C.7: Olhares que persistem

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Liana📸

A chuva escorria pelo vidro da janela da sala de aula, formando pequenos rios que se cruzavam e desapareciam na moldura. A professora falava sobre ética no jornalismo, mas, para ser honesta, eu não estava nem um pouco concentrada, minha mente insistia em voltar para a cena de horas atrás, o que foi aquilo?

— Senhorita Bennet, você poderia nos dar sua opinião sobre a imparcialidade no jornalismo esportivo? — A voz da professora me fez voltar de repente para a realidade, respirei fundo ao perceber todos os olhares voltados para mim.

— Ah... sim, professora — comecei, improvisando. — Eu acho que a imparcialidade é essencial, claro, mas o jornalista também precisa ir além e contar as histórias humanas dos atletas, mostrar que eles têm vidas, sonhos, desafios fora do campo. Às vezes, essas histórias conectam mais as pessoas.

A professora assentiu, parecendo satisfeita com a resposta, suspirei de alívio, sentindo o coração desacelerar, voltei a olhar para a janela, deixando a feição mudar para desentendida.

Por que raios ele deu aquele sorriso? Por que tanta a proximidade? De onde ele veio para saber que eu estava indo para a aula?

...

Nikolas🏆

O campo estava molhado da chuva que tinha caído mais cedo, e a bola escorregava fácil, dificultando o treino. Eu chutava, corria, driblava, mas minha cabeça estava em outro lugar. Bom, na verdade, em outra pessoa.

A imagem dela era clara na minha mente: Liana, a garota que me entrevistou no último jogo da universidade no início da semana, eu nunca tinha prestado muita atenção em entrevistas depois dos jogos, eram sempre as mesmas perguntas — como foi o jogo, o que você achou do desempenho do time. Mas com ela foi diferente.

Na hora, eu estava suado, exausto, com a respiração ainda descompassada. Só queria responder logo e sair dali, mas, quando a Liana falou meu nome e olhou para mim com aqueles olhos de quem sabia o que estava fazendo e perguntando, me senti preso no momento. Ela queria saber o que eu sentia, não apenas o que eu fazia.

Por alguns segundos, fiquei em silêncio, foi como se ela realmente quisesse algo além de só fazer perguntas para jogadores. Respondi algo meio automático, tentando soar profissional, mas por dentro a pergunta dela me fez pensar, o que eu poderia falar a mais acabando de voltar de um intercâmbio.

Agora, enquanto eu corria pelo campo, lembrava das palavras que ela disse no final da entrevista. "Você é realmente apaixonado pelo que faz, Nikolas, dá para ver nos seus olhos." Aquele comentário tinha ficado comigo o resto dia inteiro, ecoando cada vez que eu pensava em desistir quando o treino ficava pesado.

— Nikolas! Foco, garoto! — gritou o técnico, me arrancando dos pensamentos. Balancei a cabeça e tentei me concentrar na bola, no chute, no drible. Mas em cada pausa rápida entre as jogadas, era o rosto dela que surgia na minha mente. Como será que ela estava? Está pensando em mim como estou pensando nela? Por que estou pensando nela?

Eu não sabia exatamente por que, mas a ideia de que eu estava tão interessado nela me fazia perder o foco do treino.

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑛𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑠𝑒𝑢Onde histórias criam vida. Descubra agora