Capital

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Não sentei no banco do passageiro, preferi ir atrás com Ana.

Era possível ver que ela era a prioridade no carro. Além do assento de elevação, havia um suporte para tablet e tapetes rosas.

Eu não queria pensar na expressão no rosto de meu pai quando me visse saindo do carro de Daniel, principalmente depois da minha reação no jantar. Ainda estava envergonhada por minhas suspeitas no encontro com Antônio.

– Papai, o que é capital?

Ana quebra o silêncio com a pergunta que, para mim, ela já tinha esquecido.

– Onde você ouviu essa palavra? – Daniel pergunta sem tirar os olhos da estrada.

– Tia Alina mora lá.

Daniel olha pelo retrovisor e encontro seu olhar com um pequeno sorriso no rosto.

– Capital é a cidade onde fica a sede do governo estadual – ele explica como se estivesse falando com um adulto.

Ana olha para mim antes de sorrir. Não acredito que ela tenha realmente entendido, mas havia ficado satisfeita em ter uma resposta. Diferente de mim, Daniel não ignorou sua pergunta.

– Você vai ficar até o réveillon? – a pergunta de Daniel é direcionada para mim.

Eu vejo seus olhos verdes novamente através do retrovisor e sinto meu coração acelerar um pouco. Ele não estava nos últimos feriados em que eu vim e me pergunto se estava viajando ou apenas me evitando.

– Sim – não revelei que ficaria até minhas férias acabarem.

O silêncio volta e observo Ana, seu rosto agora sonolento.

Estou tão absorta em meus próprios pensamentos que demora vários segundos para eu perceber que Daniel parou o carro, mas não estamos na oficina.

– Só vou deixar a Ana aqui, vai ser rápido – ele diz como se lesse meus pensamentos.

– Tchau, Ana!

– Tchau, Alina.

Enquanto ele a tira do carro, eu observo as casas através da janela.

Eu já tinha estado ali várias vezes naquele lado da cidade e entrado naquela casa para conversar com os familiares de Daniel.

Engulo em seco.

Era a primeira vez que voltava ali desde que tinha ido embora para a capital.

Vejo Daniel caminhar de volta para o carro, a calça jeans suja de graxa, a camisa cinza com a logo da oficina e o boné com as mesmas cores e emblemas bordados.

Ele entra no carro, mas não o liga.

Não sei o que ele pretende ou o que se passa em sua mente, mas tenho certeza que deve estar muito confuso.

Essa deveria ser a hora em que respiro fundo e começo a falar o quanto eu sentia muito e queria seu perdão, não com esperanças de que tudo voltasse a ser como antes. Gostaria de virar aquela página, mesmo que não totalmente – jamais conseguiria fazer isso.

Daniel liga o carro e sai do acostamento.

– O que você achou do Antônio? – ele pergunta algo que vai nos manter na zona de conforto.

– Aparentemente ele está bem – começo. – E Ísis está muito feliz com ele.

Silêncio novamente.

Por um momento me sinto cansada.

Não saber o que falar era o mesmo que estar perdida.

– Como você está, Alina?

Olho para o retrovisor e vejo a sinceridade em seus olhos, no tom de sua voz.

Estou bem. Só ando frustrada com meu trabalho, me sinto sozinha morando em uma cidade diferente e não consigo fazer amizades. Vou à igreja quando posso e ainda me sinto culpada.

Sinto sua falta. Me desculpe, Daniel. Estraguei tudo.

Respiro fundo porque minha visão fica turva quando meus olhos lacrimejam. Não quero chorar, mas quando esses sentimentos vêm à tona é quase impossível evitar. Não consigo mentir para ele ou fingir, então lhe dou minha resposta sincera:

– Não estou bem – murmuro. – E você?

Ele não responde de imediato e sua atenção está voltada para a estrada. Vejo a oficina logo a frente, nosso trajeto sendo encerrado.

– Estou bem – Daniel para o carro e o desliga.

Precisava tirar aquele peso do meu coração e não podia esperar outra oportunidade. Eu já estava pisando em solo perigoso, então era melhor atravessar aquele deserto de uma vez.

– Daniel, podemos conversar em outro lugar? – minha voz treme, mas eu não me importo.

Ele não responde, mas volta a ligar o carro e dirige para longe da oficina. 

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