Capítulo 4

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|Atsumu Miya

Acordei com a luz do sol se infiltrando pelas persianas, cortando o quarto em feixes dourados que não deveriam me incomodar tanto quanto estavam. Rolei para o lado, tentando encontrar uma posição em que pudesse ignorar a dorzinha latejante na cabeça. Uma lembrança da noite passada, dos drinks, e... dele.

Sakusa.

Revirei os olhos ao pensar em como aquela imagem persistia, como se tivesse sido gravada em minha mente com uma intensidade quase irritante.

Tentei afastar a lembrança da última vez que o vi, de como ele me esnobava, de como seu beijo tinha sido uma mistura incansável de raiva e desejo.

Mas cada vez que tentava pensar em outra coisa, meu cérebro parecia determinado a retornar para ele, como um ciclo vicioso que eu não conseguia quebrar.

Suspirei, esfregando os olhos com as mãos, tentando expulsar o cansaço e o arrependimento. Eu precisava focar em qualquer outra coisa. No treino, nos compromissos do dia... mas o pensamento persistente de Sakusa, dos lábios dele contra os meus, voltavam a todo momento.

Era como se ele estivesse ali, nas sombras da minha mente, me desafiando a procurá-lo de novo.

Eu precisava transar com ele logo, depois que matasse minha curiosidade tudo voltaria ao normal.

Era isso. Eu só precisava de uma noite e essa agonia passaria.

Me levantei, peguei uma roupa qualquer e me vesti com pressa, tentando não pensar no que estava fazendo. Eu sabia exatamente onde estava indo, e, ainda assim, continuei agindo como se fosse só uma saída qualquer.

"Não posso continuar assim", pensei, enquanto me olhava no espelho rapidamente. "É só mais uma vez. Depois, eu esqueço."

Antes que eu percebesse, estava caminhando até a boate. Já passava do horário de abertura, e uma multidão começava a se formar na entrada.

Minha ansiedade aumentou enquanto me aproximava, meu coração disparando como se eu fosse encontrar um adversário, e não... alguém como ele.

O ambiente era um pouco mais escuro do que na noite passada, com as luzes ajustadas para criar uma atmosfera mais intimista. Havia uma movimentação na área do palco, e eu demorei alguns segundos para notar que alguém estava se preparando para uma apresentação.

Meus olhos focaram no palco, e minha respiração falhou por um instante.

Sakusa estava lá, no centro das atenções, vestindo uma roupa que eu jamais o imaginaria usando. Ele estava com uma camisa preta justa, com botões estrategicamente abertos, revelando um pouco de pele, e uma calça que o delineava com perfeição. A elegância e a sensualidade que ele exalava eram infernais, e eu não conseguia parar de olhar.

Ele não tinha me notado, e isso só aumentava a tensão. Havia algo quase artístico em seus movimentos — ele se movia com confiança, a expressão impassível, mas os olhos ardiam com uma intensidade que eu reconhecia. Ele estava no comando ali, completamente à vontade sob as luzes, como se aquele fosse o seu palco, e ele soubesse exatamente o efeito que causava a todos que o olhavam.

Enquanto eu o observava, senti uma onda de possessividade que nunca senti antes.

Eu queria ser o único a vê-lo assim, o único a sentir aquele lado dele.

Sakusa olhou ao redor, e, por um breve segundo, nossos olhares se encontraram. E então o desgraçado sorriu, selvagem e desafiador, me convidando para entrar no jogo outra vez. Mas dessa vez, ele estava totalmente no comando.

Quando ele pegou o copo de bebida das mãos de um dos garçons que passava perto do palco, senti meu corpo enrijecer. Um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios enquanto ele ergueu o copo, deixando o líquido deslizar pela borda, como se estivesse ponderando o que faria em seguida.

E então, bem no ápice da música, ele inclinou o copo e derramou a bebida em seu próprio peito. O líquido escorreu devagar pela curva de seu pescoço, desceu pelo colarinho aberto de sua camisa, traçando um caminho pelo peito e se infiltrando no tecido, tornando-o ainda mais colado ao corpo.

