Capítulo - 19 Coragem nas Sombras

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Quando Anne entrou em casa, foi imediatamente recebida pela voz cortante de Lívia.

— Ah, veja só, a ceguinha voltou tarde hoje, hein? — provocou Lívia, cruzando os braços e com um sorriso debochado no rosto. — E aquele abraço com o Noah lá fora? Você e ele, é isso? Um pobretão com uma cega? Isso vai ser divertido contar aos nossos pais.

Anne respirou fundo, já esperando por mais uma rodada de provocações. No fundo, sabia que Lívia faria de tudo para sabotar qualquer felicidade que ela encontrasse.

— O que você quer, Lívia? — Anne perguntou, sua voz firme, mas tranquila.

— Quero que você se mantenha no seu lugar, Anne! — Lívia respondeu, se aproximando com um olhar de superioridade. — Porque se os nossos pais souberem que você está saindo com um garoto como o Noah, eles vão te mandar embora dessa casa. E, honestamente, estou doida para isso acontecer. Vou dizer a eles que você está se comportando como uma qualquer com um rapaz de baixa renda. Vamos ver como eles vão reagir.

Anne, que normalmente se manteria quieta para evitar conflitos, sentiu uma onda de coragem passar por seu corpo. Talvez fosse a influência de Noah, ou simplesmente a exaustão de ser constantemente humilhada, mas ela não estava disposta a se deixar abater.

— Você acha que pode me assustar com suas ameaças, Lívia? — Anne respondeu, erguendo o queixo, a voz tão firme quanto sua postura. — Você não entende o que significa se conectar com alguém de verdade, porque tudo o que você tem são aparências e status. Isso não faz de você melhor que ninguém, só mais vazia.

Lívia ficou surpresa com a resposta, mas logo recuperou seu sorriso malicioso.

— Oh, que bonitinho — ela zombou, inclinando-se para mais perto. — A ceguinha rebelde agora se acha corajosa só porque tem um namoradinho? Você não passa de uma pobre coitada, Anne. E logo, logo, vai ser colocada no seu devido lugar.

Anne, contudo, permaneceu impassível.

— Diga o que quiser, Lívia. Pode contar para nossos pais o que quiser, porque eu não tenho medo de você. E mais: o que eu sinto por Noah, você jamais vai entender, porque você está tão preocupada com o que os outros pensam que esquece o que realmente importa.

Lívia franziu o cenho, percebendo que suas palavras não estavam surtindo o efeito desejado.

— Vamos ver quem vai rir por último, Anne. — Com isso, Lívia saiu furiosa, batendo a porta atrás de si.

Anne ficou ali, sozinha, respirando fundo para conter as emoções. Sabia que aquilo não seria o fim dos ataques de Lívia, mas pela primeira vez, sentiu que tinha força para enfrentá-la. Afinal, ao lado de Noah, ela começava a entender o verdadeiro valor de suas conexões, muito além do que qualquer ameaça poderia destruir.

Anne entrou no seu quarto, trancando a porta atrás de si, e se jogou na cama, ainda tentando processar tudo o que havia acontecido. O eco das palavras de Lívia ainda ressoava em sua mente, mas algo dentro de Anne estava mudando. Ela sabia que não podia permitir que as palavras de sua irmã a dominassem.

Pegou seu celular e, com mãos trêmulas, mandou uma mensagem para Noah:

"Oi, Noah... Eu só queria agradecer, por tudo. Mesmo com tudo o que está acontecendo, eu me sinto mais forte. Você me faz ver o mundo de uma forma diferente."

Ela olhou para a tela por um momento, esperando uma resposta, sentindo o peso do silêncio se arrastar. Mas logo, a notificação de resposta apareceu.

"Eu que agradeço, Anne. Você é mais forte do que imagina. Não importa o que os outros digam, eu vejo o que você é. E quem se importa com o resto?"

Anne sorriu ao ler as palavras dele. Sentia-se segura com Noah, algo que não sentia há muito tempo.

"E quanto à Lívia? Ela ainda vai tentar arruinar tudo."

"Não vai conseguir. Eu estou com você, Anne. E não deixarei ninguém te machucar. Vamos seguir juntos, por mais que eles tentem nos separar."

Anne fechou os olhos, sentindo uma onda de calor e conforto tomar conta de seu corpo. Ela não estava sozinha. Pela primeira vez, sentia que alguém realmente a via, a entendia.

"Obrigada, Noah. Eu sei que é difícil, mas não quero que isso te cause mais problemas. Não se afaste de mim por causa disso."

Noah demorou um pouco para responder, e quando o fez, as palavras foram simples, mas repletas de sinceridade:

"Nunca vou me afastar de você, Anne. Você é mais importante do que qualquer coisa que tentem fazer contra nós."

Anne se sentiu aquecida com aquelas palavras, um pequeno sorriso se formando em seu rosto. Fechou os olhos por um momento, desejando que aquela conversa fosse o suficiente para que ela não tivesse que enfrentar mais nenhum tormento.

— Anne? — A voz da mãe veio através da porta, dura, mas controlada. — Preciso falar com você.

Anne suspirou, guardou o celular e abriu a porta. Quando a mãe entrou, seu rosto estava tenso e seu olhar penetrante.

— O que é isso, Anne? Eu te criei melhor do que isso! — a mãe começou, sem rodeios. — Vi você, discutindo com sua irmã sobre o filho da diretora Olga. Eu não acredito que você está se envolvendo com um menino como ele! Você tem noção do que isso vai fazer para a nossa reputação?

Anne sentiu a raiva subir, mas tentou manter a calma.

— Mãe, você não entende. Ele é diferente. Noah é... ele é uma pessoa boa, e ele me respeita. Não importa o que você pense dele — ela tentou argumentar, mas a mãe cortou.

— Não me venha com essas histórias, Anne! Ele não é da nossa classe, ele é... ele é de outro nível! Você é cega, não pode se dar ao luxo de se envolver com esse tipo de pessoa! — a mãe gritou, visivelmente irritada. — Eu já ouvi o que a sua irmã tem a dizer sobre ele. Eu sei que ela tem razão! Se você continuar com isso, vai ter que mudar de escola. Eu não vou permitir que você acabe com a nossa imagem!

Anne engoliu o nó que se formou em sua garganta. As palavras de sua mãe estavam doendo mais do que ela esperava. Como ela poderia entender? Como ela poderia explicar o que estava sentindo por Noah, se a mãe não queria sequer ouvir?

— Não é sobre imagem! Eu não me importo com isso. Eu só quero ser feliz! — Anne falou, o tom de sua voz subindo, mais forte do que ela imaginava.

A mãe olhou para ela com desdém.

— Você está sendo ingênua, Anne. Ele não vai te ajudar a ser feliz. Isso tudo é uma ilusão. Ele vai te magoar, e você vai acabar sozinha! — disse, com um olhar de frustração, virando-se para sair. — Eu vou te dar uma chance de voltar para o seu lugar. Não se envolva com ele de novo, ou vamos ter sérias consequências.

Anne sentiu uma dor aguda em seu peito ao ouvir aquelas palavras. O peso do desprezo da mãe estava esmagando seu coração.

A Garota Cega e o Filho da Diretora Onde histórias criam vida. Descubra agora