Capítulo: 33

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Becky narrando.

Dia 23 de dezembro de 2003

- Não, não, fica aqui, por favor... - eu dizia a ele sem deixá-lo ir embora.

- Any, eu preciso ir, tenho coisas pra fazer em casa.

Eu já não amava mais o Non, mas também não o odiava,a sua presença me alegrava, e me tirava um pouco da dor monótona.

- Preciso ir Becky, é sério... - eu meio sem querer,e meio querendo, abri a porta e o deixei sair.

- Tchau, seu feio... - ele riu.

- Não fica bravinha magrela... - preferi entender como um elogio, ele ia andando em passos suaves até o portão, chovia, mas ele não estava nem ai pra isso, fechei a porta e continuei o observando pelo ladrilho de vidro, eu poderia ter ficado com ele,poderia ter perdoado, mas eu acho que a Freen me ensinou alguma coisa a mais além de amar incondicionalmente,me ensinou a não perdoar.

Os pensamentos voavam, a chuva caia, e meus olhos captaram uma pequena imagem se elevando do fim da rua, era uma garota, estatura média, não há um traço certo para descreve-la e diferencia-la como única, exceto os cabelos, lindos cabelos, marrons avermelhados, como vários tons de vermelho misturados, feito terra. Ela corria, e eu não me interessei a principio, pois não sabia pra que direção ela ia, mas quando vi que estava vindo em direção a minha casa, curiosidade aguçou, eu não a conhecia, nunca tinha à visto, ou no momento que nos vimos, não estava claro o suficiente para reconhece-la. Deu a volta e foi para o meu quarto, eu não ia subir, até porque da porta dava pra ver o que ela ia fazer, não subiu, acho que ficou com medo, voltou para frente da minha casa,até o portão.

- Rebecca ? ! - era mamãe, não sei porque mas me assustei,o coração gelou na hora, foi muito legal da parte dela, me assustar pela primeira vez depois de tantos meses, eu respirei fundo e me apressei em fechar a portinha do ladrilho.

- Fala... -

-Tenho novidades.

- Que a senhora está falando comigo, ô meu Deus ! Eu não tinha percebido ainda... - eu não sei como consegui ser tão irônica, pois se soubesse o que estava pra vir, eu não teria ficado ali. Ela se sentou no sofá e cruzou as pernas, mulher de negócios, eu sabia, mas negócios comigo ? Senti medo, eu confesso, me aproximei sorrateira do sofá.

- O Non já foi ? - disse ela puxando as lentes para frente e observando alguns envelopes, eu também observava.

- Sim, já... qual é a dos papéis ? - eu já estava nervosa o suficiente para desmaiar.

Ela tirou os óculos num gesto suave, parecia calma demais, estendeu as cartas pra mim e suspirou.

- Acho que já fiz demais... pode escolher... - eu não entendia absolutamente nada do que ela falava,mas peguei os envelopes, ela se levantou.

- Se for pra gritar, grita grita baixo, ok ?

Fui rápida, e comecei a ler o conteúdo, agências de viagens, passagens para França, Los Angeles e Lituânia. vagabunda, ela não tinha desistido da idéia, eu sabia que ela não desistira tão fácil, quando os lobos se calam,não é porque a fome está saciada, e sim porque o plano está sendo feito, eu sabia que aquela maldita não desistiria, ela subia as escadas.

- O que você acha que fez ? Ta louca ? Eu não vou embora, vai você... - rasgava todos aqueles papéis com velocidade, eu estava enlouquecida de raiva.

- Ainda bem que essas são só amostras... as de verdade estão guardadinhas... você fala Francês muito bem, mas o inglês, você fala fluentemente... - eu não sabia quem era a louca agora, eu ou ela,ela tratava aquilo de uma forma tão banal, era da minha vida que estávamos falando.

- Vai se fuder! , eu não vou sair do Brasil, você é louca, a minha vida está aqui ! - do topo da escada ela sorriu, bruxa.

- Então me responda uma coisa, onde está a sua vida agora ? - um imenso pano preto caiu sobre mim, me deixando cega e sozinha na escuridão, onde está a sua vida agora ? aquilo soava inúmeras vezes na minha cabeça, eu sabia a quem ela estava se referindo, a garota Meminger, eu não sabia onde ela estava, mas com certeza estava por ai, feliz com a outra garota, sorrindo, já devia ter esquecido de mim, de nós, e eu era só um nome agora, daqueles que você pensa ter escutado uma vez ou outra, a dor mais uma vez veio me visitar, éramos vizinhas, mas ela bateu mais forte em minha porta dessa vez, e eu sem opções, abri. Ela esperou lágrimas, e eu as deixei cair, vontade feita, ela subiu pro quarto suspirando, a mãe que antes era companheira, sentia imenso prazer na minha dor, eu precisava de alguém, pra contar sobre o que se passava, pela primeira vez, eu não quis ficar sozinha com minha vizinha, eu quis alguém, pra me ouvir e me entender.



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Prévia do próximo capítulo

A chuva engrossava cada vez mais, e nada da Samantha chegar, além de ter que lidar com as fofocas da Ingrid, e as pegações das duas na minha frente, tínhamos que lidar com o sumiço da Sam, garota louca.

FreenBecky • Sou bem mas que sua Friend • VisionOnde histórias criam vida. Descubra agora