Capítulo 4

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"Vou te levar pra conhecer minha cidade
Fica à vontade, mi casa é su casa"
Lagum — Nem Vi Que o Tempo Voo

Pedro estava bem mais animado do que gostaria de admitir. O mês até a viagem do grupo até a sua cidade passou devagar demais, o dando mais tempo para criar mil cenários sobre esse encontro. Mesmo que amasse os lugares, morria de medo de decepcionar os amigos. E João. O loiro parecia ter um peso nos seus pensamentos, mesmo que eles não se falassem diretamente nesse tempo, mantendo apenas uma boa conversa no grupo de mensagens. Pedro não sabia se era suficiente. Seus sentimentos pelo paulista ainda eram uma incógnita para si e aquilo assustava demais o mineiro. Sempre foi bom em entender seus sentimentos, mas a forma como seu corpo reagia às lembranças de João ainda o deixava confuso. Muito tesão, mas muita ansiedade e timidez. Não sabia ainda qual parte estava ganhando no seu coração, a boa ou a ruim.

Como uma brincadeira do destino, dessa vez, foi o ônibus de Malu que se atrasou, e muito. Os planos da manhã foram completamente arruinados com a chegada dos amigos apenas no final da tarde, mas Pedro torcia para que o bar que os levaria a noite fosse o suficiente para esquecerem o estresse do dia.

Quando chegaram no apartamento onde todos ficariam, Pedro correu para pegar um quarto longe de João Vitor. Por sorte, conseguiu uma cama ao lado de Renan e Giovana, agradecendo por não precisar ficar de vela para Marília e Zebu. Os dois haviam acabado de assumir estarem se conhecendo mais intimamente e Pedro sabia que isso envolveria conhecer sons íntimos demais se estivesse no mesmo quarto que eles.

𖤐

Pedro estava surpreso com a forma como as coisas eram fáceis com o grupo. Mesmo todos tendo que dividir um banheiro, apenas um ventilador está funcionando e o dono da casa não ter sido muito receptivo na chegada deles, ninguém pareceu se importar. As risadas preenchiam os quartos enquanto copos e cigarros circulavam no início da noite. Os paulistas pareciam estar muito animados para conhecer a capital dos bares, e a diversão começou antes mesmo deles saírem de lá.

Mesmo correndo de João, Pedro teve que dividir o Uber com ele. E, para piorar, Renan foi no banco da frente, obrigando os dois a ficarem sozinhos na parte de trás do carro. Tentou se distrair com a paisagem que passava na janela, mas João não parecia ter a mesma timidez que Pedro, fazendo milhares de perguntas sobre a cidade.

— O que você mais gosta de fazer aqui? — perguntou Romania, genuinamente interessado.

— Hm — Pedro pensou um pouco. Não queria parecer bobo demais, mas não saia há muito tempo. — Gosto muito de ir no parque que tem do lado da minha faculdade. É. Acho que gosto muito de lá. Me faz sentir em paz.

João respondeu com um sorriso sincero. Pedro se sentiu estranho e vulnerável. Não sabia porque queria tanto passar uma boa impressão para o loiro ao seu lado.

— Olha! — apontou João para um monumento no meio da avenida. — O que é aquilo?

— É o pirulito da praça sete.

— Praça? — o rosto de João se fechou em uma expressão de dúvida. Não via nenhuma praça ali, apenas um cruzamento.

— Não me pergunte, apenas é! — Pedro levantou as mãos se rendendo.

— Mineiros são realmente uma coisa... — comentou João baixinho. Não sabia ainda se era algo bom ou ruim, mas tinha a certeza que o moreno do seu lado era uma ótima companhia, mesmo que parecesse fugir dele.

O restante da viagem se passou em silêncio. Pedro, Renan e João foram os primeiros a chegarem no bar e logo pediram a primeira rodada de cerveja. Quer dizer, Renan e João pediram. Tófani detestava o gosto amargo da bebida. E, pior: ele também tinha alergia, mas agradecia sempre por poder usar como justificativa quando lhe ofereciam aquele líquido nojento.

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