Million Years Ago

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Adele sempre foi uma sonhadora. Desde menina, desejava aproveitar a vida ao máximo, com toda a intensidade e liberdade que pudesse encontrar. Ela queria sentir o vento no rosto, aprender a voar com as próprias asas, experimentar cada novo passo sem medo. Quando era jovem, acreditava que o mundo estava aos seus pés, que o tempo era infinito e que suas escolhas não carregavam o peso que hoje sente em seus ombros.

Mas, à medida que os anos passaram, Adele percebeu que cada escolha deixava uma marca, uma responsabilidade. O tempo, que antes parecia um aliado, começou a escapar entre seus dedos. Ela se viu encurralada entre as expectativas dos outros e os sonhos que um dia alimentara para si mesma. Percebeu que, para crescer e se encontrar, precisou abrir mão de partes de quem era. Carregar o próprio coração, com todas as cicatrizes e desilusões, se tornou uma carga, algo inevitável que ela teria que enfrentar sozinha.

Hoje, andando pelas ruas da sua infância, Adele sente uma mistura de nostalgia e arrependimento. Vê-se refletida nas vitrines e janelas e mal consegue encarar a mulher que vê. Por mais que saiba que todos têm seus arrependimentos, às vezes, sente que é a única que não suporta o reflexo do próprio passado. Aquela garota cheia de sonhos parece um fantasma distante, uma memória de "milhões de anos atrás", como ela mesma diz.

Ela tenta falar com antigos amigos, mas, em suas trocas de olhares, percebe que eles não a reconhecem mais. É como se tivessem medo da nova Adele — ou talvez, da tristeza que seus olhos carregam. Tenta puxar conversas, fazer piadas sobre o passado, mas o riso sempre se perde no silêncio. Aquela vida festiva, repleta de possibilidades e sorrisos, se foi. Agora, Adele sente que sua vida tem passado rápido demais, quase como um filme que ela assiste, impotente, sem conseguir apertar o botão de pausa.

Às vezes, ela olha para o céu e deseja poder viver um pouco mais, não apenas existir. Queria poder voltar aos dias em que as noites eram feitas para dançar e as manhãs para sonhar. Ela sente falta do ar fresco que trazia consigo uma promessa de algo novo, sente falta dos amigos, das risadas, de sua mãe que sempre lhe trazia conforto e segurança. Ela sente falta de quando a vida era uma festa a ser celebrada e não uma série de responsabilidades e perdas.

Ao voltar para casa, Adele percebe que os sentimentos de saudade e arrependimento estarão sempre ali, como sombras que ela carrega. Ela sabe que sua vida tomou um caminho diferente do que imaginava, mas não tem mais certeza de como mudá-la. Sente-se derrotada, mas, ainda assim, em algum lugar dentro de si, existe uma fagulha de esperança. Talvez um dia, ela pense, possa aprender a viver novamente, talvez possa resgatar um pouco daquela garota que sempre acreditou que a vida era feita para ser celebrada, e que ainda está dentro dela, mesmo que um pouco perdida, esperando para ser redescoberta.

Por trás das músicas de AdeleOnde histórias criam vida. Descubra agora