Posso Ser Ela?

17 - É tanta sáfica sofrendo que poderia ser uma série da Netflix

— E falou mais com ela? — minha mãe pergunta e eu abro os olhos, encarando sua expressão preocupada pela tela.

— Ela me mandou algumas mensagens ontem e hoje, perguntando como eu estava e me lembrando de beber água e comer. Mas eu cortei qualquer chance de estender conversa. — respondo, sentindo a garganta queimando de novo.

— Mas ela não apareceu aí?

— Não! Eu disse para ela que precisava de um tempo sozinha. — enfio o rosto no travesseiro, em uma tentativa ridícula de não chorar na frente da minha mãe.

— Só tente não descontar nela, minha filha. — ela começa, com seu tom tranquilo e maternal que sempre bastou para me dar paz. — Eu entendo que está mal e que tudo isso é extremamente sufocante para você, mas só tente se lembrar que a culpa não é dela.

— Eu não acho que seja! — torno a olhar para minha mãe. — Mas eu não sei o que fazer! Eu tô com medo, tô com raiva e sinto que a qualquer momento a veia na minha testa vai explodir.

— Então acho que essa não é a melhor hora para jogar a bomba no seu colo, né? — pergunta e eu olho para ela sem entender. — Seu pai... ele veio aqui hoje cedo, me pegou no portão na hora que eu estava saindo para ir a missa, estava bem nervoso. Perguntei o que tinha acontecido e ele começou a pedir perdão, dizendo que estava arrependido e que se pudesse voltaria no tempo.

— Okay...? E isso era sobre o casamento de vocês?

— Quem dera fosse, filha. — ela respira fundo e continua. — Ele disse que havia ligado para um amigo dele, que durante muito tempo trabalhou em um jornal aqui da cidade. — prendo a respiração, podendo ouvir o sangue correndo com força dentro da minha cabeça. — Queria saber como poderia fazer para vender uma notícia grande para um veículo grande. Ele tirou as fotos no dia que estiveram aqui e as vendeu por um valor absurdo. Sabe bem como ele é quando o assunto é dinheiro fácil, eu só nunca imaginaria que ele usaria a própria filha para isso.

Eu não respondo à minha mãe. Não consigo. Parece que todas as palavras do mundo sumiram da minha cabeça. Me viro de barriga para cima, vendo meu teto que um dia foi branco, amarelado. Eu sei que eu já deveria ter aprendido a esperar sempre a coisa mais absurda vinda daquele homem, mas dessa vez eu retiro o meu chapéu. Ele conseguiu ultrapassar todo e qualquer limite que eu poderia um dia ter imaginado.

— Ficou se desculpando e dizendo que não tinha ideia que as pessoas iriam falar as coisas que estão falando...

— É... o problema é que de desculpa o inferno tá cheio. — coloco as mãos no rosto, sentindo o estômago embrulhado e a cabeça doendo. — Mãe, se importa se eu desligar? Eu estou exausta, só quero que o dia acabe.

— Magina, meu amor. Vai lá. — ela me dá um sorriso terno e eu tenho vontade de pegar o primeiro ônibus e ir pedir colo para ela. — Eu te amo, minha filha. Eu estou aqui para o que precisar.

— Eu sei. — tento lhe devolver o sorriso mas tenho certeza de que é somente uma careta. — Boa noite, mãe.

Desligo a chamada e sinto as lágrimas caindo. Queria que Theo estivesse aqui. Eu sei que é idiota falar isso agora porque fui eu que pedi para ela me dar espaço e tempo mas...

Eu queria Theo aqui.

O dia, não, o final de semana havia sido um inferno. Jornalistas descobriram onde eu moro e ficavam o tempo todinho parados na frente do prédio, esperando eu sair ou Theo chegar. Erick e Manu haviam ido ao mercado para mim e me trouxeram algumas coisas hoje pela manhã e eu vi o momento que tentaram parar eles para perguntar algo.

Eu também estava evitando toda e qualquer rede social, parecia que todo mundo estava falando sobre mim. Eu acabei desativando todas as minhas contas porque muita gente começou a me mandar mensagem, algumas nem tão legais assim, e começaram a compartilhar fotos minhas por aí. E não é como se eu precisasse de algum aplicativo além do de mensagem no momento.