11 - Fazendo a manutenção de uma sociedade heteronormativa

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Eu queria saber o que eu tinha na cabeça de aceitar vir em um show da Theo?! Não só isso: um show esgotado da Theo! Como pode existir tanto lgbt assim em São Paulo?!

Há pouco mais de dois meses atrás, antes de conhecer ela, se você chegasse até mim e falasse: "Adivinha só? Você acaba de ganhar um ingresso para assistir a um show da Theo Rodrigues!", eu provavelmente falaria que de graça ainda está muito caro.

Mas hoje?! Hoje eu passei o dia pensando sobre isso. É isso mesmo que você leu: eu passei o dia ansiosa para ver Theo se apresentando. E passei a semana pensando qual roupa eu usaria.

Pode rir à vontade. A Flora do passado me zoaria muito também. Mas a Flora do presente está recebendo bons orgasmos. Logo, não me abalo por tal!

E veja bem, fazia duas semanas que nós não fazíamos sexo porque a agenda de ensaios dela estava bastante corrida e a gravadora dela não estava dando muito tempo para ela. Pois é! E pode não parecer muito tempo mas se você tivesse provado uma foda com ela, você estaria como eu.

Então, sim! Eu pensei muito sobre a roupa que iria usar e me produzi hoje porque, segundo o próprio, iríamos para o apartamento dele depois para comemorarmos o primeiro show. 

Isso mesmo. Meu planos para hoje envolvem dar a noite toda e absolutamente ninguém pode me chamar de vagabunda pois isso seria muito antifeminista.

Segundo Theo, os ingressos que foram reservados para a gente eram nas cadeiras inferiores do estádio, bem em frente ao palco. E é óbvio que eu levei isso em absoluta consideração na hora de escolher a roupa.

Eu optei por usar um vestido prata, que abraçava muito bem as curvas do meu corpo e com o comprimento vindo até o meio das minhas coxas. Alças finas para o segurar no lugar, com o decote reto e uma pequena fenda em uma das pernas. Coloquei um salto baixo, preto, nos pés, mas só porque nós teríamos lugar para sentar quando eu não aguentasse mais ficar em pé. E como é São Paulo, trouxe uma jaqueta de couro preta para se esfriar.

E, por favor, vamos sim falar da calcinha minúscula branca que estou usando por baixo do vestido.

Theo vai se divertir bastante tirando tudo isso hoje!

— Flora? — ouço a voz de uma mulher atrás de mim. — Você é Flora Dias?

Me viro para olhá-la: a mulher tinha cabelos longos e castanhos, usava um terninho cinza e um salto preto em seus pés. Além de uma grande credencial, indicando ser parte da equipe, pendurada ao redor de seu pescoço.

— Isso! Oi. — estendo minha mão, a qual a mulher prontamente aperta, dando um leve sorriso.

— Me chamo Clara. É um prazer conhecer vocês. — ela se vira para Manu e Erick, os comprimentando também. — Estão com as credenciais? Imagino que Theo entregou ontem, certo?

Ontem a noite Theo apareceu no restaurante minutos antes dele abrir e entregou para Erick e eu os três documentos. Depois explicou que deveríamos chegar ao menos uma hora antes da abertura oficial dos portões, que era por volta das 16h, para conseguirmos ir para nossos lugares sem atropelo.

Fomos orientados a esperar próximos ao portão 2 mas era esquisito estar fora da fila e ao lao do portão de entrada. A todo momento eu sentia o olhar curioso de várias pessoas em nós. Acho que os fãs estavam prontos para bater na gente se tentássemos furar a fila, e de forma alguma eu poderia julgá-los.

— Bom, então vamos lá! — Clara vira de costas e os funcionários liberam a entrada para nós, cuidando para travar a fila e ninguém tentar passar antes da hora. Ela espera os seguranças nos revistarem e validarem nossas credenciais e, quando finalmente somos liberados, vamos seguindo ela estádio adentro.

Posso Ser Ela?Onde histórias criam vida. Descubra agora