05

50 6 35
                                    

A minha novidade favorita havia se despedido de mim quase duas horas após o jantar. Antes de partir, me deixou com um beijo suave e um sorriso radiante, envolto em palavras doces e levemente provocantes. Era como se fôssemos o equilíbrio perfeito em harmonia.

Quase não consegui dormir naquela noite. A expectativa de vê-lo novamente no dia seguinte, de sentir sua presença física, seu toque, sua energia, me deixava inquieto. Madrugada adentro, o sorriso no meu rosto revelava minha mente divagando em cenários doces e inesperados, algo que jamais imaginei compartilhar com outra pessoa. Sem dúvida, eu estava sonhando acordado, enredado na curiosidade que ele despertava.

Por dormir tarde, acordei ainda mais tarde, ao som de um canto doce que parecia inaugurar o novo dia. Ao abrir os olhos, sorri ao notar a melodia suave tão próxima. Ele estava ali, encostado à porta, observando-me enquanto eu ainda me agarrava ao travesseiro, cantando uma antiga canção de forma encantadora. Fiz um sinal para que ele se aproximasse, e ele veio até mim em passos leves, quase flutuando. A música parou quando ele se sentou ao meu lado, admirando meu semblante ainda sonolento.

— Boa tarde, senhor Kamishiro...

— Boa tarde, Tsukasa... — Tomei sua mão e beijei-lhe os dedos com ternura.

— Parece que dormiu bem mais do que de costume.

— Culpa sua, me fazendo perder os horários.

— Ah, então eu sou o responsável por tirar o seu sono? — ele arqueou as sobrancelhas, fingindo indignação.

— Não que isso seja algo ruim. — Lentamente, puxei-o pelo braço, convidando-o a deitar-se ao meu lado.

— E o que eu fazia enquanto rondava seus pensamentos? — Ele se aconchegou ainda mais, me envolvendo pela cintura.

— Você continuava o que tínhamos pausado ontem.

— Então só eu continuei? — Ele se ergueu levemente e deixou um beijo leve no canto da minha boca.

— Corrigindo: nós continuamos. — Meus dedos deslizaram suavemente pelo seu queixo, enquanto ele me olhava com aqueles olhos inconfundíveis. — Espero que não tenha esquecido das...

— Definitivamente, não. — Ele me interrompeu com segurança. — Fiz questão de encher aquela bolsa com todas as camisinhas que encontrei na farmácia.

Caímos na gargalhada, e o riso dele era contagiante. Foram segundos eternos de felicidade, nossos olhares se encontrando em meio aos risos, até que um silêncio suave se instalou entre nós. Ele mordeu o lábio e, com certa timidez, revelou algo.

— Seu sorriso... — ele começou, meio acanhado. — Eu gosto dele.

— Obrigado. — Sorri, enquanto ajeitava algumas mechas bagunçadas em sua testa. — Eu também gosto do seu.

— É muito bom poder te olhar assim... — Ele disse em um tom mais sério, seus olhos encantadores explorando cada detalhe do meu rosto. Eu sentia cada segundo daquele momento.

— Sempre que quiser, já sabe onde me encontrar.

— O achado certo.

— Devo dizer que você foi o meu achado certo... — Por um instante, me peguei refletindo sobre tudo aquilo. Duas vidas se cruzando de forma inesperada, e, de alguma forma, tudo parecia mágico. — Qual seria a probabilidade?

— Uma em quarenta e quatro setilhões.

— Nossa! Bem específico... e incrível. Mas, por que quarenta e quatro setilhões?

— Só um número que ouvi em uma música — ele respondeu, sorrindo. — A letra dizia algo como "quarenta e quatro setilhões de milhas eu percorri pra te encontrar."

Através da porta ✧ | RuikasaOnde histórias criam vida. Descubra agora