- O jantar

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Como de costume, o percurso foi em silêncio, quebrado apenas pelo som dos saltos de Lady Dimitrescu, ressoando com precisão contra o mármore do chão. O clima havia se tornado estranho desde que mencionei o nome de Cassandra novamente. Parecia que algo naquela menção perturbava Alcina, como se houvesse algum tipo de ligação entre nós duas, uma conexão que eu não compreendia. Ou talvez... seria este castelo a me fazer ter alucinações? Um pensamento tão inusitado me fez rir involuntariamente, e imediatamente levei a mão à boca, tentando conter o som. Lady Dimitrescu me lançou um olhar confuso, mas nada disse, apenas continuou sua caminhada imponente pelos corredores escurecidos.

Ao chegarmos ao salão, deparei-me com uma mesa grandiosamente posta. No entanto, algo me chamou a atenção: onde estariam as filhas da Lady? Será que não tinham simpatizado comigo? Aquela possibilidade me causava inquietação.

Alcina, em um gesto que misturava elegância e uma surpreendente gentileza, puxou uma cadeira para que eu me acomodasse e, em seguida, tomou seu lugar na cadeira maior ao meu lado. Embora soubesse que estava longe de qualquer intimidade com aquela mulher poderosa, a proximidade começava a me fazer sentir uma familiaridade estranha e proibida. Arrisquei uma pergunta, na esperança de entender a ausência das filhas:

- Lady... Suas filhas não nos acompanharão durante o jantar?

- Infelizmente, não, draga mea -  respondeu ela, enquanto me passava um prato para que eu me servisse. Sua voz era suave, mas carregava um toque de mistério, como se escondesse algo.

- Eu fiz algo errado? -  perguntei, a insegurança transparecendo em minha voz mais do que eu queria. - Elas não gostaram de mim?

Alcina deu um leve sorriso, aquele tipo de sorriso que me fazia sentir tanto alívio quanto desconforto, e respondeu:

- Pelo contrário, draga mea, para minha surpresa, elas gostaram muito de você. Mas, no momento, estão ocupadas.

- Ah, sim... - murmurei, abaixando o olhar, ainda um pouco decepcionada.

Após um breve silêncio, Alcina sorriu de maneira enigmática e disse:

- Tenho algo para você...

- Tem? O que seria? - perguntei, a curiosidade crescendo em meu peito.

Alcina ergueu-se ligeiramente e, com uma voz firme que ecoou pelos corredores do castelo, chamou:

- Morgana!

O som intenso de sua voz me fez estremecer. Morgana? Quem seria? Seria ela mais uma das criadas? Antes que pudesse ponderar mais, uma densa fumaça começou a se espalhar pelo corredor. Por um instante, senti um calafrio, como se o próprio castelo estivesse tomado por um incêndio. Mas, ao observar melhor, percebi que a fumaça era etérea, quase mágica, como se emanasse de uma fonte sobrenatural.

Forçando os olhos, notei duas silhuetas emergindo da névoa, uma figura adulta e uma pequena, que mais parecia uma criança. A visão era tão inesperada que minha mente sequer conseguia identificar quem ou o que eram. As formas foram se definindo lentamente, notei que a mulher mais velha possuía uma beleza mística e irreal... assim como Alcina. Meus olhos percorreram a pequena criança, eu a vi puxar o braço daquela mulher, como quem pedia permissão, e logo apontar o dedo em nossa direção. Meu coração parou ao reconhecer o rosto da figura menor. Não podia ser...!

- Abiiiiiiiiii! - A voz infantil ecoou, e eu me levantei abruptamente, incrédula. Era Eliza! Ela correu ao meu encontro com os braços abertos, vestindo um pequeno vestido azul e ostentando seus cachinhos loiros. Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver minha irmãzinha, a quem eu tanto amava.

- Ah, minha pequena! - murmurei, abraçando-a com todo o carinho do mundo, sentindo seu pequeno corpo contra o meu.

- Senti saudade, Abi! -  disse ela, com uma voz trêmula, enquanto afundava o rostinho em meu ombro, como se quisesse eternizar aquele momento. - A mamãe não sabe cozinhar muito bem... e o papai... ele sumiu...

The Devil in Silk || Lady DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora