Naquela noite, não comi.
Passei horas me debatendo sobre o que aconteceu no quintal. Enquanto minha testa latejava, pensava em como tudo seria no dia seguinte. Para meu desespero, os quase três dias seguintes foram marcados por silêncio e conversas diretas; sem jantares, sem risos, apenas a comunicação básica e minhas constantes tentativas de me manter longe de qualquer lugar onde ele estivesse. Quando nossos olhares se cruzavam, eu desviava imediatamente; ao ouvir sua voz, me escondia no quarto; quando pensava demais, tentava dormir, e como se não bastasse essa agonia, sonhava com ele. Sonhava com aquele último momento. Passei a acordar tarde, tendo como café da manhã o almoço.
Pensei milhares de vezes em dispensá-lo do trabalho, mas não conseguia. Ele não era o problema.
Foi então que ele começou a agir para tentar consertar a situação.
Um dia, em meio àquelas férias monótonas, ao me ver entrar na cozinha para almoçar, ele se aproximou.
— Boa tarde, Rui.
— Boa tarde, Tsukasa. – Abaixei o olhar e fixei na cadeira à minha frente.
Antes que eu pudesse puxá-la, ele me abraçou.
Num primeiro momento, não consegui reagir, mas ao sentir seu corpo junto ao meu, acabei envolvendo-o em meus braços também. escondi meu rosto na curva de seu pescoço, absorvendo a fragrância do seu perfume.
Foram minutos de paz que eu tanto desejava após tudo.
A partir daquele dia, ele me recebia todas as tardes com um abraço. Às vezes, mais demorados do que outros, mas sempre acompanhados de um sorriso e um "boa tarde".
Nossa comunicação evoluiu, passando do completo silêncio a piadas sobre programas de tv. Sua presença se estendeu aos sábados, o que eu protestei, mas acabamos entrando em um acordo sobre horários e extras. Aos domingos, eu sentia sua falta — na verdade, esse passou a ser o pior dia da semana.
Ps: eu poderia ter controlado meu sono, mas imaginar uma manhã sem ele me deixava mal.
Um mês se passou desde o acidente e estávamos melhores do que antes. Eu me sentia livre o suficiente para compartilhar meu pequeno segredo.
Foi numa tarde de segunda-feira que ele passou pela sala e me viu desenhando em grandes folhas brancas.
— Ah, vejo que finalmente decidiu usar todos esses materiais!
— Ora, você sabia? – Indaguei, divertido e surpreso.
— A única coisa que você não deveria ter dito a um curioso é: "nada de mexer na gaveta de baixo do guarda-roupa." E sim, eu sei do seu segredo desde o primeiro dia que pisei aqui.
— Que atrevido!
— E para quem me dizia ser limitado com artes, aqui está o talentoso Rui Kamishiro.
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Através da porta ✧ | Ruikasa
أدب الهواة𝐀𝐓𝐑𝐀𝐕É𝐒 𝐃𝐀 𝐏𝐎𝐑𝐓𝐀 ᴀ ʀᴜɪᴋᴀꜱᴀ ꜰᴀɴꜰɪᴄᴛɪᴏɴ ㅤ 𝐀os vinte e cinco, Rui Kamishiro já acreditava que sua vida estava definida em uma rotina exaustiva de trabalho e estudo, sem tempo para as cores vibrantes ou o entusiasmo do passado. A mono...