O começo

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Forks, 1990

O bar estava mergulhado em uma penumbra acolhedora, onde a luz fraca de lâmpadas antigas iluminava apenas o suficiente para destacar o contorno das mesas e das garrafas alinhadas no balcão. O cheiro de álcool misturado com o odor amadeirado do chão desgastado preenchia o ar. Uma jukebox no canto tocava uma balada lenta, abafada pelo burburinho das conversas. Era o tipo de lugar onde os moradores locais buscavam refúgio para escapar da monotonia das chuvas constantes de Forks.

Joshua Uley estava sentado no balcão, os ombros largos e relaxados enquanto ele terminava seu terceiro shot de vodka. A força com que colocou o copo no balcão chamou a atenção de alguns olhares ao redor, mas ele ignorou. Seu cabelo comprido e escuro, caindo em cascata até os ombros, emoldurava seu rosto de traços fortes e indígenas, herança de gerações dos Quileute. Sua presença era magnética, mas havia algo melancólico na maneira como ele encarava o copo vazio à sua frente.

Ela entrou como uma sombra silenciosa, mas para ele parecia que o ar tinha mudado. A mulher caminhou com a graça de quem sabia que todos os olhos a seguiam, mas, ao mesmo tempo, carregava a segurança de alguém que não precisava disso. Seus olhos escuros, profundos como um abismo, varreram o ambiente até pararem em Joshua. Naamah, como ela se chamava, sabia o que estava fazendo. Ela fazia isso há séculos, um jogo que já havia dominado como ninguém.

Aproximou-se devagar, o som dos saltos quase inaudíveis contra o chão de madeira, até parar ao lado dele. Joshua percebeu sua presença antes mesmo de olhar. O perfume dela - doce e amadeirado, quase inebriante - invadiu seus sentidos.

_ Está acompanhado? - perguntou ela, a voz baixa, mas clara, com um tom que parecia dançar entre o mistério e a sedução.

Joshua virou a cabeça, os olhos castanhos encontrando os dela. Ficou brevemente em silêncio, analisando-a. Ela era impressionante. Pele impecável, cabelos longos e lisos que pareciam capturar a pouca luz do ambiente, e uma postura que exigia atenção. Ainda assim, algo nele hesitava.

_ Meu nome é Naamah - continuou ela, o nome deslizando de sua boca como uma promessa.

Ele piscou, sentindo algo se agitar dentro de si. Era uma sensação estranha, como se já a conhecesse. Um calafrio percorreu sua espinha.

_ Eu acho que te conheço - ele murmurou, a voz grave quase rouca pelo álcool e pela confusão que a presença dela provocava. - Eu... É estranho. Meu nome é Joshua Uley.

Ela deu um sorriso sutil, quase imperceptível, e inclinou a cabeça, estudando-o como se estivesse analisando cada detalhe dele, não apenas fisicamente, mas algo além.

_ Eu sei quem você é, Joshua - disse ela, a voz carregada de algo que ele não conseguia identificar.

Naamah se moveu então, circundando-o como uma predadora que tinha total controle da situação. Seus dedos, finos e frios, pousaram no ombro dele, e Joshua sentiu um arrepio imediato que percorreu seu corpo. Não era desconfortável, mas uma energia estranha, como se algo nela estivesse puxando uma parte dele que ele não sabia que existia.

_ Você quer sair daqui? - perguntou ela, a voz agora mais baixa, quase um sussurro no ouvido dele.

Ele deveria ter recusado. Algo dentro de si dizia que não era uma boa ideia, mas a capacidade de dizer "não" parecia ter sido arrancada dele. Era como se sua mente estivesse turva, incapaz de resistir ao magnetismo dela. Ele se levantou sem questionar, as mãos trêmulas ao ajustar o casaco, e seguiu Naamah.

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