Abraço de mãe

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Bem-vindos a Azul Marinho!

A cada passo dado, mais azul o mar fica!

Eu nem precisava olhar a placa de boas-vindas da cidade para saber o que estava escrito. Já havia lido aquilo inúmeras vezes e até gostava do lema da cidade.

O Natal em Azul Marinho tinha um significado especial. As famílias se reuniam, presentes eram trocados, e a cidade ganhava uma decoração que encantava a todos, sempre rendendo fotos, embora muitos reclamassem do aumento repentino na conta de luz, atribuído aos inúmeros pisca-piscas espalhados pelo centro.

Eu amava tudo aquilo, e não era pela decoração. Por mais que voltar despertasse lembranças indesejadas, estar com minha família era uma recompensa inestimável.

Quando desci do carro, avistei minha mãe de pé em frente à casa e minha avó sentada na cadeira de balanço. Minha casa tinha sido construída com muito suor e esforço dos meus pais. Não havia muro, apenas uma cerca de arame farpado com uma entrada, e eu amava o fato de, todos os anos, meu pai retocar a tinta amarela.

— Já estava ficando preocupada — foram as primeiras palavras que ouvi da minha mãe.

Consegui me atrasar uns quinze minutos e ela já andava de um lado para o outro, provavelmente imaginando o pior. Mães.

Aproximei-me dela e, quando senti seus braços me envolvendo, suspirei de alívio. Como era bom poder tocá-la, sentir seu cheiro e ser acolhida por aqueles braços.

Não é incrível como o abraço da nossa mãe consegue amenizar qualquer problema?

— Você está tão magra. Espero que não tenha voltado a comer besteiras no jantar.

Sorri enquanto me deixava ser conduzida até minha avó. Dona Benedita me olhava com os olhos semicerrados, tentando me reconhecer, apesar das nossas frequentes conversas por videochamada. Entendia que, aos setenta e nove anos, era difícil lembrar de tudo, mas desde o diagnóstico de Alzheimer, qualquer esquecimento parecia uma fagulha no meu coração e um traço de tristeza no rosto da minha família.

— Benção, vó — murmurei, na esperança de ser correspondida.

Os cabelos grisalhos contrastavam com a pele negra que, apesar da idade, parecia tão macia quanto me lembrava. Inclinei-me para beijar sua testa, ansiosa por uma resposta. Quando me endireitei, ouvi sua voz:

— Deus te abençoe.

Apesar da resposta, ela ainda me encarava como se não tivesse certeza de quem eu era. A escassez de visitas ao longo do ano contribuía para que eu fosse uma das primeiras a ser esquecida.

— Onde está o papai? — perguntei, voltando a abraçar minha mãe.

Senti novamente seus braços ao redor de mim.

— Ele ia ficar para te esperar, mas surgiu um problema na oficina — minha mãe me olhou com aqueles olhos atentos, procurando qualquer sinal de decepção. Talvez ela achasse que eu ficaria chateada por ele não estar ali para me receber, mas eu não estava.

— Está tudo bem — murmurei. — E Ísis?

— Foi na feira, volta rapidinho.

— Vou pegar minha mala.

Afastei-me delas e voltei ao carro para pegar minha bagagem. Levei-a para dentro e fui direto para o quarto que dividia com minha irmã quando morava ali. Ouvi minha mãe e minha avó entrando na casa e se dirigindo à cozinha, e aproveitei para tomar um banho.

Mensagem NatalinaOnde histórias criam vida. Descubra agora