Eu já começava a acreditar que nunca mais diria meu nome em voz alta. E se alguém colocasse meu nome no sistema? E se ele me encontrasse? Aqui no hospital, envolto em lençóis e paredes brancas, eu me sentia seguro. Pelo menos por enquanto.Mas a segurança tinha um preço, e o logo do Centro Médico Internacional de Seul parecia me lembrar disso a cada canto. Em breve, eu teria que sair. E sair significava encarar o mundo — e ele. O pensamento de Sung Hoon fazia meu peito apertar. Aquele monstro provavelmente já tinha esvaziado minha conta, talvez até estivesse se regozijando com minha ausência. Não, eu não podia sequer pensar em como sobreviver lá fora sem ele perceber.
Assim, o silêncio me protegia. Me tornava invisível, uma sombra entre pacientes e enfermeiros, o “Carinha” sem nome, uma existência temporária. Eu queria falar, pedir ajuda, contar minha história, mas algo dentro de mim me sufocava sempre que tentava. E então eu calava.
Era à noite, quando as luzes da cidade brilhavam lá fora, que eu deixava meus pensamentos vagarem. No meu antigo apartamento, do outro lado da cidade, as mesmas luzes deviam brilhar, distantes. Fechei os olhos, tentando encontrar um resquício de paz, mas meu corpo ainda permanecia alerta, à espera.
Foi quando ouvi leves batidas na porta. Meu coração disparou, e eu cobri a cabeça com a coberta, como uma criança que tenta se esconder de um pesadelo. Mas a voz que veio logo em seguida tinha um tom grave e calmo que, de alguma forma, me confortava.
— Olá, "Carinha", como você está? — a voz do Dr. Kim chegou suave, quase aconchegante. — Olha o que eu trouxe pra você!
Curioso, puxei a coberta para baixo, e um pequeno sorriso escapou antes que eu pudesse impedir. Em suas mãos, ele segurava um ursinho em forma de coelho. Algo no modo que ele me olhava enquanto segurava o bichinho me fez soltar um suspiro discreto.
— Descobri que temos uma loja de conveniência aqui no hospital, acredita? Muitas pessoas compram flores e ursos para os pacientes. Eu pensei em trazer flores, mas… — Ele olhou para o coelho e, em seguida, para mim. — Esse aqui pareceu mais a sua cara.
Quando ele estendeu o coelhinho para mim, hesitei. Mas então ele o colocou gentilmente sobre meu braço, e eu, instintivamente, o apertei. Não sabia como agradecer. Na verdade, eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras não saíam. A expressão dele, porém, permanecia serena.
— Então, como você dormiu? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
Eu não respondi, mas o Dr. Kim continuou, aparentemente acostumado com minhas respostas não-ditas.
— Eu dormi por quase vinte horas! — disse ele, rindo baixinho. — Não conseguia ir embora sabendo que você estava aqui sozinho.
Levantei o olhar. Ele notou e se inclinou um pouco mais, como se tentasse me alcançar além das palavras.
— O que eu quero dizer, "Carinha", é que você pode confiar em mim. Estou aqui pra ajudar. Você não precisa dizer nada agora, mas quando estiver pronto… — Ele parou, deixando a promessa no ar, como uma mão estendida que esperava ser segurada.
Lágrimas surgiram em meus olhos, e ele percebeu. Sua mão foi em direção aos meus cabelos, mas no instante em que ele se aproximou, meu corpo se retraiu involuntariamente. Eu notei o breve olhar de surpresa que passou por seu rosto, e em seguida, ele suavizou a expressão, parecendo compreender sem que eu precisasse explicar.
O tempo no hospital era marcado pelo tic-tac do relógio na parede. As horas passavam lentamente, e eu estava consciente de cada minuto desde a última vez que Dr. Kim aparecera. Faziam 8 horas e 58 minutos — não, 9 horas — desde que ele tinha ido embora, algo que ele nunca demorava tanto para fazer.
Cada vez que a porta abria, meus olhos se voltavam rapidamente, esperando vê-lo entrar com aquela expressão tranquila e o sorriso meio travesso. Mas era sempre alguém diferente. Uma enfermeira veio para as medicações e, em silêncio, eu engoli os comprimidos, cada um como um peso a mais na minha ansiedade.
Finalmente, um pouco depois das nove, ouvi batidas suaves. Meus ombros relaxaram. Lá estava ele.
— Oi, "Carinha" — ele disse, com uma expressão gentil. — Vim dar boa noite. Vou pra casa, mas volto amanhã cedo. E não se esqueça… está seguro aqui, certo?
Ele me olhou, aguardando qualquer resposta, mas eu continuei quieto. Ele abaixou a cabeça por um segundo, parecendo frustrado, mas então se virou para sair.
— O... obrigado.
A palavra escapou dos meus lábios quase sem que eu percebesse. Ele parou, e, quando se virou para mim, um sorriso largo e iluminado surgiu em seu rosto. Seus olhos brilharam com uma felicidade tão sincera que eu senti uma pontada de alegria. Sorri de volta, mesmo que discretamente, mas logo o corte em minha bochecha lembrou-me de que sorrir ainda era dolorido.
E enquanto ele deixava o quarto, uma faísca de esperança se acendia em meu peito. Talvez eu estivesse pronto para falar. Não tudo, mas talvez... o suficiente.
É esse capítulo ficou curtinho e muito fofinho, mas quando escrevi estava no meu dia menos ogra rs
Gostaria de saber o que estão achando da fanfic? Devo continuar ou melhor me aposentar? Kkkkk... Logo mais eu volto
Beijos Beijos 💋
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Atraídos pelo Destino
Fiksi PenggemarDepois de sobreviver a um passado doloroso, Jungkook só deseja paz e um recomeço. O que ele não esperava era encontrar conforto e um novo sentido ao cruzar o caminho de Taehyung, um médico brilhante, porém aprisionado em um casamento sem amor. À med...