenei à mulher que estava atrás de mim enquanto eu adentrava a porta dos meus aposentos.
- Às vossas ordens, Madame. Mas, se não for invasivo demais, por que tanta preocupação com ela? Afinal, não passa de um bichinho humano. - Morgana respondeu com aquele tom debochado que tanto me irritava. Detesto ser tratada assim, exceto quando se trata das minhas filhas.
- Fala direito da menina, ela é apenas uma criança! - repreendi-a de forma ríspida, fazendo-a engolir em seco.
- Mas, respondendo à sua pergunta, querida, ela é importante para Abigail, e, sendo assim, passa a ser importante para mim também. - Respondi, sincera. Morgana era a única a quem eu confiava assuntos tão pessoais; sabia que jamais ousaria espalhá-los, ou eu mesma faria questão de fatiar seu corpo pedaço por pedaço, entregando-o como alimento às minhas filhas.
- Então... realmente gosta dela, não é, Lady? - Morgana perguntou, enquanto se sentava em minha cama, observando-me através do espelho da penteadeira. Respirei fundo e olhei meu reflexo. Nunca havia sentido algo semelhante por um humano, ou, ao menos, não me recordo de tal coisa após o Cadou. Contudo, o que sinto por Abigail transcende o mero desejo carnal; não é apenas querer possuí-la ou sentir prazer. É a urgência de protegê-la, de tê-la perto, de sentir seu perfume adocicado, de perder-me no verde cristalino dos seus olhos, nos quais consigo enxergar uma alma pura.
Sei que Abigail pensa em mim, e que se sente curiosa. Percebo a forma que seu corpo se integra a mim, a forma que ela me olha e mesmo com desejo, consigo ver a malícia e luxúria em seus olhos mas ao mesmo tempo vejo um olhar de uma puritana. Ela não é como as outras. Em vez de fugir, ela busca aconchego em meus braços, como se, de alguma forma, eu fosse sua segurança.
- Eu a amo, Morgana - confessei, fitando a mulher pelo espelho.
- De verdade? Não é só porque quer... bem, fodê-la? - perguntou Morgana, visivelmente surpresa.
- Não, Morgana. Aquela menina-mulher mexeu comigo desde o primeiro momento em que meus olhos penetraram os dela. Desde o instante em que ela poderia ter fugido deste castelo, fugido de mim, que sou um demônio em terra, e ainda assim escolheu ficar.
- Isso é loucura! - disse Morgana, rindo. - Como pode? - Ela parecia perdida em pensamentos, tentando entender.
- Eu mesma não compreendo o caos que sinto, Morgana...- Suspirei.
- Agora, preciso ir ver minha pequena. Faça um bom trabalho protegendo a garota, Morgana.
Com essas palavras, deixei o quarto e caminhei em direção aos aposentos de Abigail. Por mais que meus sentimentos fossem intensos, eu não podia me permitir demonstrá-los abertamente. Mantinha minha elegância e compostura, pois essa era minha essência. Meus passos ressoavam pelos corredores de mármore do castelo, o som dos saltos ecoando pela vastidão fria.
Com um movimento lento, abri a porta do quarto dela e me inclinei para passar pela entrada.
- Draga mea? - chamei, percorrendo o local com o olhar, mas Abigail não estava ali. Senti um frio inquietante no peito. Eu mesma lhe dera liberdade para andar pelo castelo, mas alguma coisa me dizia que algo estava errado. A preocupação crescia, e, com urgência, percorri cada canto do castelo, mas não a encontrei em lugar algum.
- Que droga, Abigail! Me fez ter sentimentos por você! Pra no final fugir e me deixar só... eu não devia ter acreditado em você.... - murmurei enquanto me dirigia ao jardim, a esperança esvaindo-se a cada passo.
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The Devil in Silk || Lady Dimitrescu
Historical FictionAbigail vive uma existência sufocante, marcada pelo desprezo implacável de sua mãe e os olhares abusivos de seu padrasto. Sobrecarregada por tarefas e sofrimento, ela anseia por liberdade, mas sua única fuga parece ser a densa floresta que cerca a v...