Às vezes eu tinha pesadelos.
Eles não eram frequentes, mas, quando aconteciam, eu passava o restante da madrugada acordada, sem conseguir dormir. Agora, quando eles ocorrem, eu levanto e rapidamente vou orar. Eram pesadelos que me traziam lembranças, sensações ruins e me levavam a dias em que o choro rasgou minha alma. Dias que, às vezes, queria esquecer, mas que precisavam ser enfrentados.
Quando acordei, o único som que ouvi foi o da caixa de som que eu havia comprado para meu pai alguns meses atrás. Ele escutava louvores antigos, vários deles eu tinha aprendido enquanto crescia.
Assim como a noite espera pelo dia. Assim como a praia espera pelo mar. Assim como as nuvens esperam pelo vento. Com mais ansiedade eu estou a te esperar.
Te espero chorando, te espero, Mestre querido, estou me curvando ante o peso da cruz. Me ajude chegar ao meu lar prometido. Sem ti não consigo viver, meu Jesus!
Naquela manhã, eu enchi uma xícara de café e fui sentar com ele em uma das cadeiras de balanço. Eu e meu pai não costumávamos ter conversas abertas e ele não era muito de falar sobre sentimentos, mas nos amava e demonstrava isso fazendo tudo o que podia por nós.
– Vai trabalhar hoje? – perguntei, depois de tomar o primeiro gole.
– Daqui a pouco. Sua mãe foi na feira. Desde que começou essa história de casamento natalino, ela não para quieta.
Sorri. Minha querida irmã não poderia ter tido uma ideia mais absurda que aquela. Que tipo de pessoa escolhe se casar no Natal?
– Vocês vão sair com o carro? Vi que precisa fazer a troca de óleo, já posso levá-lo hoje para a oficina.
Era óbvio que meu pai tinha olhado meu carro de um lado a outro, era típico de seu lado pai e mecânico. Ele me ensinou a dirigir em nosso antigo carro, um que, vez ou outra, dava problemas, mas eu amava quando todos entrávamos nele e íamos para a igreja no domingo pela manhã ou quando íamos à praia.
– Nós vamos andando – afirmei, sabendo que Ísis não iria gostar daquela ideia, mas eu queria ver a cidade, as ruas por onde tanto brinquei. E ainda queria olhar o mar. – Como vai a oficina, pai?
O encarei na expectativa de uma resposta sincera. Meus pais eram orgulhosos, mas eu sempre dava um jeito de ajudá-los.
– As coisas estão ótimas, e agora, com um sócio mais jovem, fizemos algumas mudanças. Ele sabe mais dessas coisas de tecnologia do que eu – meu pai me encarou. – Você só volta para o trabalho quando suas férias terminarem, não é?
– Prometo ficar até o penúltimo dia das férias. Preciso organizar algumas coisas antes de voltar a trabalhar.
Ainda não tinha contado minha vontade de mudar de área ou sobre os dias em que não tinha vontade de voltar para meu trabalho. Quando comecei a faculdade de administração, tinha tanta certeza do que queria, mas agora...
Ísis apareceu na porta, também com uma xícara de café nas mãos, o rosto ainda sonolento.
– Pai, lembra ao meu noivo que hoje é o jantar – ela se encostou junto à soleira da porta. – Alina, hoje você vai conhecê-lo. Temos um dia longo pela frente.
– Ele trabalha com o papai? – indaguei, sabendo que aquele era o primeiro resquício de informação que eu tinha do tal noivo.
– Sim, ele trabalha – meu pai respondeu antes que Ísis tivesse chance. – E o nome dele é...
– Seu José Luiz! – Ísis falou rapidamente. – Acho que já está na hora de ir abrir a oficina.
– Tenho certeza de que meus sócios podem abri-la, eles têm que servir ao menos para isso.
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Mensagem Natalina
Short StoryFicção cristã, conto de Natal e romance! Tudo o que Alina sempre quis foi conquistar sua independência e ir embora de Azul Marinho, uma cidade litorânea no interior. Agora que alcançou esse objetivo, ela se sente vazia e sozinha. De volta à sua cida...