O mundo ao meu redor ficou em silêncio absoluto. Tudo o que eu conseguia ver era Sakusa, com a pele brilhando sob a luz vermelha do palco.

Ele deslizou a mão pelo peito, seguindo o rastro da bebida, espalhando o líquido pela pele com uma sensualidade que beirava o insolente.

Seus dedos se moviam devagar, o olhar fixo no meu enquanto fazia questão de tornar cada movimento provocativo.

Ele sabia o que estava fazendo comigo. Sabia que, naquele momento, eu estava à beira de um colapso.

Eu me senti tenso, o coração batendo rápido demais. Minha vontade era de pular no palco, de segura-lo pelo pescoço e lamber cada gota que estava em seu corpo. Mas, ao mesmo tempo, a antecipação me consumia. Ele estava no controle, e eu sabia que ele estava se divertindo com cada segundo, aproveitando a tortura lenta que infligia em mim.

Sakusa terminou a "apresentação" com um último toque provocador no peito e, então, ergueu o olhar. Encontrou o meu, e pude ver a faísca de desafio, um convite mudo para que eu reagisse.

A apresentação havia terminado, mas a tensão que Sakusa deixara em mim não desapareceu nem um pouco. Na verdade, parecia ainda mais insuportável agora.

A imagem dele no palco, derramando a bebida pelo corpo, os olhos me desafiando a cada movimento, estava gravada na minha mente.

Eu precisava vê-lo, agora.

Movi-me rapidamente pelo ambiente, esquivando-me da multidão de rostos desconhecidos que preenchia a festa. Meus olhos varreram o salão, atentos a qualquer sinal dele. Mesmo entre tantas pessoas, eu sabia que o reconheceria de longe. Ele sempre se destacava — como se o próprio ar ao redor dele fosse diferente, carregado de uma energia que eu não conseguia ignorar.

E então, lá estava ele. Uma silhueta inconfundível, levemente afastado dos outros, encostado na parede com o ar despreocupado de quem sabe exatamente o poder que exerce sobre as pessoas. Ele estava de costas, mas eu sabia que era ele. O jeito que segurava o copo com elegância, o contorno dos ombros, o pescoço... tudo gritava Sakusa.

Me aproximei, e ele virou o rosto na minha direção, como se já estivesse esperando por mim. A expressão de satisfação ainda estampada em seu rosto, um sorriso quase invisível nos lábios. Eu me permiti sorrir, mais confiante do que nunca.

-Ponto para você, amor. - comentei, tentando manter a voz casual, mas não havia como disfarçar o desejo. - Por que não acabamos com isso de uma vez? Vamos para minha casa assim que você terminar aqui.

Sakusa levantou uma sobrancelha, um olhar avaliador passando por mim.

Ele não respondeu de imediato, ao invés disso, levou o copo aos lábios e tomou um gole com uma calma deliberada.

-Na sua casa, é? - Ele disse, a voz baixa e carregada de uma provocação sutil. - E o que exatamente eu ganharia com isso?

Eu me aproximei ainda mais, invadindo seu espaço, os olhos fixos nos dele.

-Acho que você sabe muito bem, Sakusa. - Minha voz saiu rouca, cada palavra carregada de intenções que eu não fazia questão de esconder.

Ele deu uma risada baixa, me observando de cima a baixo, como se estivesse decidindo se valia a pena.

-Só uma noite. - Sakusa disse como se fosse uma exigência.

-A mais longa da sua vida. - Apertei sua cintura com força, cansado de tanta distância.

Seus olhos brilharam, e ele mordeu o lábio, segurando o sorriso que ameaçava escapar. Ele adorava esse jogo, adorava me fazer esperar.

-Bom, — ele finalmente disse, os lábios curvando-se em um sorriso tentador, — talvez eu termine mais cedo hoje.

Eu senti uma onda de satisfação tomar conta de mim, mas mantive a expressão calma, fingindo que ele não acabara de me dar exatamente o que eu queria.

Ele se afastou lentamente, deixando o convite no ar.

— Te vejo mais tarde, então — ele murmurou, antes de desaparecer na multidão, me deixando ansioso e cheio de expectativas.

Not Fall In Love | Sakusa x Atsumu Where stories live. Discover now