Sonhos

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Jamais esquecerei o dia em que eu e Vivi brigamos.

Era óbvio que às vezes tínhamos nossos desentendimentos, mas aquela briga foi inesquecível.

Porque foi o dia em que ela morreu.

Vivi e eu fizemos o vestibular juntas, eu passei e ela não. Mas ela não ficou se lamentando ou inconsolável.

– Vou realizar meu sonho – ela me disse quando estávamos no meu quarto.

– Achei que seu sonho fosse ser médica.

– Também, mas não é algo que desejo tanto – Vivi se mexe sobre a cama e me encara, o sorriso vacilando. – Você tem muitos planos, Alina, planos bons, mas quero ter uma casa, ter uns quatro filhos e me dedicar a eles. Quero algo que não pude ter.

Só quando ouvi aquilo sair de sua boca, me dei conta de que ela tinha receio de eu a julgar. Me sentei ao seu lado e a abracei.

– Você vai ter tudo isso, mas porque não tenta o vestibular novamente?

– Eu não quero! – foi a resposta sincera dela. – Alina, Lorenzo me pediu em casamento.

Aquela informação tinha me deixado surpresa. Enquanto eu e Daniel nos apaixonamos, ela se apaixonava por Lorenzo. Saíamos juntos e, por sermos melhores amigas, acabei me aproximando de Lorenzo também.

Daniel não disse muita coisa sobre isso, mas eu vi em seu olhar que ele também queria aquilo.

Eu queria me casar com Daniel, mas não daquela forma. Queria me concentrar na faculdade e no plano que já tínhamos feito.

Menos de um ano depois, Vivi se casou com Lorenzo e eles foram morar em uma casa alugada.

Ela ficou grávida a primeira vez quando eu estava no segundo periodo e sofreu um aborto espontâneo pouco tempo depois. Fiquei ao lado dela o tempo inteiro e, quando voltei do hospital com Daniel naquela noite, me senti muito mal.

Eu e Daniel estávamos na fase onde passamos tanto tempo longe um do outro que, quando nos víamos, parecia difícil nos conectar. Eu estudava bastante e ele trabalhava muito, sem falar que eu só sabia conversar sobre a faculdade, sobre os professores, as aulas, as novas amizades.

Minha mãe tinha conversado comigo sobre como eu estava imersa em tudo aquilo, era bom eu ter dedicação, mas sempre lembrar do que realmente importava.

Quando consegui um estágio, meu tempo livre já curto, ficou quase inexistente.

Daniel tinha muita habilidade em sua área e havia começado a ganhar mais, o que o levou a comprar um carro. Era um modelo antigo, mas muito bem cuidado e ele foi me buscar na faculdade naquele dia.

Eu tinha amado o fato de ele aparecer, cumprimentamos alguns amigos e ele me levou para jantar. Então, não falei sobre mim, o escutei falar o tempo todo sobre as novidades no trabalho, como Lorenzo também estava gostando de trabalhar com ele e Antônio.

Passamos a fazer aquilo uma vez por semana, ignorava minhas preocupações e saiamos para passear ou simplesmente conversar sentados na calçada da minha casa.

Tínhamos conseguido nos conectar novamente.

Eu ainda amava sentar ao lado dele e segurar sua mão, gostava de como ainda sentia meu coração acelerar quando ele me beijava.

Quando cheguei no sexto período, Vivi ficou grávida de Ana e eu fiquei encantada. Eu segurei aquela menina em seus primeiros dias de vida e vi minha amiga se tornar mãe daquela criança. Ia a casa de Vivi sempre que podia, comprava coisas que a menina só usaria uma vez, mas ela era a única criança em nosso círculo social.

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⏰ Última atualização: 9 hours ago ⏰

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