Strangers By Nature

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Adele caminhava lentamente por entre os túmulos de um jardim silencioso. Era uma manhã fria, e o ar parecia carregado de memórias e sentimentos não ditos. Com um buquê de flores em mãos, ela parou em um ponto específico, um lugar simbólico onde havia decidido enterrar as lembranças dos amores do passado. Ela chamava aquele lugar de "cemitério do meu coração", um espaço em que guardava as dores e as histórias que a moldaram, e, de todas essas memórias, a de Simon era a que mais pesava.

Simon tinha sido seu parceiro e seu amigo, alguém com quem ela compartilhara sonhos e planos. Juntos, eles se aventuraram em um relacionamento intenso, onde os altos eram eufóricos e os baixos, devastadores. Mas, com o tempo, perceberam que o amor que sentiam era incapaz de resistir à tempestade que os envolvia. Eles eram estranhos um para o outro em muitos sentidos — pessoas feitas de emoções que nem sempre se alinhavam. E, apesar da profunda conexão que sentiam, suas diferenças pareciam intransponíveis.

Todo aniversário, Adele fazia uma homenagem silenciosa a ele. Era seu ritual, uma forma de reconhecer que, embora ele estivesse no passado, ainda ocupava um lugar especial em seu coração. Ela se desculpava, em um sussurro que apenas o vento ouvia, por não terem conseguido encontrar um caminho que os levasse juntos para o futuro. Ela refletia sobre as escolhas que fizera, sobre as coisas que diria se pudesse voltar no tempo e reviver aqueles momentos.

Hoje, enquanto observava o céu de um tom pálido e suave, Adele percebeu algo novo. Pela primeira vez, sentiu que a poeira das dores antigas havia finalmente se assentado. Todo o sofrimento e as dúvidas estavam ali, mas, em vez de pesarem em seu peito, pareciam ter se transformado em algo mais leve, quase como uma brisa. Ela sentiu que, de algum modo, a mágoa estava se transformando em paz. Como se agora pudesse olhar para trás e ver tudo com mais clareza.

— Ninguém sabe o que é ser como nós, Simon — murmurou para o vento, uma tristeza suave em sua voz.

Havia coisas que ela e Simon tinham compartilhado que eram únicas, fragmentos de amor e compreensão que apenas eles conheciam. E, por mais que ela tivesse seguido em frente, era impossível esquecer. Adele sentia que eles eram como estranhos por natureza, atraídos e afastados pela mesma intensidade que os unia.

Mas agora, com o coração um pouco mais leve, ela se perguntava se finalmente poderia aprender a nutrir o que restava, a lidar com suas memórias de uma forma que não a machucasse tanto. Colocando as flores cuidadosamente no chão, ela respirou fundo, sentindo que estava pronta para um novo capítulo, um que não carregasse as mesmas dores do passado.

Ao se levantar, uma última brisa tocou seu rosto, como se fosse uma despedida. Adele sorriu para o vazio, aceitando que, embora Simon sempre fizesse parte dela, estava pronta para deixá-lo descansar em paz. Ela se virou e caminhou para fora do jardim, com a sensação de que estava, pela primeira vez, verdadeiramente livre.

Por trás das músicas de AdeleOnde histórias criam vida. Descubra agora