A primeira vez em que reparei em Daniel, ele estava sentado no banco da igreja, com a atenção na sua Bíblia aberta e seus olhos verdes brilhavam por conta das lágrimas.
Eu o conhecia desde meus dezesseis anos, quando ele se mudou para Azul Marinho e começou a frequentar a mesma igreja e escola que eu. Daniel era dois anos mais velho e, quando ele chegou, mal nos falávamos. Tínhamos faixas etárias e assuntos diferentes, e eu estava imersa no meu mundo adolescente.
A primeira vez que fui a casa dele tinha acabado de fazer dezoito anos e estava no último ano do ensino médio, planejando meu futuro e ansiosa para realizar meus sonhos. Tinha ido fazer um trabalho de escola, mas não com ele.
Tem um motivo para eu estar presente quando o nome de Ana foi escolhido e anunciado. Um motivo para aquela criança sempre fazer meu coração se apertar.
A mãe de Ana era irmã mais nova de Daniel e minha melhor amiga.
Vivi (Viviane) era encantadora.
Seus olhos eram iguais aos de Daniel, mas o cabelo loiro e cacheado que ia até a cintura fazia com que todos a olhassem quando ela passava. Eu não tinha simpatizado muito com ela, mas quando Vivi sentou ao meu lado no primeiro dia de aula e me cumprimentou, nos tornamos ótimas amigas.
Éramos inseparáveis.
Além da escola, íamos para a igreja juntas, passeávamos na praia e nos fins de semana ela ia até minha casa, depois de minha mãe se comprometer a ir levá-la de volta, antes de anoitecer.
Foi assim que nos tornamos confidentes uma da outra.
Eu sabia que ela e Daniel haviam ido morar em Azul Marinho porque o pai dela – e padrasto de Daniel – havia morrido e eles tinham uma tia na cidade, mãe do Antônio. A mãe dela não era muito sociável, mas minha mãe fazia questão de saber quem eram os pais de nossos amigos, então conversava com ela sempre que podia e garantia que o mesmo cuidado que tinha comigo, teria com Vivi.
Daniel sempre havia estudado em turma diferente e quando eu estava no último ano, ele já havia concluído o ensino médio há dois. Ele trabalhava como entregador e repositor em um supermercado e fazia um curso de mecânico. Tudo isso eu sabia através de minhas conversas com Vivi.
Depois que o vi chorando na igreja comecei a pensar bastante nele.
Daniel era igual a mãe, não era muito sociável, mas comecei a reparar também que ele e meu pai conversavam quando saímos da igreja, todos sabiam que meu pai era mecânico.
Percebi outra coisa que, ao que parecia só eu, não tinha me dado conta: Daniel era um homem bonito. Pele bronzeada, olhos verdes e cabelo preto. Outras coisas me vieram à tona com o passar dos dias. Ele era protetor com Vivi e sua mãe, era responsável e pensava na família.
Desde então passei a orar por ele.
Gostava quando essas lembranças me vinham à mente porque era algo seguro, real e bom.
– Você gosta dele! – foram as primeiras palavras de Vivi sobre isso.
Eu implorei para que ela não falasse nada para Daniel.
Um certo dia, fomos todos para um festival na praia e Daniel sentou ao meu lado. Lembro-me de sentir as mãos suarem, o coração bater mais rápido. Então, ele sorriu de lado no instante em que nossos olhos se encontraram.
Ele era tímido e eu gostava daquilo.
Nossa relação passou a ser basicamente essa por longo meses, olhares, sorrisos e cumprimentos. Sempre que ele podia, sentava ao meu lado na igreja e Vivi sempre me cutucava como se me apontasse "eu sabia que você gostava dele".
Treze de março.
Essa foi a data em que ele finalmente se declarou.
Eu tinha ido à praia com Vivi e quando chegamos lá, Daniel nos esperava. Vivi saiu com a desculpa que precisava ir até Ar Marinho e ele me convidou para sentar. A maré estava alta e quando a onda vinha molhava nossos pés.
– Você gosta do mar, Alina? – ele perguntou.
Sempre gostei da forma como meu nome era pronunciado por ele.
– Gosto, Daniel.
Ele colocou as mãos sobre a mesa, o rosto vermelho e os olhos fixados em mim.
– Alina, eu gosto de você – disse com firmeza. – E tenho orado e te observado. Você é linda... – ele fez uma pausa, como se estivesse prestes a gaguejar – mas não é só isso. Eu gosto quando você sorri, seus olhos sempre se iluminam e nunca a vi destratar alguém, é sempre gentil e prestativa. Eu gosto de você – repetiu com carinho e eu sorri.
– Também gosto de você, Daniel – fui direta e coloquei a mão sobre a dele.
Daniel era apressado e sempre gostou das coisas bem acertadas, naquela mesma noite foi falar com meu pai.
– Agora sei porque ele sempre puxava assunto comigo – meu pai murmurou assim que Daniel saiu da minha casa. Então se virou para mim e beijou minha testa com ternura. – Um único passo em falso e eu desconsidero tudo o que penso sobre ele.
Nas vezes em que Daniel ia lá em casa, ele e meu pai falavam sobre carros enquanto eu e Vivi conversávamos, agora com Ísis.
Nosso primeiro beijo foi na praia.
A água batendo em nossos pés quando a onda vinha, a mão de Daniel sobre a minha e quando nos beijamos foi como flutuar. Borboletas em meu estômago não seriam o suficiente para descrever. Daniel cheirava a um perfume masculino forte e ele era tão bonito!
Eu gostava de estar perto dele. De conversar, ouvi-lo e sentar ao seu lado segurando sua mão.
Naquele ano ele foi meu porto seguro. Estava bastante tensa por conta do vestibular, o que faria caso não conseguisse e tantas outras possibilidades. Eu queria me formar, sair da cidade, ter uma grande oportunidade de emprego. Coisas que ele apoiava, então fizemos um plano.
Ele acabaria o curso de mecânico e iria trabalhar naquela área enquanto eu estudava. Íamos juntar dinheiro para o noivado e depois o casamento. Iríamos procurar uma casa na capital, antes mesmo do casamento, arrumar um emprego e nos mudar. Aquela era a melhor opção para mim.
Era um plano perfeito – ao menos era isso que eu pensava.
Só que nunca procuramos uma casa ou algum emprego na capital para Daniel. Ele não foi na minha colação de grau, não me ajudou a escolher o apartamento e ficamos sem nos ver por mais de três anos.
Eu o abandonei.
Fui embora por medo, insegurança e tantas outras coisas.
Eu estava triste porque não foi só Daniel que eu perdi.
Perdi minha melhor amiga e um pedaço de mim junto.
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Mensagem Natalina
Truyện NgắnFicção cristã, conto de Natal e romance! Tudo o que Alina sempre quis foi conquistar sua independência e ir embora de Azul Marinho, uma cidade litorânea no interior. Agora que alcançou esse objetivo, ela se sente vazia e sozinha. De volta à sua cida...