As últimas 24 horas tinham sido um verdadeiro teste de resistência. Ele ainda estava lá, firme, respirando com dificuldade, enquanto eu me esforçava para manter minha presença ao lado dele, como se meu silêncio pudesse protegê-lo.
Estava cansado, mas minha mente se recusava a desligar. Eu sabia que esse paciente — esse "Sem Nome" — estava em uma batalha que eu apenas ajudava a guiar, mas no fundo, era ele quem lutava, e eu não conseguia ir embora. Parecia ridículo, talvez até irracional, mas algo me dizia que ele não tinha ninguém por ele. Que eu era a única coisa estável em um momento tão incerto.
— Ainda aqui, Tae? — ouvi a voz calma e sutil de Yoongi atrás de mim.
O olhar dele era analítico, atento. Ele percebia mais do que dizia.
— Oi, Yoongi — respondi, tentando não soar exausto. Meus olhos continuavam fixos no paciente.
— Não acredito que ainda não foi pra casa! — Ele arqueou as sobrancelhas, uma expressão entre reprovação e preocupação. — E como está o Sem Nome?
Suspirei. Era uma pergunta simples, mas não havia resposta fácil para isso.
— Ele está estável, mas foi uma noite intensa. Teve uma parada no meio da cirurgia, e depois febre de madrugada... Mas o carinha é forte, Min. Mesmo com tudo isso, ele está segurando firme.
Yoongi não disse nada por um momento. Ele apenas me olhava, analisando com a expressão séria que já me era familiar. Finalmente, ele quebrou o silêncio:
— Então o que te prende aqui? - Indagou Yoongi, em um tom suave, mas curioso.
A pergunta parecia mais um desafio do que uma curiosidade genuína. Dei de ombros, hesitando. A verdade era que eu também não sabia explicar.
— Sinto que ele precisa de alguém. Que talvez... talvez não tenha ninguém para ele. Já vi muitos pacientes em situações parecidas, mas... — respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas, mas falhei. — Com ele, parece diferente.
Era quase ridículo o que eu estava dizendo. Um paciente anônimo, sem qualquer conexão comigo, estava mexendo comigo de uma forma que eu não conseguia entender. Mas Yoongi assentiu, parecendo compreender.
— Se precisa ficar, então fique — ele disse, suavizando sua voz habitual com um toque de compreensão. — Às vezes, alguém só precisa de uma presença silenciosa para encontrar força.
Ele se afastou, deixando-me a sós com o paciente mais uma vez. Permaneci lá, observando sua respiração ritmada e irregular, e tentando entender a estranha conexão que eu sentia. Talvez fosse apenas o peso da responsabilidade. Ou talvez fosse algo mais.
O Tempo
Era tarde da noite quando meu celular tocou. Ao ver o nome de Yuna, senti um aperto de saudade no peito. Faziam quatro dias que eu não voltava para casa, e minha ausência estava começando a pesar.
— Oi, meu amor. Como você está? — perguntei, tentando soar leve.
A voz dela soou triste, quase resignada.
— Oi, papai... Estava com saudades. Não queria te incomodar, mas... já fazem tantos dias que você não vem pra casa, e eu não aguento mais a Hiruna! — Ela soltou um suspiro de frustração que cortou fundo em mim.
Meu coração apertou. Eu queria tanto estar presente para ela, mas esse trabalho me consumia de uma forma que eu não sabia como parar.
— Ah, docinho, você nunca me incomoda — falei, sentindo um peso extra em cada palavra. — Eu também estou morrendo de saudades. E você sabe que não deve chamar sua mãe assim... ela se irrita com você quando faz isso.
Mesmo enquanto falava, sentia a culpa crescendo dentro de mim. Eu era um pai que passava mais tempo cuidando de estranhos do que da própria filha. O quanto isso afetava Yuna? Eu estava a ponto de prometer que voltaria para casa em breve, quando os monitores do "Carinha" começaram a apitar.
— Yuna, me perdoa, tá? O papai te ama muito. Eu só queria que você soubesse disso...
— Eu sei, papai. Eu também te amo... — Sua voz carregava uma tristeza contida, e me odiava por não estar lá para abraçá-la.
Desliguei apressadamente, já voltando ao trabalho. O paciente estava em crise. Cada segundo contava, e a prioridade naquele momento era ele. Era sempre ele, ou qualquer um que estivesse aos seus cuidados. E, mesmo assim, a culpa era inevitável.
Conversas e Confrontos
— Quanto tempo ele está lá dentro? — perguntou Hoseok, com uma voz carregada de preocupação.
— Sei lá, uns cinco dias? — respondeu Min Yoongi, sem tirar os olhos do prontuário em suas mãos.
— Cara, tô começando a ficar preocupado... Lembra daquela paciente que ele perdeu uns meses atrás? Será que ele tá fazendo isso pra se redimir?
Yoongi soltou um suspiro, visivelmente irritado.
— Sei não... — respondeu, tentando encerrar a conversa.
— Eu acho que ele nem tomou banho esses dias. Ele tem comido, Yoongi?
— Ah, para de ser chato e vai lá perguntar você mesmo! — respondeu Yoongi, já se afastando com pressa.
Hoseok ficou observando o colega se afastar, balançando a cabeça em descrença.
— Eu, hein... esse pessoal desse hospital precisa é de um tempinho na ala de psiquiatria, só pode.
Jung Hoseok deu três batidinhas na porta antes de entrar. Ele encontrou Taehyung cochilando na poltrona de visita.
— E aí, dorminhoco? Bora tomar um banho e comer alguma coisa? — provocou Hoseok, com um sorriso de canto.
— Já fiz isso, Seok. Só estava tentando descansar um pouco — respondeu Taehyung, esfregando os olhos.
— Sei... Posso ficar aqui pra você ir pra casa ver sua esposa-troféu. Aposto que a "diva" está morrendo de saudades — brincou, rindo.
— Ai, não enche — retrucou Taehyung, fechando os olhos de novo. — Estou bem aqui. Vai caçar uma cirurgia pra fazer, vai.
Hoseok soltou uma risada leve e, mudando de assunto, perguntou:
— E descobriram a identidade dele? Alguém veio procurar?
— Nada ainda.
— Sabe que agora é só questão de tempo, né, Taehyung?
Taehyung suspirou, concordando.
— Sim. Amanhã vamos fazer mais exames para tentar reduzir a sedação... Mas até lá, trate de ficar firme, "Carinha" — disse, tocando levemente o braço do paciente.
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No dia seguinte, Taehyung fez questão de realizar todos os exames possíveis no "Carinha" — nome carinhoso que ele havia dado ao paciente, pois detestava chamá-lo de "Sem Nome", como todos os outros.
Taehyung estava sentado em sua sala com o Dr. Paul, pneumologista, e a Dra. Minjin, a cirurgiã responsável pelo "Carinha". Juntos, revisaram todos os exames de imagem e sangue. Como médico de trauma e responsável pelo paciente, Taehyung concluiu que estavam prontos para diminuir a sedação.
— Podemos começar a tirar a sedação — decidiu, confiante.
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Atraídos pelo Destino
Fiksi PenggemarDepois de sobreviver a um passado doloroso, Jungkook só deseja paz e um recomeço. O que ele não esperava era encontrar conforto e um novo sentido ao cruzar o caminho de Taehyung, um médico brilhante, porém aprisionado em um casamento sem amor. À med...