| Atsumu Miya
O som da respiração profunda de Sakusa Kiyoomi ao meu lado era o único ruído presente naquele momento silencioso. Acordei antes que o sol tivesse sua ascensão completa, como se algo estivesse me puxando da quietude do sono. Eu me senti inquieto, e uma sensação estranha me tomou ao olhar para ele.Sakusa, com o cabelo desarrumado, estava deitado de forma vulnerável.
Normalmente, ele parecia impenetrável, mas agora, sob a suavidade do sono, seus traços estavam mais suaves. Quase quebradiços.
Mas não foi só a paz de seu rosto que me chamou a atenção.
O que me atingiu com força foi o estado físico dele. Aquele rosto, que eu sempre via tão confiante, agora estava marcado. O corte no supercílio e as sombras escuras ao redor dos seus olhos estavam visíveis até sob a luz tênue da manhã. E essa cena me apertou o peito de um jeito que eu não conseguia processar direito.
Não sabia como explicar o que estava sentindo, mas sabia que era algo forte, algo que não podia ignorar.
A minha mão se estendeu quase que sem querer, tocando a pele dele, fazendo um carinho de leve.
Eu passei os dedos pela linha de sua mandíbula machucada, sentindo a textura da pele um pouco quente, marcada pelo impacto.
Eu me afastei um pouco, respirando fundo. Me sentei na beirada da cama, observando o sono dele. A confusão que eu sentia, por mais que fosse forte, começou a se transformar em algo mais sólido. Algo que eu não podia mais ignorar.
Eu precisava entender o que estava acontecendo, precisava saber o que estava por trás de toda aquela situação com ele. Porque, a cada minuto que passava, ele parecia se tornar mais e mais importante para mim.
Suspirei e fui até a cozinha. Era melhor me ocupar com algo, qualquer coisa, para tentar afastar os pensamentos pesados. Preparei um café, tentando não pensar em nada por um tempo.
O som da água fervendo e do café sendo derramado na xícara era a única coisa que quebrava o silêncio.
Mesmo assim, meus pensamentos voltavam a ele.
O que eu devia fazer? Como lidar com tudo isso? O que aconteceu com ele para acabar daquele jeito? Como eu poderia ajudar?
Antes que eu pudesse me perder completamente nesses pensamentos, ouvi a campainha.
Um pouco surpreso, fui até a porta e, ao abri-la, dei de cara com Suna e Osamu.
Suna parecia preocupado, e Osamu, que geralmente era mais calmo, também tinha um olhar sério.
— Tsumu, onde você estava? — Osamu começou, direto, cruzando os braços. — Você sumiu na noite passada, não atendeu as nossas ligações. Todo mundo está preocupado.
Fechei os olhos por um momento, tentando organizar meus pensamentos, mas tudo parecia embaralhado. Suna, que geralmente era mais reservado, deu um passo à frente, os olhos fixos em mim.
— O que aconteceu? Está na cara que algo está errado, Atsumu.
Balancei a cabeça, soltando um suspiro pesado. Me sentei na beirada do sofá e esfreguei o rosto com as mãos. Eles tinham razão. Eu estava agindo diferente, mas como eu poderia explicar o caos que estava acontecendo dentro de mim?
— Olha... — comecei, minha voz mais baixa do que eu pretendia. — É complicado explicar.
— Então tenta. — Osamu rebateu, sentando-se ao meu lado. Sua voz era firme, mas cheia de preocupação. — Você é meu irmão. Você pode falar comigo.
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