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Naquela semana, eu deveria ter voltado ao trabalho, mas simplesmente não consegui.

Eu não estava apenas triste; havia perdido partes de mim: uma que se foi com ele e outra que se desfez, espalhada pelo chão da casa horas antes. Senti-me incompleto, talvez vazio, tentando recompor uma carcaça seca, destituída de esperanças, encolhendo-se a cada segundo.

Tudo o que eu queria era chorar até que meu corpo cedesse, até que eu desmaiasse e não houvesse mais lágrimas para derramar. Desejava fazer isso sozinho, isolado em casa, sem que ninguém me visse ou perguntasse o que estava acontecendo.

Liguei para minha chefe, dizendo que estava fora da cidade resolvendo questões familiares, mas que em uma semana estaria de volta. Ela compreendeu e ainda me tranquilizou, dizendo que não deveria me preocupar com datas, pois sabia que eu daria conta do trabalho da melhor forma, e que as coisas se resolveriam para que eu pudesse voltar sem maiores inquietações. Agradeci pela consideração e desliguei.

Após a ligação, fiquei encolhido no sofá, preso em meus pensamentos, revisitando cada erro até ali, imaginando tudo que poderia ter feito para evitá-los. Em alguns momentos, sentia uma resignação amarga, talvez achando que fosse melhor assim; afinal, quanto tempo ele continuaria naquela situação sem nunca me contar nada? Esse remoer torturante nunca havia me acontecido antes, e tentava usar a razão para estabilizar minha mente.

Mas sempre voltava à origem dos acontecimentos: eu. Poderia me culpar pelo que pensei e pelas ações que tomei? Sim e não. Dividido, os pensamentos se misturavam... Por que me torturar assim? Eu deveria estar aliviado por ter descoberto tudo; não conseguiria dormir imaginando tudo o que... Arrgh! Inevitavelmente, me pegava pensando nele: e o amor? E se ele realmente me amava a ponto de esconder a situação a qualquer custo? Ele sabia que eu poderia reagir mal... Poderia culpá-lo também? Quais eram suas circunstâncias? Eu nunca saberia, pois nem ao menos o deixei falar.

Minha situação só piorava. Os mesmos pensamentos me atormentavam dia e noite.

Três dias se passaram, e eu continuava no mesmo estado.

Tentava me distrair cuidando das plantas, mas nem minhas queridas briófitas conseguiam me resgatar desse inferno pessoal. Pensei em voltar ao trabalho, mas sabia que não conseguiria me concentrar. Precisava de ajuda, de uma conversa... Talvez uma terapia resolvesse meu problema. Marquei uma consulta, mas levaria mais dois dias até ser atendido.

Precisava falar com alguém, e foi unindo a necessidade de desabafar e a confiança que resolvi recorrer a Nene. Ela era a única pessoa próxima o suficiente para que eu pudesse me abrir.

Liguei e pedi, com toda a sinceridade, que me ajudasse com uma questão pessoal e que não comentasse nada com ninguém. Ela compreendeu, e marcamos de nos encontrar na cafeteria próxima ao escritório após o expediente.

Com o encontro acertado, tentei me recompor da melhor forma possível. Peguei um táxi até lá e, ao chegar, percebi o olhar de espanto dela quando me sentei em frente à mesa.

— Você não parece nada bem, Rui.

— E, de fato, não estou. Tentei disfarçar, mas acho que falhei miseravelmente.

— Nada que três boas refeições não possam ajudar.

Eu ri. Foi a primeira vez que sorri desde que tudo aconteceu.

— Obrigado, Nene. Bem, para não tomar muito seu tempo, vou contar o que me aconteceu. Preciso de algum conselho, uma palavra que me faça encontrar o rumo.

— Parece algo sério.

— É, de certa forma. Bem... — Pigarreei. — Esses últimos três meses foram cheios de mudanças, mais do que eu imaginava, até com algo que me parecia impossível: me apaixonar.

Através da porta ✧ | RuikasaOnde histórias criam vida. Descubra agora