Quero ver os comentários de vocês!
Até segunda!
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Passei no vestibular quando tinha dezenove anos. Tinha grandes planos para minha vida e um deles era sair da minha cidade. Na minha mente, sair de lá era a prova de que meus projetos poderiam dar certo. Eu queria ser uma grande profissional, ter um bom emprego, ganhar bem. Nada poderia tirar o foco dos meus objetivos.
Era isso que eu pensava antes de as coisas desmoronarem.
Eu já havia alcançado três itens da minha lista de sucesso:
Me formar
Um emprego (que não me pagava muito bem)
Sair de Azul Marinho
Era meu terceiro Natal viajando de volta.
No primeiro, as coisas ainda estavam um pouco estranhas. Fiquei apenas os dois feriados e, no dia seguinte, voltei correndo para meu apartamento na capital. Lembro-me de ter evitado sair de casa e sequer fui à igreja com minha família. Meus pais e minha irmã vieram me visitar três vezes até o segundo Natal.
A segunda viagem foi diferente. Eu estava mais estabilizada emocionalmente e tinha algumas conquistas para contar, como o emprego novo e novas amizades. Fui à igreja naquele ano, ainda temerosa, e me senti tão mais leve ao perceber que não havia rostos familiares que eu tanto evitava. Foi a primeira vez, em meses, que consegui ir à igreja e me concentrar no que realmente havia ido fazer.
Eu ia à igreja duas ou três vezes por mês, sempre ocupada demais para ir no meio da semana, e queria aproveitar o domingo para descansar. Mas quando voltei daquela viagem, decidi ir à igreja mais vezes e me envolver mais. Só consegui cumprir a primeira meta, pois ficava atolada de trabalho tentando agradar meus novos chefes e minha supervisora, Clarice.
Minha mãe me ligava todos os dias pela manhã e nos domingos fazíamos chamadas de vídeo onde eu podia ver e conversar com meu pai e minha avó.
Com Ísis, as coisas eram mais intensas. Ela me mandava memes altas horas da noite e, às vezes, falava sobre sua vida agitada na igreja. Estar no ministério infantil era seu desafio e sua satisfação.
Para ser sincera, eu era a que menos falava de mim mesma.
Algumas pessoas pensavam que eu levava uma vida de extrema satisfação e felicidade, quando, na verdade, minha vida parecia uma farsa. Eu tinha conquistado o que tanto queria, mas não estava satisfeita. Frustração era o que eu mais sentia ultimamente e me sentia impotente ao perceber que minhas chances de mudar a realidade eram mínimas.
Já pensei em mudar de área, mas eu teria que voltar a estudar e não sabia se daria conta da faculdade e do trabalho ao mesmo tempo. Além disso, não poderia parar de trabalhar, pois alguém tinha que pagar o apartamento. Eu poderia voltar a morar com meus pais, mas não sei se isso me faria tão bem quanto imaginava.
Era nessas coisas (e tantas outras) que eu pensava quando voltava do trabalho e me encontrava sozinha no meu apartamento. Mesmo com a expectativa da viagem do dia seguinte, me senti exatamente como nos outros dias: muito solitária.
Eu não tinha muito contato com meus antigos colegas de faculdade e não tinha outros amigos no trabalho além de Maya. Às vezes, saíamos juntas, mas os lugares que ela gostava de frequentar não eram os mesmos que eu preferia.
Guardei minhas compras e fui tomar um banho. Depois, chequei minhas malas, verifiquei as janelas e fui à cozinha preparar meu jantar. Naquela noite, seria um belo macarrão instantâneo sabor galinha caipira. Estava com tanta fome que decidi cozinhar dois pacotes.
Quando meu jantar – nada saudável – ficou pronto, fui me sentar no sofá e liguei a TV. Eu evitava assistir ao jornal, mesmo que Maya sempre me alertasse sobre a importância de se manter informada. Ficava inquieta ao ver tantas notícias ruins, então preferia ficar na minha zona de conforto.
Como esperado, o catálogo de filmes tinha uma sessão especial para o Natal. Por mais previsível que fosse, eu gostava de assistir a romances água com açúcar. Embora nada disso aconteça na vida real, eu gostava de pensar que histórias de amor podiam acontecer o tempo todo por aí.
Engoli o macarrão enquanto o filme começava. Apesar de não estar acontecendo comigo, tinha acontecido com Ísis. Ela não se casaria com alguém que não amasse.
Suspirei pensando nisso e cheguei à conclusão de que precisava me preparar para o que estava por vir. Além de conhecer o misterioso noivo da minha irmã, eu deveria estar pronta caso encontrasse pessoas do meu passado, principalmente Daniel.
Minha mente se desviou do filme que passava na tela e começou a vagar por lembranças que, às vezes, eu queria esquecer. Eu não tinha o direito de pensar nele e meu temor era encontrá-lo e ver em seu rosto o desprezo guardado por anos. E pensar que tínhamos planos de nos casar!
Afasto esses pensamentos e tento voltar a me concentrar no filme, no meu jantar e em qualquer outra coisa que não fosse Daniel, mas era impossível.
Daniel não era apenas uma lembrança incômoda, ele vinha junto com outras coisas que quase me destruíram no passado. Ele trazia consigo a culpa, o arrependimento e a sensação de impotência.
Meu Deus, eu não queria me lembrar disso agora.
Eram coisas que eu havia aprendido a suportar e, até mesmo, a me perdoar.
Não era estranho pensar que nossos maiores sofrimentos acabam moldando quem nós somos? Eu sempre questionava a Deus por que certas palavras tinham saído da minha boca e por que eu havia tomado tantas decisões erradas, mas a resposta era óbvia: eu havia traçado aquele caminho e agora precisava percorrê-lo.
Durante aqueles anos entendi que, embora às vezes me sentisse solitária, eu não estava sozinha. Meus erros tinham me afastado de muitas pessoas, mas o que mais me assustava era perceber o quanto eu havia me afastado de Deus. Tinha medo de que Ele me apontasse o dedo e me rejeitasse, mas aconteceu justamente o contrário. Às vezes, nem eu mesma conseguia compreender tudo aquilo.
Quando voltei do segundo Natal, senti a necessidade de me aproximar de Deus, mesmo que eu ainda estivesse pesando meus pecados. Nesse período percebi muitas coisas e uma delas foi que, quando eu pecasse, deveria me aproximar de Deus, não o contrário. Precisava me aproximar de quem realmente poderia me perdoar e me amar, mesmo diante de tantos erros.
Quando fui orar naquela noite, pedi para que Deus me guardasse durante a viagem e me desse forças para o caso de encontrar Daniel.
Se aquele encontro acontecesse, eu deveria estar pronta para lhe pedir perdão.
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Mensagem Natalina
Short StoryFicção cristã, conto de Natal e romance! Tudo o que Alina sempre quis foi conquistar sua independência e ir embora de Azul Marinho, uma cidade litorânea no interior. Agora que alcançou esse objetivo, ela se sente vazia e sozinha. De volta à sua cida...