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Dois dias após nosso encontro, me peguei pensando na última coisa que Tsukasa disse antes de partir. Suas palavras foram: "Da próxima vez que nos encontrarmos, você estará gigante, Meiko." Concluí então que ele deveria voltar em, no máximo, quatro meses. Meiko estava crescendo rápido, e imaginei que três meses fossem suficientes para ela alcançar seu tamanho final — ou algo próximo disso.

Enquanto Meiko também crescia, dominando cada vez mais a casa, eu me perguntava o que fazer e o que dizer quando ele retornasse. Queria algo especial, mas simples, sem um evento cheio de gente. Durante quase um mês, avaliei várias ideias, mas acabei voltando ao plano inicial: um jantar — nada surpreendente, admito, considerando meu jeito de decidir as coisas.

Quanto tempo ele ficaria? E se partisse cedo demais para que houvesse um jantar? Será que ele estava melhor? Essas perguntas não saíam da minha cabeça, inquietantes, mas ao mesmo tempo algo em mim também mudava com o tempo.

Saber que ele voltaria me trouxe um certo alívio. O amor que sentia por ele se assentou de um jeito calmo, porém profundo. Ainda ansiava por sua volta, mas a distância e os receios que costumavam ecoar na minha mente antes de dormir foram se acalmando.

Agora, eu o aguardava sem precisar medir cada passo. Ele viria, e nos amaríamos do café da manhã até o jantar.

Dois meses depois dessas reflexões, ao meio-dia, ouvi batidas na porta.

Estava prestes a sair para o trabalho e ainda fechava os botões da manga da camisa.

— Um instante! — Chamei, enquanto destrancava a porta. Quando a abri, dei de cara com uma das imagens mais marcantes da minha vida: Tsukasa estava ali, com a mesma roupa justa de sempre, um casaco jeans desbotado e um par de tênis já gastos. Trazia nas costas a velha mochila preta cheia de bottons de bandas. Seu cabelo, como de costume, estava penteado para a frente, um pouco desalinhado.

— Espero que ainda estejam precisando de ajuda por aqui. — Ele sorriu, e seu sorriso iluminou aquele momento.

Fiquei paralisado por alguns segundos, perdido no encanto da cena. As lembranças de um dia semelhante, quase dois anos atrás, se misturaram à realidade.

— Espero que eu não esteja imaginando coisas... — Sorri, ainda hipnotizado. Meiko se aproximou, encostando-se nos meus pés.

— Bem, se você está imaginando, então Meiko está imaginando junto. — Ele riu e, com um assobio rápido, Meiko correu em direção a ele, passando pelas pernas dele como se estivesse saudando um velho amigo. — Oi, minha garota!

Despertei do meu devaneio e dei espaço para que ele entrasse. Segui seus passos com o olhar enquanto ele explorava cada canto da casa que não via há tanto tempo.

— Quase nada mudou... — Ele comentou, deslizando os dedos pela poltrona e espiando pelo vidro da porta do quintal. — Você manteve tudo no lugar.

— Quis manter suas lembranças vivas aqui também.

— Um lugar não precisa preservar minhas lembranças. — Ele murmurou suavemente.

— Nem o meu coração?

Ele sorriu e abaixou a cabeça, um brilho de emoção no olhar.

— Os romantismos que tanto amo... — Ele pôs as mãos nos bolsos do macacão e voltou-se para mim. — Pelo visto nosso sentimento também se comunica de maneira similar... Sua memória também tem lugar sagrado no meu coração. — Em uma pausa ele completou afetuosamente: Sua imagem e suas emoções... Tudo o que compõe você.

— Agora dado aos mesmos romantismos, hm? — Mordisquei o lábio em um sorriso. — Eu não poderia estar mais feliz... — Nos entreolhamos atentamente por um breve momento. — Na verdade, eu não poderia ser mais feliz.

Através da porta ✧ | RuikasaOnde histórias criam vida. Descubra agora