Posso Ser Ela?

16 - Mas nem Simone de Beauvoir me impediria de dar na cara dessa aqui

A semana havia passado voando. Desde sábado passado, Theo estava tentando ser o mais discreto possível. Havíamos nos visto somente no domingo, ela foi até o meu apartamento e ficamos horas deitadas na cama, só sentindo a presença uma da outra. Eu precisava daquilo mas acho que ele precisava mais.

Por sorte os dias de trabalho estavam sendo mais do que o suficiente para me fazer capotar assim que chegava em casa e as horas servindo clientes e implicando com Erick também bastavam para me fazer fingir que estava tudo sob controle.

Bom, as coisas ainda estavam sob controle. Eu era só uma mulher misteriosa que foi vista saindo de um condomínio de luxo com ela. Meu nome e meu rosto não estavam por aí. Ainda.

Parte de mim gosta de acreditar que isso vai se manter pelo maior período de tempo possível, que Theo e eu vamos ter tempo para decidir o que isso entre a gente é. Que vamos ter tempo de resolver como vamos seguir.

Acho que este é um excelente momento para eu me retratar aqui e dizer que me arrependo de ter dado pitaco na relação de Theo com a ex sem saber de nada porque em uma semana, sem o meu nome sequer ser mencionado, eu já precisei ler muitas coisas absurdas na internet a respeito do que temos. Pois é, eu cuspi para cima e caiu bem na minha testa.

Bom, desenvolvimento de personagens, né?! Pessoas mudam e ver nosso crescimento pessoal no decorrer de alguns meses é realmente algo lindo.

Por favor, não me cancele no twitter por ser uma cadela hipócrita!

— Mas é nítido que o Jacob era uma opção muito melhor, vida. — ouço a voz de Erick e volto para a conversa rolando em minha frente.

Estávamos na praça de alimentação de um shopping próximo ao trabalho. Manu disse que precisava comprar umas coisas e queria companhia. Eu era a companhia! Erick é apenas o namorado grudento que não consegue ficar longe.

— Amor, você está maluco! O Edward sempre foi a única opção, ela nunca ligou pro Jacob. — Manu responde, colocando mais uma porção de fritas na boca.

— O Edward era apenas branco! — ele dá de ombros. — Você palmitaria dessa forma, Manu?

— Se a outra opção fosse o Jacob... — ela mostra a língua para ele. Não posso evitar e apenas rir da discussão inútil rolando na minha frente, o que atrai a atenção dos dois para mim. — Quem você acha que era a melhor opção, amiga?

— A Alice. — digo, dando um gole no refri do Erick.

— Nem tudo nessa vida precisa ser gay, Flora. — Erick fala, de cara fechada e puxando o refrigerante para longe de mim.

— Mas se eu tenho a opção de tornar gay, por que eu não faria isso? — pego o celular e vejo que continuo sem nenhuma notificação. — Erick, precisamos ir se quisermos chegar no horário.

— Saco! — ele se levanta, pegando a própria bandeja e a de Manu e levando até a área de descarte. Pego minha bolsa e vamos os três caminhando até a saída.

— Eu te mando mensagem quando chegar em casa, vida. — eles se dão um selinho e eu desvio o olhar, não querendo me intrometer. — Bom trabalho para vocês dois!

Nos despedimos e vamos para o lado oposto, caminhando com calma pelas ruas agitadas de São Paulo.

— E aí? Como você está? — Erick pergunta. Ele tem me feito muito essa pergunta durante a semana, acho que a qualquer momento deve achar que vou surtar ou ter uma crise.

— Estou de rolo com uma das maiores cantoras do país e todo mundo na internet acha que eu sou uma vadia que quer apenas fama com tudo isso. — respondo, dando uma risadinha curta e sarcástica. — Definitivamente já tive semanas melhores.