C.6: Abraço da tempestade

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Liana📸

Peguei minha mochila ajeitando meus fones aumentando a música, eu precisaria atravessar o campus para a minha aula prática e não poderia perder essa aula por nada.

A chuva caía como uma cortina de prata sobre o campus, e eu me apressava, segurando a mochila contra o peito, tentando não deixar o meu laptop molhar. Saltava de poça em poça, mas a cada passo eu ficava mais encharcada. Estava tão perto do corredor para entrar na sala, e a ideia de revisar minhas anotações antes da aula de jornalismo me animava. Ser uma grande repórter era meu sonho, e nada, nem mesmo aquela chuva teimosa, me faria desistir.

Foi então que ouvi uma voz familiar.

— Ei, Liana! — Olhei para o lado e vi o Nikolas vindo na minha direção. Ele segurava um guarda-chuva enorme, e o sorriso que ele me deu fez meu coração dar um salto.

Era o Nikolas, do time de futebol. Ele, que tinha toda a atenção do campus e, de alguma forma, nas últimas semanas, havia decidido me notar. Nós que só havíamos "conversado" na entrevista, mas eu jamais imaginei que ele cruzaria o campus só para me ajudar na chuva.

— Parece que você tá precisando de ajuda — ele disse, rindo, enquanto se aproximava e segurava o guarda-chuva sobre mim. Tentei não parecer tão surpresa, mas foi inútil.

— Ah... tô bem, na verdade. Mas obrigada — respondi, apressada demais, tentando esconder o quanto aquilo tinha me deixado surpresa e estranha em relação a sua atitude.

Ele riu de novo, balançando a cabeça, e parecia tão à vontade, como se fosse a coisa mais normal do mundo me acompanhar.

— Não vou deixar você atravessar o campus nessa tempestade sozinha — ele insistiu, me olhando de um jeito que fez meu estômago se revirar. — Vamos lá, a sala não é tão longe.

E, antes que eu pudesse protestar, ele já estava caminhando ao meu lado, segurando o guarda-chuva sobre nós dois. A chuva caía, abafando os sons ao nosso redor e criando uma sensação estranha de isolamento, como se estivéssemos em uma bolha só nossa. Senti meu rosto esquentar, tentando não encará-lo, mas era impossível não notar sua presença, a segurança que ele transmitia.

— Então, você está escrevendo sobre o próximo jogo? — ele perguntou, puxando assunto, e eu olhei para cima para o seu rosto, assentindo.

— Sim, mas... eu queria escrever sobre algo mais importante, sabe? Algo que realmente signifique alguma coisa — confessei, surpresa por me abrir tanto. Normalmente, eu era quem observava e fazia perguntas, não o contrário.

Para minha surpresa, ele não riu nem me olhou de um jeito estranho. Ele apenas me observou por um momento e sorriu de volta, com uma expressão séria.

— Eu acho que você vai conseguir. Você é talentosa e determinada — ele disse, com uma sinceridade que fez meu coração disparar. Era tão raro ouvir alguém falar assim de mim, com tanto... entusiasmo, como se realmente acreditasse nisso.

Quando chegamos à entrada da sala, ele diminuiu o passo, relutante em me soltar, ou talvez fosse só minha imaginação. Mas o silêncio entre nós foi quase um lamento.

— Obrigada, Nikolas, de verdade — murmurei para ele, tentando parecer calma. Ele retribuiu com um sorriso, mas com aquele toque travesso no olhar.

— De nada, Liana, mas... da próxima vez que chover, quem sabe eu precise de ajuda também — ele brincou, e com um último aceno, se afastou, atravessando o campus de volta, desaparecendo sob a chuva.

Fiquei ali, parada na entrada, observando-o enquanto ele se afastava. Havia algo nele que aquecia o ar frio e úmido daquela tarde. E naquele instante, percebi que talvez ele fosse mais que apenas o garoto do time de futebol. Talvez, de alguma forma, ele enxergasse em mim algo que nem eu mesma conseguia ver.

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑛𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑠𝑒𝑢Onde histórias criam vida. Descubra agora