Sentados naquele sofá, lado a lado, cercados apenas pelo suave sussurrar das folhas lá fora, nossos olhares exploravam cada detalhe do rosto um do outro, dançando de forma íntima e cuidadosa. Cada traço parecia contar uma história, e eu, perdido naquele instante, percebi o quanto ainda tinha por dizer, sem sequer saber por onde começar.
Eu não sabia ao certo o que ele pensava de mim, mas, depois daquele pequeno momento de proximidade, tinha certeza de que deveria ser algo bom. Desejei ter tido a mesma coragem para retribuir o gesto, mas me dei conta de que nos encontrávamos em uma situação delicada.
Encolhi os lábios por um instante e, ao acariciar seu rosto com uma suavidade quase triste, virei-me apenas o suficiente para pegar a manta no encosto do sofá. Cuidadosamente, cobri seu corpo, evitando que sua nudez ficasse exposta. Ele me olhou, um misto de confusão e frustração no olhar, talvez já entendendo o que eu não conseguia dizer.
— Rui... – Sua voz saiu carregada de emoção.
— Não podemos fazer isso. – Interrompi suavemente, escolhendo cada palavra com cuidado. – Nós temos uma relação diferente, Tsukasa. – O que eu estava prestes a dizer doía mais em mim do que nele. – Você é meu ajudante. Não podemos ser nada além disso, você entende?
— Por favor, não me afaste. Não novamente. – Ele respondeu, sua voz baixa e fragilizada.
— Eu... eu sinto muito...
— É medo, não é? – Seus olhos tristes buscavam uma explicação.
— Não, Tsukasa. – Respondi, pesado de sentimentos. – Só que... não podemos. Você entende o quão delicada é a situação?
— E você não entende que, quando há sentimento, tudo é diferente? Não há nada de frágil nisso, Rui.
— As coisas não funcionam assim. – Suspirei, sentindo o peso de uma decisão incerta.
— Então eu me demito, o que acha? Se é isso que te preocupa, eu paro de ser seu ajudante. – Ele ainda carregava uma centelha de esperança. – Seremos apenas duas pessoas que se encontraram em algum lugar, algum dia.
— Eu não posso... – Balancei a cabeça, incapaz de lidar com a ideia.
— Rui... – A forma com que ele pronunciou meu nome, quase como um pedido, tornava tudo ainda mais difícil.
— Somos diferentes, Tsukasa. Muito diferentes. Olhe para mim: minhas mãos, meu rosto, tudo marcado pelo tempo. O que você poderia querer de alguém como eu, além de um trabalho e um salário?
— Eu quero o que você já me deu todo esse tempo: amizade, atenção, carinho. – Ele segurou minhas mãos. – Rui, como pode ser tão inteligente e ainda assim não perceber?
Eu talvez custasse a enxergar o que estava diante de mim...
Abaixei a cabeça, meus olhos pousaram em nossas mãos, entrelaçadas, como se sustentassem o peso do tempo entre nós. Senti o pânico de perdê-lo sem uma razão verdadeira. Meu coração acelerou, e a dor de uma possível despedida parecia insuportável.
— Eu não quero que você vá embora. – Minha voz quase suplicante encontrou as profundezas de seus olhos.
Sem hesitar, ele se inclinou para mais um beijo, um toque leve que trouxe um calor desperto. Observei seu rosto uma última vez antes de fechar meus olhos; senti quando ele envolveu meu lábio inferior com os seus. Macio, cuidadoso...
Minha boca se entreabriu, e ele aceitou o convite.
Senti sua respiração quente se misturar à minha, nossos lábios conversando em uma sinfonia silenciosa de satisfação. O som daquele beijo... os suspiros, as respirações ofegantes, o toque das línguas... Lembrava-me com uma precisão quase dolorosa, tanto que interrompi por um instante, apenas para vê-lo.
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Através da porta ✧ | Ruikasa
Fanfic𝐀𝐓𝐑𝐀𝐕É𝐒 𝐃𝐀 𝐏𝐎𝐑𝐓𝐀 ᴀ ʀᴜɪᴋᴀꜱᴀ ꜰᴀɴꜰɪᴄᴛɪᴏɴ ㅤ 𝐀os vinte e cinco, Rui Kamishiro já acreditava que sua vida estava definida em uma rotina exaustiva de trabalho e estudo, sem tempo para as cores vibrantes ou o entusiasmo do passado. A mono...